Boletim Letras 360º #623
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Ben Lerner. Foto: Beowulf Sheehan |
LANÇAMENTOS
Uma dupla investiga o
desaparecimento de um jornalista, busca que culminará em um massacre numa
paisagem bucólica.
Uma dupla de jornalistas, Emílio e
Sara, viaja a uma comunidade isolada de floricultores atrás de informações
sobre um colega misteriosamente desaparecido. Enquanto os dois são forçados a
permanecer na região após um acidente, conhecemos também a história da Terra
Luminos, que se entrelaça à vida de João Salvador — filho do capataz do homem
mais poderoso daquelas terras. É nesse espaço bucólico que a família Salvador
ascende e, ao mesmo tempo que chega ao poder após décadas de subserviência,
tenta preservar no lugar uma espécie de pureza, afastada da degeneração das
grandes cidades. Em Animais tropicais, Javier A. Contreras passeia por
diferentes gêneros, como o thriller e o folk horror, reafirmando sua
versatilidade e costumaz reflexão crítica, sempre em constante diálogo com os
descaminhos sociais e políticos da América Latina e suas adesões ao autoritarismo.
Publicação da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
Livro que deu o Prêmio Goncourt
de 1993 a Amin Maalouf ganha nova tradução e edição brasileiras.
Este é um romance fascinante que
entrelaça história e lenda no cenário montanhoso do Líbano do século XIX. Em um
tempo turbulento, marcado pelas disputas entre o Império Otomano, o Egito e as
potências europeias, acompanhamos Tânios, um jovem aldeão cuja ascendência é
envolta em rumores. O assassinato de um líder religioso desencadeia uma
sequência de eventos que levam Tânios ao exílio, lançando-o numa jornada pelo
Mediterrâneo, onde se torna intermediário entre poderes rivais e figura central
de uma lenda. Amin Maalouf, com sua prosa envolvente, conduz o leitor por um
mundo onde o amor, a vingança e o destino moldam o curso de vidas e nações.
Tânios, o jovem de cabelos precocemente brancos, é o símbolo de uma fatalidade
que “passa e repassa por nós como a agulha do sapateiro através do couro”. Ao
lado de personagens inesquecíveis — um xeique ambicioso, um monge cronista, uma
prostituta georgiana e um patriarca à espera da morte —, o romance reflete
sobre as origens das lendas e a fragilidade da experiência humana. Uma
narrativa rica em mistério e emoção que, ao acompanhar a trajetória de Tânios,
desvenda um Oriente em conflito, onde lendas nascem das cinzas de vidas
despedaçadas e o destino se impõe como uma força inevitável. O livro é
publicado pelo selo Vestígio/ Autêntica com tradução de Júlia da Rosa Simões. Você pode comprar o livro aqui.
Christine de Pizan: mais da sua
obra entre nós.
Seis baladas da dama é uma
seleção de baladas das Cent ballades d’amant et de dame [Cem baladas do
amante e da dama], de Christine de Pizan, cuja frequência de tradução foi
encontra no próprio imaginário da música brasileira. Trata-se dos primeiros
resultados de um ensaio tradutório da voz posta em prática por Pizan, a saber,
uma dama que reluta em aceitar as galanterias de um amante. A obra, cuja
finalidade pedagógica era alertar as mulheres mais jovens, dispõe de um rigor
que não passou desapercebido no tempo da autora. Seis baladas da dama é
um título inseparável do gesto de traduzir para o português brasileiro o
engenho poético de uma autora que merece ser mais conhecida no país. Publicação
da Cobalto e tradução de Eduardo Jorge de Oliveira. Você pode comprar o livro aqui.
Paulo Scott reúne os seus
poemas para marcar 25 anos de sua incursão entre as musas.
A antologia Sanduíche de anzóis
reúne a produção poética de Paul Scott, mas não apenas isso: ao revisitar seus
textos, ele reescreve, corta, repensa, reorganiza, criando uma nova obra,
totalmente reinventada, e independente de seus livros anteriores. Sua
linguagem, trabalhada ao longo de décadas, é combativa, desafia o esperado. Girando
em torno do amor, da revolta e da loucura — há também um breve e potente
manifesto contra o novo fascismo —, esta inédita coleção marca sua sólida
trajetória como um dos poetas mais singulares da atualidade. O livro é
publicado pela Alfaguara Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
A história da longeva e firme
estadia de Baudelaire nos trópicos e sua presença num dos nossos maiores
escritores de sempre.
