Boletim Letras 360º #622

 
 
DO EDITOR
 
Olá, leitores! Continuamos até o dia 16 de fevereiro a receber novas candidaturas de interessados em publicar seus textos com o Letras durante este ano de 2025. Veja aqui como realizar sua inscrição.
 
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Chimamanda Ngozi Adichie. Foto: M Le Magazine du Monde


 
LANÇAMENTOS
 
Brasil está no circuito que receberá em primeira mão o novo romance de Chimamanda Ngozi Adichie.
 
Em A contagem dos sonhos, Chiamaka é escritora de livros de viagem e vive nos Estados Unidos. Sozinha durante a pandemia, ela relembra os relacionamentos do passado e pondera sobre suas escolhas e seus arrependimentos. Zikora, sua melhor amiga, é uma advogada que foi bem-sucedida em tudo, até que, após ter o coração partido, busca a ajuda de quem achou que menos precisava. Omelogor, prima de Chiamaka, é uma gênia das finanças na Nigéria que começa a questionar o quanto se conhece de verdade. E Kadiatou, empregada de Chiamaka, cria com orgulho a filha nos Estados Unidos — mas precisa lidar com uma provação inconcebível que ameaça tudo o que ela trabalhou para conseguir. Com este romance, Chimamanda Ngozi Adichie volta seu olhar arguto a essas mulheres, numa narrativa brilhante que discute a própria natureza do amor. A verdadeira felicidade é de fato alcançável? Ou é apenas um estado passageiro? E quão honestos devemos ser com nós mesmos para amar e ser amados? Uma reflexão incisiva sobre as escolhas que fazemos e aquelas feitas por nós, sobre filhas e mães, sobre nosso mundo interconectado, A contagem dos sonhos pulsa com urgência emocional e observações pungentes e inflexíveis sobre o coração humano, em uma linguagem que se eleva com beleza e poder. Isso confirma o status de Adichie como uma das escritoras mais fascinantes e dinâmicas da cena literária hoje. Com tradução de Julia Romeu, o livro é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
René Char, autor de uma obra que marcou diversos e importantes nomes dentro e fora do seu tempo, está no catálogo da Editora 34.
 
Ao ler os aforismos de O dia e a noite, Roberto Bolaño não hesitou: este é “um livro precioso”. Redigidos ao longo de décadas e publicados depois da Segunda Guerra Mundial, os pensamentos de Georges Braque (1882-1963) são fruto de uma lenta decantação verbal de sua experiência humana e artística. Pois Braque, nome central da pintura moderna, parceiro de Picasso na aventura do cubismo, artista fértil e longevo, foi também homem de letras. Próximo de grandes poetas como Pierre Reverdy e René Char, leitor patente da longa tradição francesa das máximas e sentenças, o pintor é capaz tanto de formulações oraculares (“Sensação, revelação” ou “O perpétuo e seu sussurro de nascente”) como de apontamentos sibilinos (“O conformismo começa pela definição” ou “As provas exaurem a verdade”). Mas o leitor não encontrará aqui um corpo organizado de doutrina, pois o essencial para Braque é “ter sempre duas ideias, uma para destruir a outra” e, com isso, estar à altura do mandamento máximo para a vida e para a criação: “manter a cabeça livre: estar presente”. Atingido esse estado, extintas “todas as veleidades”, nós talvez percebamos que “tudo é sono ao nosso redor” — e que “a realidade só se revela quando iluminada por um raio poético”. Com texto em apêndice de Brassaï, tradução de Samuel Titan Jr., o livro é publicado pela Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
Após uma década, Débora Ferraz retorna ao romance.
 
O sombrio coração da inocência explora os ecos de uma tragédia e os silêncios que redefinem a vida de uma pequena cidade. No interior da Paraíba, no ano 2000, duas irmãs adolescentes morrem afogadas em um rio de águas rasas. Vinte anos depois, Tito Limeira, ex-colega das jovens e hoje repórter investigativo, decide revisitar o caso. Com o desejo de entender o passado e fugir de uma vida familiar sufocante em João Pessoa, ele embarca para Norwich, na Inglaterra, em busca de Daniel, testemunha das mortes e possível suspeito. Muito além de uma investigação sobre “quem matou?”, O sombrio coração da inocência envereda por um caminho tortuoso e complexo: aquele dos sentimentos indomáveis e impulsos violentos da adolescência. Ao fazê-lo, embaralha os papeis de vítimas e algozes e traz à superfície o que havia sido encoberto ― e que, ao extremo, pode levar ao abismo. Publicação da editora DBA. Você pode comprar o livro aqui.

