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Kenzaburo Oe. Foto: Jeremie Souteyrat |
LANÇAMENTOS
Nos 90 anos de Kenzaburo Oe, a
editora Estação Liberdade publica o segundo livro de uma trilogia autoficcional do escritor japonês.
Os mistérios do vale e da
floresta; histórias, lendas e mitos contados pelos habitantes do vilarejo ao
longo de gerações; uma incessante busca pela conexão entre este mundo e o outro
— e um elemento que conecta todos: a memória. Em
O menino da triste figura,
o escritor Kogito Choko, alter ego de Kenzaburo Oe e também protagonista em
A
substituição ou
As regras do Tagame e
Adeus, meu livro!,
retorna a sua terra natal no interior da ilha japonesa de Shikoku. Junto com
seu filho Akari, Kogito toma residência em uma casa da família herdada após a
morte recente da idosa mãe e se vê em uma tentativa de remontar próprio passado
para escrever uma nova obra literária. Desta vez, contando com a ajuda da
espirituosa Rose, uma pesquisadora literária estadunidense, ele deseja escrever
sobre o “menino”, uma figura emblemática e intangível que inúmeras vezes ajudou
a salvar as pessoas da região. Acompanhado também por alguns conhecidos de
longa data, Kogito embarca em uma jornada de descobertas pelo vale e pela
floresta, visitando locais e se encontrando com jovens que poderiam dar
continuidade às lendas de sua terra natal. Oe, de pronto, evidencia sua
intertextualidade no título com uma alusão ao apelido criado por Sancho Pança
para se referir ao dom Quixote: “o Cavaleiro da Triste Figura”. Se por um lado,
da poesia consagrada ao texto religioso, as personagens dão voz a Shakespeare,
Yeats, Blake, à Bíblia, a poemas clássicos da literatura japonesa, por outro,
notamos autorreferências a obras anteriores escritas por Kogito, cujos títulos
são — coincidência ou não — muito próximos aos empregados pelo próprio Oe em
suas obras. Não são raras as vezes em que Rose compara Kogito ao fidalgo de La
Mancha, seja pelas peripécias onde acaba machucado ou por demonstrar inclinação
às causas aparentemente perdidas. Ao redor dele, com frequência são traçados
paralelos que causam menções a outros personagens do romance de Cervantes, como
Sancho Pança, Dulcineia, Rocinante e o Cavaleiro da Branca Lua. Enquanto os
aspectos físico e histórico do mundo narrativo descrito pelo autor parecem se
encaixar a nossa realidade, o recorte ao qual temos acesso parece mostrar um
universo que depende da palavra para poder funcionar. Tradução de Jefferson
José Teixeira.
Você pode comprar o livro aqui.
Poemas em prosa, rascunhos,
reflexões sobre poesia, fragmentos de correspondência: Francis Ponge nos leva à
sua oficina criativa.
Como podemos encontrar a palavra
certa para transcrever nossa experiência da natureza, do mundo vegetal, do
reino animal? O escritor revela seu método, mas também sua ética: para nos
reconectarmos com o mundo, para ampliarmos nossa existência, nossas palavras
não devem dominar as coisas, mas abraçá-las. “O que importa, em mim, é a
seriedade com a qual me aproximo do objeto e, de outro lado, a grande justeza
na expressão. Mas preciso me livrar de uma tendência a dizer coisas sem relevo
e convencionais. Não vale a pena escrever se não for por isso.” (Ponge, “O
pequeno caderno do pinhal”) Com tradução de Jorge Coli,
A voragem da
expressão é publicada pela Editora Unesp.
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A primeira tradução brasileira
de uma comédia escrita por Virginia Woolf em 1923, a única peça que ela chegou
a concluir.
Ambientada em 1870, a peça é uma
farsa leve e humorística da vida e da arte da época vitoriana, baseando-se
especialmente na figura da famosa fotógrafa e escultora Julia Margaret Cameron,
tia-avó de Woolf. A trama gira em torno de conflitos artísticos e amorosos em
uma casa de campo na Ilha de Wight, onde Cameron morava. Com seu tom lúdico e
personagens peculiares,
Freshwater oferece uma visão espirituosa e
crítica das convenções sociais e artísticas do século XIX. Talvez pelo fato de
ter sido escrita para entreter amigos nas noites de Bloomsbury, o texto não
costuma estar entre os objetos de análise crítica da maioria dos estudos sobre
a obra de Woolf. A peça foi montada pela primeira vez em 1935 no ateliê de
Vanessa Bell, em Londres, e, mais tarde, em Nova York. A tradução de Victor
Santiago, com prefácio de Ana Carolina Mesquita e posfácio de Davi Pinho, sai
pela editora Nós.
