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Christopher Isherwood. Foto: George Platt Lynes |
LANÇAMENTOS
Romance mais conhecido de Christopher
Isherwood ganha nova tradução e edição no Brasil pela Companhia das Letras.
Em 1929, o escritor britânico
Christopher Isherwood viajou por dez dias a Berlim, onde esperava encontrar a
liberdade sexual ausente em sua terra natal. O curto período que passou na
Alemanha foi tão impactante que decidiu se mudar de vez para lá em novembro do
mesmo ano. Sua vivência na época da República de Weimar inspirou
Adeus a
Berlim, obra semiautobiográfica que pincela diferentes personagens da
cidade efervescente enquanto a ameaça nazifascista crescia a olhos vistos. As
diferentes criaturas que cruzam o caminho do protagonista — uma dona de pensão
fofoqueira, uma família de judeus endinheirada, sob o risco crescente do
antissemitismo, e, por fim, um homem enciumado com a atenção que o namorado
recebe nas noites da cidade — ajudam a compor um panorama no qual a melancolia
é escondida por uma frágil fachada de coquetéis e cabarés. A nova tradução é de
Débora Landsberg.
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O novo romance do autor de O colibri. A história de um verão que muda tudo.
Sandro Veronesi narra o amadurecimento de um garoto de doze anos, Gigio
Bellandi, durante um verão na Versilia, em 1972: a descoberta da música, da
leitura, da inquietação, do desejo, do amor — e, depois, a interrupção
impensável e fulminante de tudo isso. O autor reconstrói as imagens, os
cheiros, as cores e os sons que animavam aquela vida perdida e, com certa
nebulosidade, porque vivido sem muitas explicações, reconstrói também o evento
irreversível que a devastou. Ambientado entre as praias da Toscana e as
memórias de uma infância feliz, Setembro negro narra a perda da
inocência e o impacto das primeiras grandes dores. É uma história sobre
amadurecer cedo demais e sobre o poder evocativo das palavras. Tradução de
Karina Jannini. Publicação da Autêntica Contemporânea. Você pode comprar o livro aqui.
O único romance da escritora
austríaca Ingeborg Bachmann ganha tradução e edição brasileiras.
Considerada uma das figuras mais
importantes e complexas da literatura de língua alemã do pós-guerra, Bachmann
foi uma escritora visionária que explorou com intensidade temas como a
identidade feminina, a linguagem, a violência e o amor. Parte do Grupo 47,
Bachmann tem sua escrita fortemente marcada pela mistura de melancolia e
fragmentos do passado. Ingeborg Bachmann escreveu
Malina,
seu único romance, para que fosse o primeiro volume de uma trilogia nunca
finalizada. De modo poético, e com atmosfera enevoada, é narrado por uma mulher
que, através de memórias e sonhos, traz à luz muito do que se esconde nas
sombras: a subjetividade e trauma femininos, a violência masculina, um peculiar
triângulo amoroso. Bachmann, de vida tão trágica, opera um salto mortal neste
romance que virou as letras austríacas de ponta-cabeça. A tradução da obra
ficou a cargo de Carla Bessa. Além de Ingeborg Bachmann, traduziu outros
autores de língua alemã como Max Frisch e Thomas Mann. Também é autora de
ficção, com destaque para o livro de contos
Urubus, que foi traduzido
para diversas línguas, ganhou o prêmio Jabuti e ficou em segundo lugar no
Prêmio Clarice Lispector, promovido pela Biblioteca Nacional. A publicação de
Malina
oferece uma excelente oportunidade para revisitar e redescobrir a genialidade
de Ingeborg Bachmann. O livro sai pela Estação Liberdade.
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A estreia de Caetano Romão no
romance.
