Boletim Letras 360º #629

DO EDITOR
 
Olá, leitores! Aproveito este espaço para reiterar publicamente os agradecimentos àqueles que enviaram suas candidaturas para ocuparem um lugar neste projeto. O Letras iniciou essa alternativa em 2012 e deste então tem enriquecido seus interesses com perspectivas e leituras essenciais e enriquecedoras para o debate acerca da literatura e dos livros, principalmente.
 
Justamente porque vivemos em um país em que o pensamento e a discussão nessa seara têm andado de joelhos desde o declínio do nosso leitorado e mesmo as dificuldades sendo enormes, parece válido este projeto. É preciso, ao menos, acreditar que não é um bom modo ficar apenas na função de observadores do barco que afunda sem ao menos tocar um réquiem. Certamente, também é esse o ponto de vista de todos que batem à nossa porta atendendo ao nosso chamado. Então, obrigado!
 
A chamada de 2025 recebeu treze candidaturas. Dessas, foram aprovadas nove. As estreias começam a aparecer por aqui entre as últimas semanas deste mês e as primeiras semanas de abril. Aos leitores que queiram conhecer um pouco dos novos autores podem ingressar no nosso grupo no Telegram, onde chega em primeira mão as publicações diárias deste projeto.
 
Por fim, outro convite. Faltam quatro leitores para o nosso próximo sorteio do Clube de Apoios. Sortearemos um exemplar do livro de contos Morte em pleno verão, do escritor japonês Yukio Mishima. Saiba todos os detalhes de como participar aqui.  
 
Um excelente final de semana para vocês!


Marcelo Rubens Paiva. Foto: Maria Isabel Oliveira


 
LANÇAMENTOS
 
Marcelo Rubens Paiva encerra a sequência formada pelos romances Feliz ano velho e Ainda estou aqui.
 
Escritor, pai depois dos cinquenta anos, cadeirante e considerado inimigo pelo governo vigente: assim Marcelo Rubens Paiva se descreve, neste livro franco e emocional, sequência autobiográfica de Feliz ano velho e Ainda estou aqui ― cujo filme, dirigido por Walter Salles e com Fernanda Torres no papel principal, foi vencedor do prêmio de melhor roteiro do Festival de Veneza e o Oscar de Melhor Filme Internacional. Nas obras anteriores, ele fala sobre o acidente que o deixou numa cadeira de rodas aos vinte anos, o desaparecimento do pai, Rubens, durante a ditadura militar, e a luta da mãe, Eunice, para cuidar sozinha dos cinco filhos, se tornar uma defensora dos direitos indígenas e, por fim, enfrentar o Alzheimer. Desta vez, em O novo agora, é o próprio Marcelo quem está no papel de pai. Às vezes bem-humorado, em outras melancólico, Marcelo mergulha nas agruras da paternidade, ao mesmo tempo em que recorda períodos especialmente duros do país: primeiro, a guinada política que atinge em cheio sua família e artistas. Depois, a pandemia. E, em meio a isso, a lenta fragmentação do casamento. A escrita avança e recua no tempo, retoma memórias de infância e relatos de seus pais e, aos poucos, constrói um retrato complexo de uma família atravessada por crises em diferentes níveis, incerta quanto ao futuro, mas que, aos poucos, aprende a sobreviver. E a sair do outro lado refeita. Publicação da Alfaguara Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
 
Publicado em 1937, Sanatório sob o signo da clepsidra é o segundo e último livro do prosador e artista gráfico Bruno Schulz (1892-1942), um dos escritores mais originais do século XX.
 