A assimilação brasileira dos
poemas em prosa de Charles Baudelaire começou cedo, pouco tempo depois de sua
publicação na França. Compilada e historiada neste livro, ela forma um capítulo
até então desconhecido de nossa história literária. As primeiras traduções e
imitações de O spleen de Paris foram obra de estudantes desejosos de
romper com o romantismo e a sociedade convencional. Interessante notar que o
circunspecto Machado de Assis, embora um pouco mais velho e com discernimento
crítico diferenciado, fez parte dessa linha de frente. Mais interessante ainda
— e esta é a contribuição forte de Natasha Belfort Palmeira — é que ele
incorporou a ideia e a técnica dos petits poèmes en prose ao tecido de
suas grandes obras, em que, depois da leitura de Natasha, devemos reconhecer
uma tonalidade baudelairiana. Assim, a famosa forma livre da ficção machadiana
passa a ligar-se não apenas aos modelos literários antigos, do século XVIII ou
anteriores, mas também à ponta de lança da superação do realismo, aos modernos
“sobressaltos da consciência” (expressão de Baudelaire). Em suma, o livro que o
leitor tem nas mãos é uma verdadeira novidade. (Roberto Schwarz) A forma
livre: Baudelaire e Machado de Assis, de Natasha Belfort Palmeira, é
publicado pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Uma nova edição do premiado
romance em que Elisa Lispector rompe com os estereótipos de mulher ao discutir
de forma original temas como divórcio, maternidade e relações familiares.
Publicado em 1963, O muro de
pedras rapidamente angariou críticas elogiosas de alguns dos grandes
intelectuais de seu tempo e conquistou prêmios relevantes como o Coelho Neto,
da Academia Brasileira de Letras. Neste grande monólogo, conhecemos Marta, uma
mulher em conflito que se tornou refém de seu casamento tedioso e de sua
complexa relação com a mãe. Para se ver livre de sua rotina aprisionante, ela
pede o divórcio, sem contar, porém, que tamanha liberdade a levaria à
paralisia. Frustrada, Marta traça então um novo plano: se isolar no sítio da
família e se tornar mãe. Elisa Lispector apresenta com originalidade e maestria
a angústia de uma mulher que, desejando encontrar sua autonomia, caminha em
direção ao próprio isolamento. A partir dos ciclos de recomeços de Marta, esta
poderosa narrativa aborda temas considerados difíceis, como o desamparo, a
solidão e a liberdade, mas que constituem o cerne dos sentimentos humanos. A
presente edição conta com apresentação inédita de Nádia Battella Gotlib —
escritora e biógrafa da irmã Lispector mais nova, Clarice —, além de prefácio
de Jeferson Alves Masson — especialista na obra de Elisa Lispector. Temos aqui
o romance mais emblemático da escritora. Publicação da José Olympio. Você pode comprar o livro aqui.
OBITUÁRIO
Morreu Cacá Diegues.
Nascido em Maceió em 19 de maio de
1940, Cacá Diegues iniciou cedo a sua paixão pelo cinema: ainda na Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), como estudante de Direito e
então presidente do Diretório Estudantil, fundou um cineclube e iniciou suas
atividades de cineasta amador com David Neves e Arnaldo Jabor, entre outros. Na
mesma época dirige o jornal O metropolitano, órgão oficial da União
Metropolitana de Estudantes e em torno do qual se constitui no final da década
de 1950 um dos núcleos de fundação do Cinema Novo, do qual Diegues é um dos
líderes juntamente com Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo Cesar Saraceni e
Joaquim Pedro de Andrade. Em 1961, em colaboração com David Neves e Affonso
Beato, realiza o curta-metragem Domingo, um dos filmes pioneiros do
movimento. Os seus primeiros títulos, como Ganga Zumba (1964), A
grande cidade (1966) e Os herdeiros (1969) seguem a estética — são
filmes inspirados em utopias para o cinema, para o Brasil e para a própria
humanidade. Como muitos da sua geração, na ditadura, precisou deixar o Brasil;
viveu na Itália e depois na França, com sua mulher, a cantora Nara Leão. De
volta ao país natal, realiza Quando o Carnaval chegar (1972) e Joanna
Francesa (1973). Em 1976, dirige Xica da Silva, seu maior sucesso
popular. A partir daqui, vieram vários outros trabalhos reconhecidos, premiados
e que marcaram a cinematografia brasileira. Chuvas de verão (1978), Bye
bye Brasil (1979), Tieta do Agreste (1996), Orfeu (1999) e Deus
é brasileiro (2003) são alguns desses seus maiores sucessos. O último
trabalho da carreira foi O grande circo (2018). Cacá Diegues integrou a
Academia Brasileira de Letras. O cineasta morreu no dia 14 de fevereiro no Rio
de Janeiro.
