Boletim Letras 360º #620

DO EDITOR
 
Olá, leitores, como estão? Aproveito o espaço para registrar que estão abertas as inscrições para a escolha de novos autores interessados em escrever para este blog.
 
As candidaturas podem ser registradas através do e-mail blogletras@yahoo.com.br até o dia 16 de fevereiro de 2025. Os interessados devem enviar duas coisas: um arquivo com resumo biográfico e registrando alguns dos motivos do interesse em compor nossa equipe; e três textos observando as nossas normas de publicação.
 
Qualquer dúvida, podem nos contatar pelo e-mail referido ou através dos serviços de mensagem em alguma das nossas redes sociais. Se o leitor não escreve ou não se interessa em se candidatar, mas possui alguém no seu círculo perfeito para essa proposta, compartilhe essa chamada.
 
Ah, não me despeço sem lembrá-los que na segunda-feira, 27, regressamos às entradas diárias por aqui. É o ano 18 do Letras que, aliás, alcançou a expressiva marca das 7 milhões de visitas por esses dias. Começamos bem, não acham?
 
Um abraço a todos.


Kazuo Ishiguro. Foto: Chris Pizzello


 
LANÇAMENTOS
 
O ano começa com a publicação entre nós da tradução do romance de estreia do Prêmio Nobel de Literatura Kazuo Ishiguro.
 
Uma visão pálida das colinas é um breve romance narra a vida de duas mulheres em uma Nagasaki destroçada pela guerra e marcada pelas mudanças bruscas da ocupação estadunidense. É também um livro que estabelece os elementos que marcam o estilo do escritor e definem sua carreira: a mistura exata entre drama histórico e pessoal, e personagens que, por meio de seus silêncios, revelam o abismo de um trauma impronunciável. Etsuko, dona de casa burguesa, grávida de primeira viagem, aproxima-se de uma mulher peculiar e de sua filha pequena, vivendo solitárias e na penúria numa misteriosa casa abandonada. A partir dessa imprevista amizade, Etsuko projeta seus medos e inseguranças nas atitudes erráticas da amiga, que julga com severidade, ao mesmo tempo em que parece estar fadada a cometer os mesmos erros, em um complexo jogo de espelhos. Em poucas páginas, Ishiguro elabora personagens de vasta densidade emocional e um retrato de um país afundado em crise identitária. Uma obra assombrosa e delicada, que sintetiza o talento de um autor que viria a receber o prêmio Nobel. O livro é publicado pela Companhia das Letras; tradução de Jorio Dauster. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma nova edição e tradução do livro que descobriu a excelente escritora da já consagrada ensaísta Elizabeth Hardwick.

Publicado em 1979, quando Elizabeth Hardwick tinha sessenta e três anos Noites insones faz uma sensível e literariamente brilhante reflexão sobre a própria memória, além de ser precursor da autoficção. Nas lembranças que povoam as noites insones da narradora — uma idosa chamada Elizabeth, internada em uma clínica geriátrica —, figuras reais, como a cantora Billie Holiday, dividem espaço com fictícias, as quais por vezes se misturam à vida de Hardwick, como o personagem sem nome que alude a Robert Lowell, prestigiado poeta com quem viveu um tumultuado casamento. O romance inclui vislumbres das corridas de cavalo no Kentucky, dos clubes de jazz de Nova York, do bairro mais elegante de Boston, Beacon Hill, dos canais de Amsterdã, além de encontros com comunistas, poetas e a intelligentsia literária nova-iorquina. Ainda lança luz sobre questões que já afligiam Hardwick na época, como racismo, sexismo e pobreza. Apesar da tristeza incrustada nas memórias, a obra se dá ao luxo de acreditar que no futuro tudo será diferente. Com tradução de Gisele Eberspacher, o livro sai pela editora Instante. Você pode comprar o livro aqui.
 
Este segundo volume da coleção César Aira ― composta de dezesseis títulos a serem publicados ao longo de quatro anos ― apresenta outras e diversas faces do prismático escritor argentino que vem implodindo incansavelmente o senso comum literário. Com mais quatro peças de um gigantesco mosaico, a caixa publicada pela editora Fósforo traz desde uma nova tradução da novelita mais adorada do público brasileiro até um ensaio autobiográfico profundamente poético, espécie de balanço da vida do escritor, sem deixar de fora, é claro, as pulp fiction amalucadas e adoradas (leia os detalhes de cada livro a seguir): Com tradução a quatro mãos de Joca Wolff e Paloma Vidal, a coleção continua a oferecer posfácios de especialistas brasileiros e escritores contemporâneos do Brasil e da Argentina, reiterando o convite para observar de perto a constelação airiana. Você pode comprar o livro aqui.
 