Obra inédita, Poesia mundi reúne, completamente revistos, os poemas do escritor, poeta, ensaísta, tradutor e professor Marco Lucchesi, ao longo de sua notável trajetória literária.
 
Entre as obras incluídas nesta edição, destacam-se: Bizâncio (1997), Alma Venus (2000), Sphera (2003), Meridiano celeste (2006), Bestiário (2006), Clio (2014), Hinos matemáticos (2015), Mal de amor (2018), Maví (2021) e Microcosmo (2023). Além disso, a edição traz três livros inéditos: Quartetos, Mar Mussa e Al-Maarri: Vestígios. Desde muito jovem, a poesia de Lucchesi foi influenciada por grandes nomes da literatura brasileira, como Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant’Anna, Ferreira Gullar e Haroldo de Campos. Com o tempo, seu estilo poético não apenas refletiu essas influências, mas também conquistou o reconhecimento de intelectuais de renome, tanto no Brasil — como Alfredo Bosi, Benedito Nunes e Eduardo Portella — quanto no mundo, com a admiração de nomes como Umberto Eco, Mario Luzi, Claudio Magris, Mahmud Darwich, Dinu Flamând e Mark Strand. Lucchesi possui uma estética que mergulha, com tranquilidade, em erudição, memorialismo e na exploração de línguas e linguagens múltiplas. Sua poesia, por vezes levemente autobiográfica, se distingue pela originalidade e profundidade, estabelecendo um diálogo singular entre tradição e inovação. A harmonia dos ritmos presentes neste Poesia mundi conduz o leitor por desdobramentos que ora se voltam a uma tendência para a solidão, ora a questões direcionadas para o amor e suas contradições. Subjaz, na unidade da obra, uma dialética que envolve os sentidos mais profundos da natureza humana. A poesia brasileira apresenta uma multiplicidade de tendências e perspectivas. Talvez tenha sido em finais do século XIX e a partir do século XX que ela pôde mostrar, em grande parte, com mais brilho e nitidez, a multiplicidade de suas vozes. A obra poética de Marco Lucchesi — e, neste sentido, Poesia mundi: novos poemas reunidos — é um testemunho vivo deste processo, no diálogo com os clássicos e modernos, uma voz tão singular na poesia contemporânea. Publicação da editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Em novo livro traduzido no Brasil, Adriana Cavarero discute como nossa identidade é tanto descoberta quanto moldada pelas histórias que ouvimos e contamos.
 
Quem poderá dizer quem eu sou? E quem poderá contar a minha história? Enquanto a filosofia, desde Platão, busca o universal abstrato, a narração ― atividade encarnada na figura feminina de Sherazade, a tecelã dos contos ― volta-se para os detalhes de uma história única, irrepetível. A delicada arte da narração confere a cada ser o seu desenho unitário em um espaço sempre relacional, exposto ao olhar e à história do outro. A filósofa Adriana Cavarero discute nesta obra, citada e celebrada por Elena Ferrante em seu livro de ensaios, como nossa identidade é tanto descoberta quanto moldada pelas histórias que ouvimos e contamos. É por meio da narração que conseguimos dar sentido às experiências e organizar as memórias que formam quem somos. Em uma fina análise de obras literárias, poesia, mitos antigos e evocando as práticas feministas italianas de grupos de autoconsciência, Cavarero elabora uma “filosofia da narração” que, confiada às mulheres e ao amor a vida, se apresenta como antídoto para o pensamento masculino, dedicado à definição abstrata e à morte. Olha-me e narra-me: filosofia da narração sai pela editora Bazar do Tempo; a tradução é de Milena Vargas. Você pode comprar o livro aqui.

Um diário que testemunha o andamento de uma guerra que alcança três anos em 2025.
 
