Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum
Por Henrique Ruy S. Santos Milton Hatoum. Foto: Cairo Vasconcelos O mito sempre foi a matéria-prima de Milton Hatoum. Com uma obra tão arraigada espacial e culturalmente na região Norte do Brasil, principalmente o Amazonas, o autor sempre se esquivou da pecha de regionalista — por vezes lançada a modo de ofensa por mentes fechadas e esteticamente conservadoras — ao recorrer aos ditos “temas universais” e, acima de tudo, a arquétipos narrativos e tropos clássicos sempre bem aproveitados: a rivalidade entre irmãos, as possíveis relações incestuosas, as fortes figuras maternas etc. No melhor de sua produção ( Relato de um certo oriente , Dois irmãos ), o aproveitamento do conteúdo é sempre caracterizado pela paciência e pelo cuidado meticuloso com as vozes narrativas. O recurso hoje algo banalizado a diferentes narradores em um único romance, por exemplo, nas mãos de Hatoum é empregado não pela simples obtenção de efeitos-surpresa, mas pela criação de um painel de vislumbres,...