Nascido num lar judeu e educado em alemão, o autor deixou uma marca indelével na literatura moderna polonesa, língua na qual criou a sua intensa obra, interrompida tragicamente pela barbárie nazista. Nos contos de Sanatório..., Bruno Schulz dá continuação ao projeto artístico iniciado em Lojas de canela (1934), um esforço quase quixotesco de elevar o cotidiano mais banal — memórias de uma infância pacata numa cidadezinha provinciana — à categoria do mito. Através de uma prosa densa, atravessada por vislumbres surrealistas, e rica em imagens exuberantes e metáforas imprevisíveis, o escritor cumpre seu programa à risca. Neste livro, que encerra esta nova edição da ficção completa do autor, além de uma versão revista da belíssima tradução de Henryk Siewierski, vertida fielmente do original polonês, o leitor encontrará dois textos inéditos de Bruno Schulz: o ensaio “A mitificação do real”, síntese e manifesto de toda a sua produção artística, e “Úndula”, o primeiro conto publicado pelo escritor, descoberto apenas em 2019.  Publicação da Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um inédito de Kurt Vonnegut entre nós.
 
Um milhão de anos atrás, em 1986, o Bahía de Darwin ― o Cruzeiro Ambiental do Século ― está pronto para zarpar do porto de Guayaquil. A lista de convidados está cheia de celebridades e pessoas influentes da mídia, mas quando uma crise financeira global se instaura, quase todos os passageiros decidem ficar em casa. Os que persistem e tentam a sorte em um Equador falido e perigoso, não fazem ideia de que estão prestes a se tornar sobreviventes presos nas Ilhas Galápagos e os progenitores de uma nova espécie humana: corajosa e totalmente diferente. Kurt Vonnegut Jr. surpreende mais uma vez com o seu humor ácido e sombrio, em um vislumbre crítico sobre tudo o que é trágico e decadente na humanidade. Galápagos sai pela editora Aleph com tradução de Livia Koeppl. Você pode comprar o livro aqui.
 
As crônicas de Pedro Mairal publicadas na Folha de São Paulo estão reunidas em livro.
 
“O amor é um equívoco”, escreve o autor na primeira crônica deste volume. “Mas esse equívoco é a única coisa que existe.” Amores difíceis, romances arrebatadores, os inícios e fins de tudo ou quase tudo em nossa vida emocional. É desse material ― vivido por namorados, amantes, maridos, mulheres e amigos ― que Mairal, autor de A uruguaia, extrai, com sua escrita leve e inteligente, este punhado de crônicas deliciosas, originalmente publicadas na Folha de S. Paulo e revistas pelo autor para esta edição. Fogo nos olhos é publicado pela editora Todavia com tradução de Livia Deorsola. Você pode comprar o livro aqui.
 
Philippe Besson e seu contínuo interesse na amizade, no amor e na nostalgia pelos acontecimentos que fizeram um tempo de descobertas.
 
No verão de 1985, numa ilha ao largo da França, um grupo de jovens se entrega à intensidade dos dias ensolarados e às noites embriagadas de liberdade. François, Christophe, Nicolas e o narrador, Philippe, vivem a última estação de sua juventude como se o tempo pudesse ser suspenso: os primeiros amores, os segredos sussurrados entre um cigarro e outro, as amizades inabaláveis e a certeza ingênua de que o mundo sempre será deles. Mas as noites de verão carregam promessas e sombras. Entre festas, danças ao ar livre e mergulhos no mar, desejos são despertados e corações postos à prova. Quando Alice, uma jovem parisiense de espírito livre, cruza seus caminhos, tudo parece ganhar um brilho novo — e, ao mesmo tempo, um presságio de despedida. Porque, no fundo, eles sabem: toda história inesquecível precisa acabar. Com sua prosa elegante e melancólica, Philippe Besson nos conduz por uma narrativa sensível sobre amizade, descobertas e a nostalgia do que jamais poderá ser revivido. Este livro é um retrato tocante da juventude, do primeiro amor e da dolorosa beleza daquilo que se perde com o tempo. Uma noite de verão sai pela Vestígio; tradução de Julia da Rosa Simões. Indagar sobre a nossa própria origem é abrir portas para muitas perguntas e para silêncios e respostas inesperadas que às vezes provocam uma reviravolta na memória. Você pode comprar o livro aqui.
 
Cristina Rivera Garza remonta os passos daqueles homens e mulheres que habitam seu passado familiar.
 