Na madrugada de 24 de fevereiro de 2022, o escritor Andrei Kurkov foi acordado, em seu apartamento perto do centro histórico de Kyiv, com o barulho de explosões. Foram três. Uma hora mais tarde, outras duas. Eram mísseis russos, num ataque coordenado em vários pontos do país. Daquele momento em diante, a guerra passou a determinar seu modo de vida, seu jeito de pensar, seu jeito de tomar decisões. No dia seguinte, Kurkov deixou a capital sob ataque, se enfiou nas estradas congestionadas e partiu rumo a oeste. O escritor mais célebre do país, com dezenas de livros publicados e traduzido em mais de quarenta idiomas, tornava-se assim um dos milhões de desalojados ucranianos. Dias depois, refugiado com a família no apartamento de uma senhora que não os conhecia, ele abandonou a escrita de um romance para registrar, na forma de um diário, o que estava acontecendo. A seleção de mais de dois anos desses registros está em Ucrânia: diário de uma guerra, que a Carambaia lança com tradução de Marcia Vinha e Renato Marques. Você pode comprar o livro aqui.

REEDIÇÕES
 
Nova edição da obra que reúne uma peça-chave do pensamento de Susan Sontag acerca da imagem.
 
Imagens do sofrimento são apresentadas diariamente pelos meios de comunicação. Graças à televisão e ao computador, imagens de desgraça se tornaram uma espécie de lugar-comum. Mas como a representação da crueldade nos influencia? O que provocam em nós exatamente? Estamos insensibilizados pelo bombardeio de imagens? Em Ensaios sobre a fotografia, publicado no Brasil no começo dos anos 1980, Susan Sontag abordou o tema em termos que definiram o debate pelas décadas seguintes. Em Diante da dor dos outros ela faz uma nova e profunda reflexão sobre as relações entre notícia, arte e compreensão na representação dos horrores da guerra, da dor e da catástrofe. Discutindo os argumentos sobre como essas imagens podem inspirar discórdia, fomentar a violência ou criar apatia, a autora evoca a longa história da representação da dor dos outros — desde As desgraças da guerra, de Francisco de Goya (1746-1828), até fotos da Guerra Civil Americana, da Primeira Guerra Mundial, da Guerra Civil Espanhola, dos campos nazistas de extermínio durante a Segunda Guerra, além de imagens contemporâneas de Serra Leoa, Ruanda, Israel, Palestina e de Nova York no 11 de setembro de 2001. Num texto preciso e provocador, Sontag levanta questões cruciais para a compreensão da vida contemporânea. De sua reflexão surge uma formulação surpreendente e desafiadora: a relevância dessas imagens depende, em última instância, da maneira com que nós, espectadores, as encaramos. A tradução de Rubens Figueiredo é reeditada pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Coleção Estudos Saramaguianos 1. Editada pela editora Moinhos desde 2018 com coordenação de Pedro Fernandes de Oliveira Neto, o quarto título da coleção dedicada a pensar e discutir a obra de José Saramago recupera um dos primeiros estudos acerca do romance O Evangelho segundo Jesus Cristo.
 
Coleção Estudos Saramaguianos 2. O livro de Conceição Flores ganha, pela primeira vez, projeção nacional de circular restrita edição por uma editora universitária há mais de décadas. Revisto e ampliado, o livro examina o romance que esteve entre os fatores para a retirada de Saramago do seu país privilegiando os vínculos com o mito cristão. 

Mais do cubano Alejo Carpentier. A Pinard soltou o primeiro projeto a ser financiado pelos seus leitores em 2025. Trata-se do romance O recurso do método. O livro regressa com nova tradução. A campanha está aberta na Catarse.

Vem aí,  Jean Genet. Walter Porto, da Folha, anunciou que a partir do segundo semestre a editora Todavia iniciará a recondução da obra do escritor francês às livrarias. A previsão é que em agosto saia Nossa Senhora das Flores. Outros três títulos estão previstos para a partir do ano seguinte: O milagre da rosa, Querelle e Diário de um ladrão.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu Maria Teresa Horta.
 
