As planícies, de Gerald Murnane
Por Gabriella Kelmer Há uma região na Austrália que recebe o nome de planícies centrais. Seu clima é árido ou semiárido — dado que busquei tão logo chegou às minhas mãos o romance As planícies , de Gerald Murnane — e embora não seja tão fundamental ao argumento central do romance quanto se sugeriria o título da obra, a região é transmutada do país real. Não é da experiência territorial de que fala o autor, ou, antes, sendo também uma consequência do contato com uma paisagem incalculavelmente extensa e estéril, o romance traduz, a partir de motivos filosóficos, metafísicos e artísticos, a jornada de imersão de um estrangeiro na vida singularíssima do chamado “homem das planícies”. Traduzida por Caetano W. Galindo e publicada no Brasil pela primeira vez apenas em 2024, embora tenha sido lançada originalmente em 1982, a obra, de uma linguagem reflexiva e academicista que articula simultaneamente um lirismo contido, é curiosíssima. Estabelece, na perspectiva de um cineasta com...