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Em voz alta

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Por Alejandro Zambra André Kertész. Velho lendo . Japão, 1968.   Às vezes penso que uma obra literária só é boa se passa no teste de ser lida em voz alta, submetida à paciência alheia ou ao irritadiço ouvido próprio. Por isso gosto dos audiobooks, que recuperam o antigo costume de escutar as palavras, de receber também o ritmo, a postergada música da narração. Em seu ensaio Uma história da leitura , Alberto Manguel lembra que a leitura silenciosa se estabeleceu somente no século X, já que até então se entendia que ler era ler em voz alta. Na Antiguidade as bibliotecas eram espaços ruidosos. Acreditava-se que o ato de ler comprometia a visão e o ouvido, daí ser impensável a imagem do leitor isolado, que veiculava até mesmo um misterioso egoísmo. Há beleza, para nós, por outro lado, na imagem do leitor solitário. Lembro-me de um companheiro de curso que ia de tarde à Biblioteca Nacional não para ler, mas para observar os outros lendo. Ele, na verdade, não gostava de ler, e valia-se d...