Grand tour, de Miguel Gomes, um filme capaz de fazer milagres

Por Alonso Díaz de la Vega Entre as cenas do cinema que mais me comove está a de uma multidão de crianças que, extasiadas, assistem a um espetáculo de marionetes em Os incompreendidos (1959). François Truffaut se concentra nos rostos dos pequenos, e assim os planos abrangem o que parece ser uma infinidade de sorrisos desdentados, de olhos brilhantes, assustados ou até entediados. De repente, atravessa um plano com dois meninos mais velhos, Antoine Doinel (Jean-Pierre Léaud) e seu melhor amigo, René Bigey (Patrick Auffay), que planejam um furto sem prestar muita atenção aos bonecos que narram aparentemente o desfecho de “Chapeuzinho Vermelho”. O papel dos protagonistas é semelhante ao do crítico, que não deve se deixar ficar muito impressionado, enquanto as outras crianças representam o público ideal: aquilo que veem (mãos disfarçadas de lobo e outros personagens) é claramente falso, mas as crianças presumem que seja real; algumas parecem que vão chorar, enquanto outras gritam d...