Em uma cidade na zona rural, de
terra vermelha e com uma figueira num descampado, dois irmãos agora órfãos
enterram a mãe. Simão, o mais velho, é dado às marras e confusões e protege o
caçula, mais sensível, das hostilidades alheias. O menor é gago e, embora não
consiga pronunciar trava-línguas, narra o romance em capítulos curtos com seu
pensamento “sem rebarba” e uma linguagem única, que situa Caetano Romão entre
os grandes prosadores de sua geração. Um dos irmãos tem como amuleto o nome
gravado no arroz, o outro não desgruda de seu baralho. Os dois têm casa,
caminhonete, gato e um ao outro, pois, como afirma Andrea del Fuego na orelha
do livro, “o afeto é um jeito de esquecer a terra que aguarda seus corpos”. Eles
estão unidos pelo ritmo do cotidiano e coreografam seus gestos, sombras e
mistérios até que começam a escutar vozes vindas do ventre da terra,
ininteligíveis e inexplicáveis, e a lógica da proteção se inverte. Simão começa
a padecer de certo mal invisível, enquanto o caçula-protagonista se encarrega
de curá-lo. Minucioso na limpeza e arrumação, o narrador é o responsável pelos
cuidados da casa, por manter a ordem, a compreensão, a sagacidade diária. O que
era fragilidade pouco viril torna-se triunfo. Mas o mundo dos sentidos
explícitos não é o deste
Escrevo seu nome no arroz. Romance de estreia
de Caetano Romão, este livro é muito mais uma ode às linguagens, ou, como
chamou Edimilson de Almeida Pereira, uma “alquimia ficcional”. Por sua prosa
poética e bem-humorada, somos levados para a oralidade dos recantos do país,
engolfados em um solo fértil de sabedoria popular, superstições, encantos e
horrores que pairam nos quintais. Seja pelas traquinagens dos gatos, pelas
curas com banhos, xaropes, unguentos e fés não ditas, seja pelos personagens
que pegam carona no alumbramento da paisagem, o livro nos povoa de feitiços: os
da língua e os sobrenaturais. Publicação da editora Fósforo.
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Obra passa em revista a
tradição do poema em prosa na literatura brasileira.
Antologia do poema em prosa no
Brasil reúne uma centena de poetas e mais de duzentos poemas, abrangendo
quase um século e meio de história literária. O mais importante, porém, é que
se volta para um modelo comum na modernidade, mas pouco comentado pela crítica:
o poema em prosa. Criado por Charles Baudelaire, em meados do século XIX,
tornou-se uma forma de escrita em que a poesia se exime de formalismos prévios
e aventura-se na expressão livre. Fernando Paixão se lançou ao desafio de
traçar as linhas de força desse tipo de escrita na poesia brasileira, do século
XIX à atualidade. O resultado surpreende, pois revela um panorama diferente da
conhecida tradição. Modelo exaltado pelos poetas simbolistas, foi pouco
praticado pelos modernistas e ganhou evidência com os autores da poesia
marginal dos anos 1970, quando passou a frequentar sem protocolos os livros de
poesia. No século XXI, entrega-se à autoironia e à fragmentação.
Antologia do
poema em prosa no Brasil mapeia um capítulo especial da literatura no país.
E oferece ao leitor a oportunidade de descobrir um território original e
insuspeito. Sem receio de mesclar prosa com poesia. O livro tem ilustrações de
Sergio Fingermann e sai pela Ateliê Editorial e a Editora Unicamp.
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Livro reúne toda a obra poética
de Mario Chamie e mostra uma obra poética tão ligada à hoje vanguarda poética
pós-modernista quanto única, inovadora e indispensável, dando-lhe lugar
reservado entre os grandes poetas brasileiros contemporâneos e de todos os
tempos.
Publicado originalmente em 1977, a
antologia contém os nove livros de poesia publicados por Chamie, com alterações
significativas, feitos pelo próprio autor, em revisão. É, assim, a versão
definitiva da obra poética do autor. Destaca-se
Lavra Lavra, vencedor do
Prêmio Jabuti em 1962, aclamado por público e crítica.
Objeto selvagem
traz ainda dois títulos que permaneceram inéditos e foram somente publicados
dentro desta poesia completa:
Configurações (1956) e
Conquista de
terreno (1968).
A editora Assírio
& Alvim Brasil traz ainda nesta edição um ensaio analítico do professor de
literatura brasileira Pedro Marques que serve também como um roteiro ou apoio
de leitura. Divergindo do movimento concretista, ao qual se associava no
princípio, Chamie fez uma poesia menos visual (ao gosto dos “concretos”) e mais
poética, no estrito senso da poesia, cujo pilar é a palavra, ainda que também
planejada para ocupar visualmente o espaço em branco, como uma instalação. O
neologismo, característico do concretismo, está lá. Com a palavra, tijolo após
tijolo, Chamie descreve e reconfigura a realidade, tal como a concebe, numa
visão cosmogônica. A tarefa de ressignificação das palavras e a construção
poética, que ele chamou de “práxis”, permite rever todos os elementos da vida e
dos fazeres humanos: a cidade, o campo, a indústria, os ofícios, a política. Com
isso, Chamie tornou-se um poeta visionário do capitalismo brasileiro em sua
época — e de todas as épocas, ao transparecer a essência não apenas do Brasil,
como do ser humano, que toma corpo em sua obra como o verdadeiro
homo faber.
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Uma viagem mística ao coração
primitivo da música e da dança; uma jornada lisérgica e emocional que é, ao
mesmo tempo, a busca por um pai e por um sentido de pertencimento em um mundo
que só conhece a perda e o desamparo.