Em Autobiografia do algodão, são os operários e camponeses que cultivaram a terra que hoje constitui a fronteira entre Tamaulipas (México) e Texas (Estados Unidos), uma região que alcançou prosperidade econômica, social e cultural graças ao plantio de algodão, o ponto de interesse. Após o fracasso do sistema, aqueles camponeses algodoeiros deixaram seu espaço, antes símbolo de progresso, hoje ocupado pela chamada guerra contra o narcotráfico. Este é um romance repleto de imagens e camadas; um muito bem-sucedido amálgama de gêneros, um emocionante exercício de investigação e reescrita. É, sobretudo, um convite para relembrarmos a história de nossos avós, para nos reencontrarmos e nos desencontrarmos com isso a que chamamos território. Publicação da Autêntica Contemporânea; tradução de Silvia Massimini Felix. Você pode comprar o livro aqui.
 
A incrível história de duas viagens, uma literal e outra imaginária, pela Rússia contemporânea e pela literatura soviética.
 
Em 26 de outubro de 1932, Stalin compareceu a uma reunião de escritores na casa de Maksim Górki. “Nossos tanques são inúteis”, disse ele, ‘se as almas que os conduzirão forem feitas de barro’. Cabe aos escritores, “engenheiros de almas”, forjar o novo homem soviético. Assim nasceu a estética proletária da construção e da produção, útil para celebrar as colossais obras de engenharia hidráulica dos primeiros planos quinquenais que, graças ao trabalho forçado do Gulag, estavam domando a natureza “inimiga” do território soviético: desvios de leitos de rios, milhares de quilômetros de canais, usinas de dessalinização da água do mar. É a partir da leitura de um livro de 1932 de Konstantin Paustovski sobre a “eliminação de desertos” que começa a jornada narrada em Engenheiros da alma, que leva Frank Westerman, um jornalista investigativo com estudos em engenharia agrária, das ruínas industriais do Golfo de Kara-Bogaz ao Canal Belomor, o projeto que o coletivo de escritores liderado por Górki foi chamado a cantar como “historiografia instantânea do socialismo”. Uma jornada concreta, a de Westerman, que está entrelaçada com a exploração da vida e das obras daqueles que, em meio a dúvidas, fraquezas e ceticismo, dedicaram sua pena e suas habilidades expressivas ao fortalecimento da URSS pós-revolucionária. Concentrando-se não nos grandes dissidentes, mas nos “mais ou menos acomodados”, como o próprio Paustovsky, ou o atormentado Platonov, ou o grande Pilniak, que morreu em um gulag após uma série de altos e baixos, Westerman reconstrói com acentos pessoais a relação entre o poder e os artistas, e seu doloroso esforço para encontrar um espaço possível entre o ditame e a inspiração. Publicação da editora Âyiné e tradução de Mariangela Guimarães. Você pode comprar o livro aqui.
 
Livro repensa o que significa o termo “literatura” hoje examinando formas-chave da escrita experimental desde a década de 1920 na América Latina.
 
Antiliteratura, de Adam Joseph Shellhorse revela a força da literatura como o local da reflexão e reação radical às condições culturais e políticas contemporâneas. Sua análise dialoga com a obra de escritores como Clarice Lispector, Oswald de Andrade, os poetas concretistas brasileiros (Haroldo e Augusto de Campos e Décio Pignatari), Osman Lins e o argentino David Viñas, para desenvolver uma teoria que coloca o feminino, o multimídia e o subalterno como centrais para o desmontar do que significa “literatura”. Ao colocar as antiliteraturas brasileira e argentina no cerne de uma nova forma de pensar a área, o livro desafia as discussões prevalecentes sobre a projeção histórica e a força crítica da literatura latino-americana. Examinando uma gama diversificada de textos e mídias que incluem artes visuais, poesia concreta, roteiros de filmes, cultura pop, narrativa neobarroca e outros que desafiam o gênero, o livro delineia o potencial subversivo dos modos antiliterários de escrita, ao mesmo tempo que envolve debates atuais nos estudos latino-americanos sobre subalternidade, escrita feminina, pós-hegemonia, concretismo, afeto, marranismo e política da estética. Assim, Shellhorse propõe um novo método de leitura que se ocupa das qualidades marginais e subalternas do texto literário e o coloca num diálogo urgente com os conceitos mais atuais provenientes da filosofia e da teoria crítica atual. Com tradução de Maria Clara Cescato e publicação da editora Perspectiva. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição de Memórias do cárcere amplia presença da obra de Graciliano Ramos no catálogo da Penguin/ Companhia das Letras.
 