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Em pouco mais de oitenta
páginas, este breve romance apresenta ao leitor uma história extremamente
delicada, cheia de vida e ensinamentos.
Pode a música de um compositor
como Chopin dar sentido a toda uma existência? Guiar as decisões e caminhos de
uma vida inteira? Desde que escutou, quando criança, sua tia Aimée tocar uma
peça do compositor polonês no piano, Éric ficou fascinado. A prática do
instrumento durante a infância e a adolescência não se mostraram suficientes e
aquela música, como Éric a escutara pela primeira vez, ainda lhe escapava.
Haveria algum segredo na música de Chopin? Acompanhamos, ao lado do jovem
protagonista, as exigentes e excêntricas aulas de piano da singular senhora
Pylinska. Polonesa emigrada em Paris, dedica sua vida e suas aulas ao
compositor que mais ama — Chopin —, e ensina por meio de uma metodologia nada
convencional, muitas vezes propondo que seus alunos fechem o piano e saiam de
casa para observar os movimentos sutis da natureza e da alma humana: passear
pelo Jardim de Luxemburgo, escutar o silêncio em um quarto vazio e dedicar-se
aos relacionamentos amorosos. Aos vinte anos, estudante de filosofia em Paris e
com toda uma vida pela frente, a busca de Éric pela maneira perfeita de tocar a
música de Chopin e realizar seu desejo de infância ganha contornos
extraordinários quando ele inicia as lições com a excêntrica professora. A
trama ganha profundidade, sem perder o humor e a delicadeza, e se torna uma
grande lição de vida: sobre o amor, sobre relacionamentos, sobre escolhas
profissionais.
A senhora Pylinska e o segredo
de Chopin é publicado pela editora Zain com tradução de Mariana Delfini e
ilustrações de Carolina Moraes Santana.
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Elaine Vilar Madruga, autora de
A tirania das moscas
, expande seu talento para os domínios do horror com um
romance perturbador e ao mesmo tempo poético.
O céu da selva alcança
camadas de significado muito profundas ao tratar de temas como a condição
feminina, a maternidade, a violência e a degradação humana que assolam a
América Latina. Na trama, ambientada num cenário caribenho não especificado,
uma velha, suas duas filhas adultas, um homem e dezenas de “crias” humanas
predestinadas a uma finalidade cruel vivem em uma fazenda inóspita à beira da
selva. Mas algo está prestes a desequilibrar a bizarra engrenagem que rege o
funcionamento dessa família. Madruga evoca Medeia para construir um universo
implacável, no qual nenhuma mulher pode decidir não ser mãe e nenhuma mãe pode
colocar o amor acima de suas obrigações com a selva, essa deusa faminta que
permite viver em segurança em seus domínios e provê fartura, mas exige o mais
alto dos preços em troca. Publicação da editora Instante; tradução de Marina
Waquil.
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Augusto Boal e arte de atuar.
No final da década de 1950,
Augusto Boal e seus companheiros do Teatro de Arena revolucionaram — na
encenação, no repertório, na atuação, nos figurinos, na relação com o público —
o que se entendia por arte teatral no Brasil. Um dos pontos básicos desse novo
modo de encenação era tornar o espectador parte ativa do que acontecia no
palco. Com intenção abertamente política, em consonância com as promessas
democratizantes do desenvolvimentismo barradas pelo golpe de 1964, foi a origem
do que Boal chamou mais tarde de espect-ator: “todo mundo atua, age,
interpreta. Somos todos atores. Até os atores!”. Em 1971, após ser preso e
torturado, o teatrólogo parte para um longo exílio, percorrendo o mundo e
difundindo suas ideias nas mais variadas situações, inclusive entre pessoas
comuns, em lugares comuns como ruas e praças. A suma de todas essas experiências
está nas dezenas de exercícios teatrais deste Jogos para atores e não atores. Muito
além das fronteiras do teatro profissional, este repertório de técnicas é
utilizado hoje em atividades como a psicoterapia, a educação e a formação
política. Até 2008,
Jogos para atores e não atores foi constantemente
atualizado e, em 2013, a edição alemã incorporou todos os acréscimos feitos por
Boal para outras versões europeias, estabelecendo um texto final, aqui adotado.
