Outono de carne estranha, de Airton Souza
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Por Henrique Ruy S. Santos Airton Souza. Foto: O Liberal (Reprodução) A visão de uma cava é assombrosa. A carne da terra penetrada a céu aberto pelas ferramentas do homem guarda algo de obsceno e de violador. Nos deixa com a impressão de que certas entrâncias, certos sulcos obscuros do solo escavado não foram feitos para serem vistos, muito menos expostos a céu aberto. A grandeza do espetáculo provoca um pudor primal que nos invade e suspende, brevemente, qualquer consciência espacial e temporal que pudesse, porventura, nos apontar causas, modos e motivações humanas por trás do que nos é dado ver. Outono de carne estranha , romance vencedor do prêmio Sesc de 2023 e escrito pelo paraense Airton Souza, parte, em determinada medida, desse mesmo assombro diante do fenômeno do maior garimpo a céu aberto durante os anos 1980, Serra Pelada. As determinações sociais e econômicas que fizeram com que milhares de homens e mulheres se dirigissem a uma cratera de mais de 20 mil metros ...