Pouco antes de publicar Vidas secas, Graciliano Ramos passou dez meses detido em penitenciárias e quartéis de Maceió, Recife e Rio de Janeiro. A prisão foi por “haver participado do movimento comunista”, conforme alega sua ficha da era Vargas. O período marcou enormemente a vida e a produção literária do escritor, que antes se dedicava à política e ao trabalho e às burocracias da repartição pública. Escrito uma década depois da experiência da prisão e publicado postumamente, este livro é dividido em quatro partes que remontam desde os dias anteriores à prisão até a relações e os conflitos durante o encarceramento. Com o minucioso estabelecimento de texto e pesquisa de Ieda Lebensztayn, posfácio de Rodrigo Jorge Neves, além de imagens de alguns dos manuscritos originais selecionados para esta edição, Memórias do cárcere é o retrato de um período político conturbado do Brasil, ao mesmo tempo que um registro ímpar de um dos maiores nomes da literatura brasileira. Você pode comprar o livro aqui.
 
Publicado originalmente em 1987, o primeiro romance de Elvira Vigna ganha agora nova edição, com posfácio de Alexandre Vidal Porto. Uma história sobre o Brasil, mas também sobre amizades, amores, términos, sexualidade e saudade do que um dia foi — ou poderia ter sido.
 
“A casa de Pendotiba, tão parecida com o Brasil.” É assim que Pedro descreve o lugar onde, por sete anos, se refugiava com os melhores amigos nos finais de semana. A casa era de Carlos Alberto, o Caloca, que deixara o apartamento da ex após o divórcio para construir uma nova vida. O terreno, antes abandonado, se tornou a terra prometida, na qual se ergueria uma mansão. Mas isso não aconteceu. A fonte de dinheiro secou, e a construção ficou muito diferente da que fora idealizada. Essa é apenas uma das muitas frustrações que perpassam os personagens de Sete anos e um dia, quatro amigos que se encontravam regularmente entre 1978 e 1985 — tempos sombrios para a grande promessa que era o Brasil — para trocar confidências, se amar, brigar e enfrentar os desafios impostos pela ditadura. Em seu primeiro romance, Elvira Vigna já manifestava o que consagraria sua literatura: a lucidez para abordar sem desvios as coisas mais delicadas da vida. Sete anos e um dia sai pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Publicado em 1974, Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte foi restaurado no texto e nas imagens para esta Edição do Cinquentenário, em parceria com a Cinemateca Brasileira/ Sociedade Amigos da Cinemateca.
 
Resultado da tese de doutorado de Paulo Emílio Sales Gomes, defendida em 1972, este livro é um marco na pesquisa sobre cinema no país, espécie de formação do cinema brasileiro, ao investigar a obra pioneira e a biografia de Humberto Mauro e recriar, a partir de sua figura, a atmosfera de uma época decisiva para as artes no país. A contribuição da cidade de Cataguases, em Minas Gerais, e a influência da revista carioca Cinearte na formação de Humberto Mauro são o ponto de partida para uma história que ressoa até hoje. Com organização e posfácio de Carlos Augusto Calil, esta Edição do Cinquentenário recupera o texto e as imagens originais, e inclui textos críticos de Walnice Nogueira Galvão, Alfredo Bosi, Francisco Luís de Almeida Sales (inédito) e Gilda de Melo e Sousa. Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um dos livros que deu projeção a Lilia Guerra ganha nova edição.
 