1. O divórcio. Diz-se que este livro foi escrito sob influência de A divina comédia, lida por César Aira pouco antes de concluí-lo, em 2008. Dada a espiralização de histórias cada vez mais idiossincráticas, é mesmo provável que o autor argentino tenha sido impactado pelos círculos do inferno de Dante Alighieri. Dizendo assim, a novelita pode não parecer tão divertida, mas, como afirma Patti Smith em posfácio a esta edição “o brilhantismo do pesadelo o torna irresistível”. De início, engatamos na história de um professor universitário recém-divorciado que passa férias no bairro de Palermo, em Buenos Aires. Em seguida, por uma sucessão de coincidências que põe em xeque todas as convenções literárias, acompanhamos um incêndio, um aprendiz de artista e um misterioso manual. Terminando, uma coisa é certa: fica-se totalmente transformado pelo frescor criativo da cosmologia airiana.
 
2. Parmênides. O político e sacerdote grego Parmênides decide escrever um livro. Há muito com o propósito em mente, acredita que é a peça que falta para firmar o seu prestígio na sociedade. O hierarca deseja elaborar um tratado “sobre a natureza”, mas lhe falta o conhecimento literário, o que o leva a contratar o poeta Perinola para ajudá-lo. Em meio a encontros e conversas animadas, os dois constroem uma amizade equilibrada em uma cega e mútua confiança. Assim os anos vão passando, e o livro, sonho de um e motivo de angústia para o outro, parece não deixar o mundo das ideias. Tecida com o fio da mais fina ironia, esta novelita contém reflexões antológicas sobre o ofício de escritor, o reconhecimento profissional e as contradições imiscuídas na equação tempo e dinheiro. E, como afirma Antonio Marcos Pereira no posfácio à edição, na narrativa de Aira, “tudo é passível de ser banalizado […], tudo pode virar burla”.
 
3. Aniversário. Alguns meses depois de completar cinquenta anos, em uma conversa corriqueira com sua esposa sobre fases da Lua, César Aira se dá conta da dimensão da própria ignorância acerca de assuntos banais. A anedota dispara uma série de reflexões sobre as certezas, o conhecimento, a vida, a morte, a juventude, o tempo e o seu desfrutar. Este é um ensaio magistral, profundo e sensível, que lança luz sobre os principais pilares do pensamento e dos procedimentos de escrita de um dos maiores autores argentinos vivos. Trata-se de leitura indispensável tanto para quem já o admira, quanto para quem quer conhecer a mente genial em sua forma mais sincera e autêntica possível, uma vez que, como afirma Joca Reiners Terron em posfácio à edição, nela “Aira nos oferece uma das mais precisas metáforas jamais concebidas acerca do fazer literário”.
 
4. Um episódio na vida do pintor viajante.  Johann Moritz Rugendas foi um pintor naturalista alemão, discípulo de Humboldt, que viajou à América Latina para documentar o exotismo tropical, registrando em imagens um imaginário que se fixaria por séculos no mundo ocidental. Essa história amplamente conhecida ganha novos e cômicos contornos pelas tintas de César Aira. Nesta novelita , uma de suas mais aclamadas, o narrador refaz o percurso de Rugendas, interrompendo seu destino de viagem com um episódio inesperado. À semelhança dos modernistas, Aira nos faz refletir sobre colonialismo e arte ao brincar com ideias preconcebidas ― como o mito originário argentino de que Rugendas desejava chegar a Buenos Aires, ou a crença de que era apenas um documentalista, como explica Luciene Azevedo no posfácio à edição ―, e desconstrói os lugares-comuns históricos, dando sempre um passo além, ou, em suas palavras, fugindo para a frente.
 
Tove Jansson para adultos. Chega aos leitores brasileiros um romance da autora já nossa conhecida na literatura infantil.
 