Ano 5540 do calendário andino. Noa
decide fugir de Guayaquil, onde nasceu, com sua melhor amiga Nicole, para
participar do Ruído Solar, um festival que, todos os anos, reúne, durante oito
dias e sete noites, milhares de jovens — entre músicos, dançarinos, poetas e
xamãs - aos pés de um dos muitos vulcões dos Andes. Ficam para trás as
famílias, a violência das cidades, e se descortina uma paisagem alucinada que
treme ao ritmo da música e das erupções vulcânicas sob um céu riscado por
meteoritos. Para Noa, essa será a primeira parada antes de reencontrar o pai
que a abandonou quando criança e que, há anos, vive nas florestas altas - um
território onde também se escondem os desaparecidos, aqueles que um dia subiram
ao Ruído e nunca mais voltaram para casa. Sustentado por uma lírica
extraordinária, uma estética deslumbrante e muito senso de ritmo,
Xamãs
elétricos na festa do sol é publicado pela Autêntica Contemporânea;
tradução de Silvia Massimini Felix.
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O livro vencedor do Prêmio
Booker de Ficção em 2024 chega aos leitores brasileiros.
Quatrocentos quilômetros acima da
Terra, quatro homens e duas mulheres ― dos Estados Unidos, do Japão, da
Inglaterra, da Itália e da Rússia ― compartilham a estação espacial
internacional. Em um período de vinte e quatro horas, a uma velocidade de vinte
e oito mil quilômetros por hora, eles dão dezesseis voltas ao redor do planeta.
Cada órbita é um capítulo breve deste tour de force de beleza contemplativa: da
calculada rotina espacial de cada um dos astronautas e cosmonautas ― os exames
de sangue diários, os experimentos científicos ―, das implicações emocionais
com aqueles que deixaram na Terra ― a morte de um familiar, um casamento sem
amor ― e dos diálogos mais ou menos reveladores entre eles,
Orbital extrai indagação filosófica e instantes de arrebatamento. Com uma pesquisa
profunda e um repertório poético transbordante, Samantha Harvey lança sobre o
planeta e a humanidade ― tão poderosos, tão frágeis ― um olhar afetuoso: um
astronauta é “um animal que não apenas testemunha as coisas, mas ama o que
testemunha. Tradução de Adriano Scandolara e edição da editora DBA.
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Voltar a quando um país se viu
no direito de experimentar a extinção da vida humana na terra.
Decorridos 80 anos dos ataques a
Hiroshima e Nagasaki, este curto e poderoso livro permanece mais atual do que
nunca. Em
A bomba, dois ensaios são justapostos: “Hiroshima: Quebrando o
silêncio” e “O bombardeio de Royan”. Com seu sólido domínio historiográfico,
Howard Zinn narra o processo de criação e uso de bombas atômicas e bombardeios
indiscriminados de cidades europeias, condensando sua experiência pessoal e os
relatos das vítimas na construção de uma crítica feroz aos argumentos centrais
do militarismo. Publicação do Selo Manjuba/ Mundaréu; tradução de Bruno
Cobalchini Mattos.
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Mais um livro de Annie Ernaux.
Agora, o relato da sua primeira experiência sexual aos dezessete anos.
Aos dezessete anos, a jovem Annie
deixa sua cidade natal para trabalhar como monitora numa colônia de férias na
Normandia. É ali que vive sua primeira experiência sexual, em uma noite que
deixaria nela uma marca indelével. Em
Memória de menina, mais de
cinquenta anos depois, Ernaux mergulha no verão de 1958 para tentar acessar
aquilo que gostaria de esquecer, mas que sabe estar na origem de quem ela se
tornou, e também de seu trabalho como escritora. Com minúcia, ela tenta
reconstruir a si mesma e o contexto da época para chegar ao coração da
experiência tal como a viveu, e que a assombrará por tanto tempo. “Aquela menina de 58, que passados
cinquenta anos é capaz de surgir e provocar um colapso interior, vive,
portanto, em mim com sua presença escondida, irredutível. Se o real é aquilo
que age, produz efeitos, segundo a definição do dicionário, essa menina não sou
eu, mas ela é o real em mim. Uma espécie de presença real.” É assim que Ernaux
se dedica a alguns dos temas mais dolorosos de sua obra, decorrências da
memória primordial que dá nome ao livro. Depois daquela noite, ela testemunhará
no próprio corpo os efeitos do trauma: a interrupção súbita da menstruação e um
transtorno alimentar — numa época em que não havia com o que nomeá-lo. A isso
se somam outras dificuldades comuns às jovens de seu tempo: uma dolorosa tomada
de consciência e internalização do seu lugar na sociedade, expressa no abandono
das ambições acadêmicas e em angústias quanto ao futuro profissional. Ao mesmo
tempo, a jovem Ernaux descobre O segundo sexo, de Simone de Beauvoir, e a
dimensão política de seus problemas pessoais. Lemos o seu despertar para o
feminismo, que a ajuda a encarar, mesmo que com limitações, sua condição: “ter
recebido as chaves para entender a vergonha não confere o poder de apagá-la”. Atenta
à forma como os fatos históricos e as experiências vividas depois do verão de
1958 moldam sua visão sobre a época, Ernaux empreende uma das incursões mais
profundas de sua constante reflexão sobre a temporalidade, fazendo de
Memória
de menina um ponto luminoso de sua obra. Tradução de Mariana Delfini;
publicação da editora Fósforo.