O presente volume inclui textos inéditos em português reunidos em apêndice,
constituindo a versão mais completa entre as que circulam atualmente em
diversas línguas. Com estabelecimento de texto de Till Baumann e posfácio de
Sérgio de Carvalho, o livro é publicado pela Editora 34.
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Eve Babitz, a mulher que viveu
e soube narrar como ninguém o glamour da Hollywood dos anos 1970, estreia no
Brasil.
Dias lentos, encontros fugazes
apresenta a Los Angeles de Eve Babitz. Quente, veloz, efêmera, imperiosa,
sensual. Uma cidade que não se desculpa por não ser uma cidade, apesar dos
olhares tortos que alguns lançam para sua sujeira, desorganização e cores
vibrantes. Na L.A. dos anos sessenta e setenta, você pode encontrar Janis
Joplin numa piscina, dar uma volta de carro com um famoso diretor de cinema, ir
a festas na companhia de estrelas angustiadas e até visitar amigos escondidos
no famoso Chateau Marmont. Mas, para isso, você precisa conhecer a galera
certa. E Eve Babitz faz parte dela. Em dez contos, a escritora e artista visual
descreve o glamour e a decadência da L.A. que só quem viveu a era do “sexo,
drogas e rock and roll” sabe contar. Mas o que à primeira vista pode parecer
uma aventura extravagante é, na verdade, uma deliciosa, ácida e inteligente
autoficção que expande as fronteiras da imaginação e os limites da própria
cidade. Eve Babitz foi por si só um acontecimento. Reconhecida por sua beleza e
por experimentar livremente seus desejos, cultivou amigos, amantes e histórias
de bastidores daqueles anos boêmios. Sorte a nossa que, além de viver tudo
isso, ela soube narrar como ninguém os dias de verão, as festas, a
transitoriedade da vida e a vibrante paisagem californiana, que às vezes se
arrasta em dias lentos, mas, com certeza, se equilibra com seus encontros
fugazes. O livro é publicado pelo selo
Amarcord/ Record em fevereiro de 2025 com tradução de Cecilia Madonna Young.
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Hisham Matar e arte como
consolo.
A pintura da escola de Siena se
materializou pela primeira vez na vida de Hisham Matar quando o então jovem
estudante e futuro autor de
O retorno — o relato autobiográfico vencedor
do Prêmio Pulitzer — entrou na National Gallery, em Londres, em busca de
consolo após o sequestro e o desaparecimento de seu pai pelas mãos da polícia
secreta líbia. Diante desse terrível luto familiar, o colorido e a delicadeza
do trabalho, as curiosas formas geométricas e o impacto dramático das
composições de Duccio di Buoninsegna e seus discípulos, que parecem desafiar os
limites da imaginação, deixaram Hisham misteriosamente cativado e despertaram
nele um senso paradoxal de esperança no ser humano. Vinte e cinco anos depois,
como um crente devoto que vai ao epicentro de seu culto, o autor finalmente
visita a cidade onde essas obras foram criadas e mergulha em sua contemplação
direta, em busca de uma verdade que ilumina suas emoções mais íntimas. Além de
uma jornada esclarecedora pelas manifestações pictóricas dos mestres sieneses
dos séculos XIII, XIV e XV,
Um mês em Siena é também um exercício
profundamente comovente sobre a capacidade humana de superar a dor e o
infortúnio. Em uma prosa elegante e meditada o autor nos convida a refletir
sobre o valor da arte como um instrumento para iluminar nossa própria paisagem
interior e nos ajudar a entender o mundo ao nosso redor. Publicação da editora
Âyiné; tradução de Odorico Leal.
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REEDIÇÕES
Nova edição da sátira de
costumes em que a linguagem erudita convive com a de baixo calão, Moacyr Scliar
oferece novas e irreverentes versões para conhecidos episódios das Escrituras.
Uma mulher de nosso tempo,
empregada de uma loja de louças, submete-se a uma terapia de vidas passadas e
conclui que numa encarnação anterior, há três mil anos, foi ela que escreveu a
primeira versão da Bíblia. Por meio de um relato em primeira pessoa, conhecemos
a trajetória dessa personagem anônima, filha de um pastor de cabras do deserto,
que vai a Jerusalém e torna-se uma das setecentas esposas do rei Salomão,
apesar de sua notável feiura. Por ser a única letrada do harém, o soberano a
encarrega de escrever a história do povo judeu, ainda que para isso ela entre
em conflito com os sisudos escribas oficiais da corte. É pelos olhos dessa mulher
feiíssima e intelectualmente brilhante que percorremos os bastidores da corte
de Salomão e a vida cotidiana da Jerusalém de seu tempo. Por essa via oblíqua,
Moacyr Scliar constrói uma narrativa fascinante, que é ao mesmo tempo sátira e
romance de aventura. Como costuma acontecer nos livros do autor, o humor
irreverente anda de braços com um profundo humanismo, cujo traço mais evidente
é a simpatia pelos deserdados e excluídos.
