Anora, Cinderela sem sapatinho

Por Carlos Rodríguez Trabalho sexual é trabalho, diz uma frase que se repete insistentemente na tentativa de dar dignidade à atividade de troca econômica por sexo. De certa forma, o slogan adere à ideia, já um tanto capciosa, e esta ao filme, de que o trabalho dignifica o homem. À primeira vista, Anora esquece seu trabalho como stripper e acompanhante e se apaixona por um de seus clientes quando ele também se apaixona por ela. As diferenças entre os dois não importam, pelo menos no começo. Não importa que ele seja um pouco mais novo que ela. Nem que seja russo, filho de uma família milionária, e ela seja uma garota que aluga um apartamento pouco atraente no Brooklyn. Por que viver para trabalhar se viver pode ser uma fantasia? Para falar do cânone da prostituta no cinema, devemos pensar em Anora (2024). Mas Anora não é tão ingênua quanto a jovem Julia Roberts em Uma linda mulher (1990), nem tão desconfiada e assustadiça quanto Holly Golightly (Audrey Hepburn) em Bonequi...