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Marília Garcia reúne material
farto de reflexões sobre poesia para qualquer um que se interesse pelo ofício.
Mais do que crítica literária, estes ensaios se definem por um desejo de
transmitir a experiência da escrita poética.
“Em muitos de seus poemas
instigantes e refinados, Marília Garcia é uma poeta-ensaísta que cerca o seu
tema com indagações sem fim. Neste ‘Pensar com as mãos’, reunião de ensaios
breves sobre poesia, revela-se uma outra (mesma?) face da autora: a da ensaísta
tout court. Perspicaz, bem-informada e guiada por uma curiosidade irresistível,
ela se pergunta se ainda é possível usar uma palavra tão gasta como ‘coração’,
discute a importância de escrever contra a própria poética, compara traduções
de Baudelaire, aproxima a poesia de outros gêneros (não só textuais), analisa
procedimentos de autores contemporâneos, interessa-se enfim por uma variedade
impressionante de assuntos ligados à arte do verso. ‘A verdadeira condição
humana/ é a de pensar com as mãos’, diz o poema de Godard que dá título ao
livro. Ler estes textos é ver a poeta-leitora em ação, com a mão na massa.”
(Fabrício Corsaletti)
Pensar com as mãos sai pela Martins Fontes.
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Hélio Pellegrino visto pelo filho.
Médico psiquiatra, psicanalista,
escritor, cronista, poeta e militante político, Hélio Pellegrino foi uma das
peças fundamentais da vida nacional durante os Anos de Chumbo. Fez parte da
Comissão dos Cem Mil, formada na antológica passeata de mesmo nome para levar
as reivindicações populares ao marechal Costa e Silva. Foi preso, porém não se
acovardou, persistindo na luta contra as injustiças sociais, o que o levou a
criar (juntamente com Kattrin Kemper) a Clínica Social de Psicanálise Anna
Kattrin Kemper e, mais tarde, a integrar a ala dos intelectuais durante a
criação do Partido dos Trabalhadores, bem como a participar da Comissão
Teotônio Vilela para as Prisões, do grupo Tortura Nunca Mais. Figura pública
exemplar, Hélio Pellegrino foi também um homem de grandes paixões e pai de sete
filhos. Esta é a história pessoal evocada em
Hélio Pellegrino, meu pai,
com humor e ternura, pelo seu caçula, João Pellegrino, que nos revela o lado
íntimo deste personagem ímpar que ajudou a moldar o Brasil da segunda metade do
século XX. Publicação da editora Rocco.
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REEDIÇÕES
Uma antologia de histórias
curtas de Raquel de Queiroz em nova edição.
Nas nove histórias curtas reunidas
neste livro, a escritora cearense mostra todas as características que a
consagraram no panteão literário nacional. Conhecida pelas narrativas longas, a
autora articula, de forma magistral, elementos da experiência universal com
traços regionais, em especial do Nordeste brasileiro.O jornalista e escritor
José Nêumanne Pinto afirma que “a contista Rachel de Queiroz é contundente como
o quê, sutil e cortante qual gume de faca para picar fumo nas feiras livres do
interior do Ceará. Ela descreve a vida sem disfarce, sem dourar a pílula, com a
impressionante frieza de um assassino profissional. […] A prosa curta da
romancista é escorreita e crua, sem subterfúgios nem tergiversações: adjetivos
são dispensados sem cerimônia, prevalecendo a força dos substantivos comuns,
enfileirados com argúcia e sensibilidade”. Com
A casa do Morro Branco,
os leitores ficarão fascinados ao encontrar a escrita e o olhar refinados da
escritora para o cotidiano.
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RAPIDINHAS
Um novo romance de Thomas Pynchon. O mais recluso dos escritores publicará um novo livro mais de uma década depois do último.
Shadow Ticket sai em outubro nos Estados Unidos e em 2026 no Brasil pela Companhia das Letras.
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