Maria Teresa Horta nasceu a 20 de maio de 1937, em Lisboa, cidade onde construiu sua carreira literária e passou toda a vida. Mormente reconhecida entre as autoras das Novas cartas portuguesas, publicação que em 1972 pisou nos modos arcaicos do conservadorismo alimentado pela ditadura, a escritora se afirmou entre os nomes mais importante para a literatura portuguesa do século XX. A sua obra inclui prosa e poesia e é neste último gênero que se afirma o seu reconhecimento. Espelho inicial, o primeiro livro saiu em 1960 e depois mais de duas dezenas de outros títulos; Amor habitado (1963), Minha senhora de mim (1967), Educação sentimental (1975), As mulheres de Abril (1976), Rosa sangrenta (1987), Destino (1998), Inquietude (2006), Poemas para Leonor (2012), Anunciações (2016), Poesis (2017) e Estranhezas (2018) são alguns deles. Na prosa, estão, entre outros, Ambas as mãos sobre o corpo (1970), Ana (1974), Ema (1984), A paixão segundo Constança H. (1994), As luzes de Leonor (2011), Meninas (2014) e Quotidiano instável (2019). Em 2004, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República de Portugal. Maria Teresa Horta morreu no dia 4 de fevereiro de 2025.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. O louco do Cati, de Dyonélio Machado (Todavia, 320p.) Situada na ditadura Vargas, a narrativa segue a interrompida aventura de dois brasileiros quando intentavam correr o litoral do Sul e são pegos pelo regime militar que os levam para a prisão no Rio de Janeiro. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Em memória da memória, de Maria Stepánova (Trad. Irineu Franco Perpétuo, Poente, 520p.) Uma mulher passa em revista um passado pessoal que se confunde com a história coletiva através do diálogo com uma série de documentos encontrados no apartamento de uma tia recém falecida. Você pode comprar o livro aqui.
 
3. Vida, velhice e morte de uma mulher do povo, de Didier Eribon (Trad. Luzmara Curcino, Âyiné, 320p.) A partir de uma sentença médica que impele o escritor a internar mãe numa instituição de cuidados contínuos, acontecimento que culmina na sua morte, este romance é a travessia do luto pela reimaginação da vida de uma mulher comum que, sem o poder da palavra, seria uma a mais na extensa lista das vidas desperdiçadas. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Sophie Oliver, do Departamento de Inglês da Universidade de Liverpool, revelou a descoberta de dois poemas de Virginia Woolf. “Angelica” e “Hiccoughs” foram compostos para os sobrinhos Angelica e Quentin Bell em 1927. Rascunhados e com várias revisões, a descoberta confronta a frequente rejeição da romancista pela poesia como expressão artística. Os textos denunciam o seu ponto de vista ao privilegiar aspectos como a descrição bem-humorada ou o jogo com palavras, demonstrando que o poema serve ao capricho do quem escreve. Os dois manuscritos pertencem ao arquivo de Woolf no Harry Ransom Center, da Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos. Os dois arquivos podem ser apreciados aqui.
 
BAÚ DE LETRAS
 
Praticamente desconhecida dos leitores no Brasil, Maria Teresa Horta é, como sublinhamos na nota de obituário, autora de uma obra singular para literatura portuguesa no último século. Sublinhamos algumas publicações no Letras que assinalam a literatura de Teresa Horta.
 
1. Uma resenha do seu romance A paixão segundo Constança H. composta por Antonio Bezerra de Mesquita e Verônica Martins da Silva.
 
2. Um ensaio do poeta e acadêmico Márcio de Lima Dantas que passa em revista alguns dos livros de poesia de Maria Teresa Horta. 
 
3. Uma resenha de Eduardo Pitta, poeta português de alguma maneira ligado à Teresa Horta, assinala a reedição em seu país das Novas cartas portuguesas
 
4. E uma crônica em que Pedro Fernandes recorda o primeiro encontro com Maria Teresa Horta, em 2009. 
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Acho que a literatura é uma forma de conectar as pessoas. Acho que ler histórias é uma forma de construir uma conexão. E acho que saber que se está sozinho no mundo é uma coisa muito poderosa.
 
— Chimamanda Ngozi Adichie

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