M. F. K. Fisher: escrever por fome
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Por Bárbara Mingo Costales M. F. K. Fisher. Foto: Paul Harris “Foi então que descobri os gomos de tangerina secos. O prazer que me dão é sutil, voluptuoso e totalmente inexplicável. Só preciso explicar como os preparo.” Em seu livro Serve it Forth , de 1937, a escritora estadunidense M. F. K. Fisher parte do seu “secreto gosto” culinário pelos gomos de tangerina aquecidos em um aquecedor e depois deixados no frio fora de casa — Estrasburgo em sua memória. Eles devem ser consumidos logo em seguida. O capítulo, cheio de vivacidade, ocupa apenas três páginas; por um lado, há o enorme mérito de extrair setecentas palavras de algo tão modesto e, por outro, é surpreendente a capacidade de concentrar tamanha quantidade de informação e evocação em um espaço tão pequeno. Se nos desculparmos pela tediosa alusão à madeleine, uma associação com Proust não seria tão superficial quanto poderia parecer. Além do poder de um sabor mais ou menos cotidiano como gatilho para emoções evocativas, há a deter...