Emilia Pérez ou de como o imaginário colonial caricaturiza a violência
Por Alonso Díaz de la Vega Só para ser do contra. Apesar do que se diz nas redes sociais, Emilia Pérez (2024) pretende ser um filme musical sobre como o passado se impõe diante das boas intenções de uma pessoa reformada: uma tragédia, portanto, que a princípio não busca anular os crimes da protagonista nem alcançar sua redenção. Além disso, embora o diretor Jacques Audiard tenha declarado não ter pesquisado o México antes de rodar um filme sobre a catástrofe deste país, alguém o fez; caso contrário, como essa produção francesa saberia sobre as caçambas de ferro velho, cujo som se torna uma canção no início da trama? Concedidos alguns pontos aos seus defensores, agora me sinto compelido a contradizê-los: bem escreveu T.S. Eliot: “Entre a ideia / E a realidade / Entre o movimento / E o ato / Cai a sombra”. Nós, mexicanos, mais inclinados para o provérbio, dizemos que do prato à boca, cai a sopa”. Que há uma tragédia esboçada no filme e que há uma pesquisa sobre seus temas é palpável. Qu...