Lilia Guerra conta que criou o neologismo que dá título a este livro depois de perceber o quanto a periferia pode causar repulsa. Os personagens deste elogiado conjunto de histórias, partilham desse conhecimento de que habitam zonas negligenciadas das grandes cidades. Mas se a distância da quebrada impõe novas formas de lidar com a precariedade, as mulheres, homens e crianças deste livro transcendem toda e qualquer limitação que porventura tente aniquilá-los. E isso tudo graças à escrita luminosa de Lilia Guerra. Perifobia é reeditado pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
 
DE LÁ DE FORA
 
Vem aí uma coletânea com os contos de Harper Lee, a autora do cultuado O sol é para todos.
 
Por anos antes de publicar seu romance mais conhecido Harper Lee escreveu contos com temas que ela exploraria mais tarde: fofocas e política de cidades pequenas, relacionamentos ternos e tensos entre pais e filhas, relações raciais. Ela tentou e não conseguiu publicá-los. Estudiosos e biógrafos há muito pensam que esses contos estavam perdidos ou destruídos. Mas não. Os textos estiveram arquivados juntamente com as cartas de rejeição, material que foi descoberto em seu apartamento em Nova York depois da morte Lee, em 2016. No semestre seguinte, esses contos serão publicados pela primeira vez numa coletânea intitulada The Land of Sweet Forever. O livro, inclui oito contos inéditos e oito textos de não ficção que Lee publicou em vários meios de entre 1961 e 2006, incluindo um perfil de Truman Capote, também escritor e seu amigo, uma receita de pão de milho e uma carta para Oprah Winfrey.

Livro de memórias deixado por Beatriz Sarlo ganha edição.

A intelectual argentina trabalhava nas suas memórias quando morreu em dezembro de 2024. O ponto inicial dessa trajetória está em No entender, livro descrito como a história de como a menina nascida sob o nome de Beatriz Ercilia Sarlo Sabajanes se tornou em Beatriz Sarlo, um esboço da intimidade de sua novela familiar e os momentos iniciáticos: quando escapou da casa e do desamor da mãe, quando decidiu que seria uma intelectual, quando viveu em um sótão e conheceu uma boemia que logo seria varrida pela vanguarda do Instituto Di Tella, quando decidiu cursar Letras; sua leitura, ao lado da mãe odiosa, da figura ambivalente do pai, a quem adorava mas detestava-o pelo vício no álcool. 
 
RAPIDINHAS
 
Mais Kurt Vonnegut. Juntamente com o título inédito apresentado neste Boletim na seção Lançamentos, a editora Aleph reedita outros dois livros do escritor: As sereias de Titã e Cama de gato.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu Affonso Romano de Sant’Anna.
 