A mulher que escreveu a Bíblia
é publicado pela Companhia das Letras.
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RAPIDINHAS
Adélia Prado repaginada 1. A
casa que cuida da obra da poeta possui alguns motivos para celebrar a obra da poeta
mineira como se deve. Dois deles são os reconhecimentos obtidos recentemente
com os prêmios Machado de Assis e Camões e a chegada de um novo livro de poesia
em 2025.
Adélia Prado repaginada 2. E
alguma
s novidades já estão disponíveis, como as novas edições dos livros
Bagagem,
O pelicano,
Terra de Santa Cruz e
O homem da
mão seca. O novo projeto editorial é assinado pelo designer Leonardo
Iaccarino a partir de artes de Manoela Monteiro.
Maria do Carmo resgatada.
Outra mineira, essa reclusa e desconhecida dos estreitos círculos literários,
vem à luz. A Martelo Casa Editorial encerrou 2024 disponibilizando a obra
completa da poeta.
Cave Carmen,
Coram populo e
Quantum satis
saíram numa caixa e em edições individuais com texto de apresentação de Silvana
Guimarães.
OBITUÁRIO
Morreu Marina Colasanti.
Marina Colasanti nasceu em Asmara,
na Eritreia, no dia 26 de setembro de 1937. Depois de passar pela Líbia e pela
Itália, a família se estabelece no Brasil em 1948. O itinerário de Marina
Colasanti pelas artes inicia com a pintura na Escola Nacional de Belas Artes,
formação que servirá no desenvolvimento das ilustrações de sua obra voltada
para o público infantil, um dos marcos na sua produção literária. O ingresso no
mundo das letras acontece concomitante ao trabalho como jornalista, função que
exerceu durante várias décadas e em várias frentes. Sua obra literária, além
dos livros para crianças, se desenvolve pela poesia e por outras expressões da
prosa, como o conto, a crônica, o ensaio e o romance. Autora de uma obra
vastíssima, Maria Colasanti construiu também uma generosa lista de
reconhecimentos: recebeu por diversas vezes o Prêmio Jabuti em categorias
diferentes — Melhor livro infanto-juvenil (1993, 1994, 2011), Melhor livro de
contos (1997), Melhor livro de poesia (1994, 2010), Melhor livro infantil (2014);
em 2009 sua poesia foi reconhecida com o Prêmio da Biblioteca Nacional; e em
2023, recebeu da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra, o Prêmio
Machado de Assis. Entre as obras mais recentes estão
Vozes de Batalha
(romance),
Mais longa vida (poesia),
A cidade dos cinco ciprestes
(contos) e
Quando a primavera chegar (infantil). Marina Colasanti morreu
no dia 28 de janeiro de 2025, no Rio de Janeiro.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Os tais caquinhos, de Natércia
Pontes (Companhia das Letras, 144p.) O dia a dia de uma família formada por
duas adolescentes e um pai acumulador; um itinerário pela constante procura das
pessoas, entre seus sonhos e fantasias, de uma vida outra.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
O diabo, de Gonçalo M.
Tavares
(Dublinense, 192p.) Um mundo de figuras e situações compiladas
das possibilidades infinitas do escritor com a imaginação. Aqui o Diabo é o que
nos ronda, como medo e a contradição.
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3.
O país que agora chamavam de
seu, de Saúl Sosnowski
(Trad. Maria Paula Gurgel Ribeiro, Iluminuras,
128p.) Um homem revisita memórias familiares fragmentadas por guerras, migrações
e escolhas individuais e outros tantos que iguais a ele buscam reconstruir suas
vidas a partir dos restos de um passado.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Neste recorte de uma entrevista concedida por Marina Colasanti em 2016 ao
programa Super Libris, da Sesc Tv, a escritora responde por que escreve — a
pergunta tão antiga quanto a arte de escrever.
BAÚ DE LETRAS
No passado 14 de janeiro,
celebramos o centenário de Yukio Mishima.
Neste fio organizado para a rede
Threads, reunimos algumas das publicações uma vez realizadas pelo
Letras envolvendo
a obra e a biografia do escritor japonês. Se o leitor, preferir,
o mesmo fio
saiu também no Twitter.
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