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Misericórdia, de Lídia Jorge

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Por Gabriella Kelmer Lídia Jorge. Foto: José Fernandes   A filha escritora revela à severidade materna que escreve sobre perdedores por ser como um cão sob a mesa, aguardando os restos — as migalhas, os resquícios — de um opulento banquete de que só pode e deseja participar a partir de um posto de observação subalterna. Justifica, nesse ímpeto, a produção de uma literatura não apenas desprovida de finais felizes, mas também atenta aos esquecimentos e silenciamentos da história. A mãe, inconformada de ouvir a filha dizer-se em termos tão indignos, argumenta a favor dos grandes homens e dos inesquecíveis feitos. Desentendem-se as duas personagens, por um tempo, e fica evidenciado como é diverso o que esperam do mundo e o que veem de si mesmas.   Misericórdia , o romance mais recente da portuguesa Lídia Jorge, publicado no Brasil em 2024, pode ser compreendido como a adoção do olhar crítico daquela mãe, todavia articulado pelo método da filha, com uma visão escafandrista da inti...