Affonso Romano de Sant’Anna nasceu no dia 27 de março de 1937. Quando estudante de Letras, na atual Universidade Federal de Minas Gerais, iniciou sua presença nos meios literários. Imediatamente depois do curso superior, esteve nos Estados Unidos, onde lecionou na Universidade da Califórnia e participou do Programa Internacional de Escritores na Universidade de Iowa. A carreira literária correu sempre em consonância com uma sólida formação acadêmica; em 1969, por exemplo, concluiu um doutorado pela UFMG abordando a poesia de Carlos Drummond de Andrade enquanto quatro anos antes havia publicado o seu primeiro livro de poesia, Canto e palavra. Atuou como cronista em vários jornais, como O Globo, Jornal do Brasil, Estado de Minas e Correio Brasiliense. O trabalho entre o acadêmico, o literário e o jornalismo favoreceu, assim, ao desenvolvimento de uma obra diversa, organizada em mais de seis dezenas de títulos. No ensaio, na teoria e crítica literárias, publicou, dentre outros O desemprego da poesia (1962), Drummond, o gauche no tempo (1972), Análise estrutural de romances brasileiros (1972), Como se faz literatura (1985), Barroco: do quadrado à elipse (2000), O enigma vazio (2008), Entre Drummond e Cabral (2014), A cegueira e o saber (2011), Entre leitor e autor (2015) e Experiência crítica (2020); na poesia, Poesia sobre poesia (1975), A grande fala do índio guarani (1978), Que país é este? (1980, Prêmio Jabuti no ano seguinte), A catedral de colônia e outros poemas (1985), A poesia possível (1987), O lado esquerdo do meu peito (1993), Epitáfio para o século XX e outros poemas (1997), Textamentos (1999), Vestígios (2005), A implosão da mentira e outros poemas (2007), Sísifo desce a montanha (2011), A vida é um escândalo (2017); e na crônica, A mulher madura (1986), Perdidos na Toscana (2009), Como andar no labirinto (2012) e Quase diário: 1980-1999 (2017). Com Marina Colasanti, a escritora que morreu em janeiro de 2025 e com quem foi casado, Sant’Anna publicou títulos como O imaginário a dois (1987), Agosto de 1991: estávamos em Moscou (1991) e Com Clarice (2013). Affonso Romano de Sant’Anna morreu no Rio de Janeiro, no dia 4 de março de 2025.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. O diabo mesquinho, de Fiódor Sologub (Trad. Moissei Mountian, Kalinka, 392p.) Um professor do ginásio de uma pequena província russa do fim do século XIX e suas peripécias em conseguir um casamento a fim de alcançar o sonhado posto de inspetor. Você pode comprar o livro aqui
 
2. O colóquio dos cachorros, de Cervantes (Trad. Nylcéa Thereza de Siqueira Pedra, Grua Livros, 96p.) Por uma noite, os cachorros Cipião e Berganza, que vivem para o Hospital da Ressurreição de Valladolid, adquirem o dom da fala; o segundo conta sua vida enquanto o primeiro pontua com suas observações. Sem dúvida, um marco na literatura que refere as implicações entre o animal e o humano. Você pode comprar o livro aqui.
 
3. Poesia, de Ezra Pound (Trad. Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, José Lino Grünewald, Mário Faustino, Vanderley Mendonça, Cobalto, 492p.) A mais completa edição com as traduções de parte dos Cantos realizadas pelo grupo concretista e seus nomes mais achegados iniciadas desde os anos 1960 quando se publicou uma primeira versão da coletânea. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
É possível saber um pouco da trajetória de Afonso Romano de Sant’Anna pela sua própria voz neste programa da TV Assembleia de Minas Gerais de 2017: as suas origens, o trabalho com a literatura (na poesia, na crônica e no ensaio), os principais livros, a vida acadêmica, alguns convívios etc. Um perfil bem amplo. 
 
BAÚ DE LETRAS
 
Na apoteose do Carnaval 2025, um dia marcou o cinema brasileiro. Numa trajetória povoada por mais de quarenta premiações em diversos festivais internacionais, incluindo o feito inédito de um Globo de Ouro para Melhor Atriz de Drama, Ainda estou aqui, de Walter Salles, produzido a partir de registros documentais e do romance de Marcelo Rubens Paiva (o mesmo título do filme), deu ao Brasil a primeira estatueta do Oscar, a de Melhor Filme Internacional. Aproveitamos para recordar, ainda na superfície do nosso arquivo, o texto de Renildo Rene, “Walter Salles esqueceu de comprar a televisão”.
 
Outros destaques deste Boletim que podem ser aprofundados pelo nosso arquivo: aqui, vários textos em torno da biografia e da obra de Bruno Schulz; um dos romances de Kurt Vonnegut, escritor duplamente referido aqui, foi comentado neste textoMatadouro 5; A uruguaia, de Pedro Mairal foi resenhado aqui; e aqui várias entradas dedicadas a Elvira Vigna sua obra.

DUAS PALAVRINHAS
 
Sendo um escritor crônico, estou preso ao meu tempo: é daí que parte minha perplexidade diante da história e do cosmos. Literatura é uma forma de transcendência.

— Affonso Romano de Sant’Anna, entrevista para o jornal Cândido.

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