Sete poemas de “Poemas Sin Nombre” (1953), de Dulce María Loynaz
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Por Pedro Belo Clara I. Solidão, solidão sempre sonhada… Amo-te tanto que às vezes temo que Deus me castigue um dia enchendo-me a vida de ti… Ontem quis subir a montanha, e o corpo disse não. Hoje quis ver o mar, descer à luminosa enseada, e o corpo disse não. Estou desconcertada ante esta obscura resistência, esta inércia que me contrapesa a vontade não sei a partir de que lugar e me sujeita, me solda a invisíveis grilhões aos pés. Até agora palmilhei todos os meus caminhos sem nunca me dar conta de que eram justamente esses os pés que me levavam, e enchi-me de todas as paisagens sem nunca me aperceber se me entravam pelos olhos ou se as levava já comigo antes de se desenharem no horizonte, e nutri luzeiros, sonhos, almas, sem reparar que as minhas próprias veias se esvaziavam do seu próprio sangue. Agora pergunto-me que estrela virá a espremer-se gota a gota no coração exausto, que fonte haverá para lhe dar de beber como ao animal cansado… Pergunt...