Morreu Fernando Monteiro.
Fernando Monteiro nasceu no
Recife, em 20 de maio de 1949. Depois de se formar em Ciências Sociais, fui
estudar Cinema em Roma, na Itália. Na sétima arte, dirigiu documentários e
filmes culturais, mais de 15 ao longo da carreira. Visão apocalíptica do
radinho de pilha (1972) representou o Brasil no Festival de Guadalajara,
México; Brennand: sumário da oficina pelo artista (1976) passou pelo
Festival de Brasília; Saideira (1980), no Festival de Varsóvia. Ainda
neste meio, destaque para os filmes conduzidos para o Curso de Alfabetização de
Adultos segundo o Método Paulo Freire projeto conduzido pela OEA e Universidade
Federal de Pernambuco na década de 1970. Na literatura, Monteiro se destacou
como poeta — Memória do mar sublevado (1973), Ecométrica (1983), A
interrogação dos dias (1984), Vi uma foto de Anna Akhmátova (2009), Museu
da noite (2018), entre outros; como romancista, com livros como Aspades,
Ets, Etc (1997), A cabeça no fundo do entulho (1999), O grau
Graumann (2002), As confissões de Lúcio (2006) e O livro de
Corintha (2013); como contista, Armada América (2003); escreveu para
o teatro O rei póstumo (1974); e ensaios como T. E. Lawrence: o
triunfar da náusea (1987) e Brennand (1987). Fernando Monteiro
morreu no dia 12 de fevereiro de 2025.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. Deslumbramento, de Richard
Powers (Trad. Santiago Nazarian, Todavia, 336p.) Pai e filho em busca de refúgio
em um mundo nos seus últimos instantes. Você pode comprar o livro aqui.
2. O colibri, de Sandro
Veronesi (Trad. Karina Jannini, Autêntica/ Contemporânea, 336p.) Entre
Florença e outras cidades do interior da Itália, a saga familiar dos Carrera
pelo inusual ponto de vista de um dos seus membros, Marco. Você pode comprar o livro aqui.
3. Engenheiro fantasma, de Fabrício
Corsaletti (Companhia das Letras, 128p.) Em 59 sonetos um fantasmagórico
Bob Dylan corre as ruas de Buenos Aires e narra sua temporada de exílio no lado
de baixo da América. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
A obra de Jorge Amado sempre manteve relação muito estreita com outras
expressões artísticas, como o cinema. Tieta do Agreste, por exemplo,
virou uma comédia dirigida por Cacá Diegues em 1996. No excerto aqui reapresentado,
o próprio escritor lê a abertura do romance na abertura do filme.
Em 2023, ano quando anunciou um retorno ao mercado editorial, Charles Cosac
foi entrevistado para a revista Piauí. Entre cigarros, Coca-Cola e peças da
arte sacra barroca, o editor falou da sua vida, da história da editora que fundou
e conduziu por vinte anos e revolucionou o frágil mercado editorial brasileiro
e dos planos à frente de outra Cosac, agora, interessada em discutir o Brasil,
nos três primeiros séculos da sua formação. Veja aqui.
BAÚ DE LETRAS
Apesar de irregular entre nós, a
aposta na obra de Ben Lerner é uma constante no meio literário brasileiro. Um
dos seus livros mais recentes publicados por aqui é o romance 10:04 que
foi resenhado para o Letras — leia aqui.
DUAS PALAVRINHAS
Um livro é escrito, inclusive,
para os que o leem indevidamente, para os que o estranham, os que o detestam e
até para os que não haverão de o ler. Natural existirem pessoas que, não o
lendo, venham a ser afetadas pelas suas páginas, quando outras, lendo-as,
permanecerão imunes, insensíveis a todos os seus possíveis estímulos.
— Osman Lins, Guerra sem testemunhas.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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