Passando o verão em uma ilha remota na costa finlandesa, Sofia e sua avó vivem uma série de pequenos alumbramentos. Juntas, caminham pela praia e pela floresta; constroem barcos de cortiça e uma Veneza em miniatura; escrevem um rebuscado estudo sobre os insetos locais. Em meio a tudo isso, discutem — às vezes fervorosamente — questões que interessam a pessoas de qualquer idade: vida e morte, a natureza de Deus e o amor. Escrito em 22 capítulos curtos, interligados e ao mesmo tempo autônomos, O livro do verão é um mosaico extraordinário de sensações ligadas à temporada na praia: seus cheiros, suas paisagens, seu tempo. Ilustradas pela própria autora, estas páginas mostram Tove Jansson em todo o seu domínio da narrativa breve, desdobrando universos com um simples toque. Publicação da editora Martins Fontes; tradução de Luciano Dutra. Você pode comprar o livro aqui.
 
A Editora 34 oferece sua edição de uma obra que começou a ser resgatada em 2024 por ocasião do Vestibular da FUVEST.
 
Em 1873, um ano após o lançamento de Nebulosas, um crítico português de renome considerou que os versos do livro mais pareciam “trabalho de um poeta de combate do que estrofes saídas da pena de uma senhora”. A observação dá a medida do espanto que causou a obra de Narcisa Amália, publicada em 1872, quando tinha apenas vinte anos de idade, e da resistência que encontrou. A presente edição procura resgatar do esquecimento a obra dessa poeta singular, abolicionista, republicana e feminista, pioneira em vários campos. Para isso, foi feito um cotejo minucioso com o texto da primeira edição de 1872, o que permitiu recuperar a divisão original do livro em três partes e o sentido de muitos versos, obscurecido pelo acúmulo de erros em sucessivas publicações. O volume conta com uma apresentação da historiadora e socióloga Maria de Lourdes Eleutério, que situa a escritora e sua obra no quadro das ideias e das disputas políticas do Brasil à época, analisando a recepção de Nebulosas no meio literário de então. Todos os poemas do livro são acompanhados por notas, glossário e um comentário que oferece chaves de leitura para o seu entendimento. Completam a edição o prefácio original de Pessanha Póvoa, a crítica de Machado de Assis feita no ano de seu lançamento (1872), o ensaio “A mulher no século XIX”, de Narcisa Amália (1882), e dois poemas adicionais de sua autoria, “Perfil de escrava” (1879) e “Por que sou forte” (1886). Você pode comprar o livro aqui.
 
O livro de Sónia Serrano conta a história de várias mulheres que, ao longo dos séculos, desafiaram convenções e viajaram sozinhas.
 
São mulheres que muitas vezes tiveram que assumir identidades masculinas para viver livremente seus sonhos e não se deixaram restringir aos espaços que lhes eram reservados. Enquanto descobriam a si próprias e a um mundo que sempre lhes foi proibido, essas mulheres também se destacaram ao mapear regiões, descobrir novas espécies de plantas, tratamentos para doenças e tesouros arqueológicos, além de assumir posições centrais nos debates e negociações geopolíticas de sua época. Desde Egéria que, no século IV partiu da Península Ibérica para a Terra Santa, passando pelas aventureiras que se lançaram às grandes navegações e pelas arrojadas vitorianas que desbravaram os confins do Império Britânico ― até o século XXI, que traz um capítulo sobre Tamara Klink escrito exclusivamente para a edição brasileira, entre o de diversas autoras contemporâneas ―, Serrano seleciona e cita trechos das obras que resultaram desses périplos, oferecendo uma bela amostra da literatura de viagens escrita por mulheres ao longo do tempo. Mulheres viajantes é publicado pela Tinta-da-China Brasil. Você pode comprar o livro aqui.

REEDIÇÕES
 
Nova edição do romance de estreia de Oscar Nakasato, vencedor do Prêmio Jabuti em 2012.
 
Uma saga familiar contada a partir da vida de Hideo Inabata, um imigrante orgulhoso da própria nacionalidade que, como tantos conterrâneos, aporta no Brasil no início do século XX para trabalhar nas lavouras de café do interior de São Paulo. Imbuído da sagrada missão de levar recursos ao seu país natal, conforme orientação do imperador aos seus súditos, Hideo logo se defronta com mais dificuldades do que imaginava, e as expectativas dos primeiros dias no navio logo se transformam diante do trabalho árduo e dos choques culturais na nova terra. Ele, no entanto, não cede às dificuldades: resiste à morte da primeira esposa, Kimie, e rejeita as influências da cultura local apresentadas pelos filhos nikkei Haruo e Sumie com a inflexibilidade do que considera ser a honra de um autêntico nihonjin. Narrada pelo neto de Hideo, Noboru, essa saga lança luz sobre o amor, a união, as distâncias e as diferenças de três gerações de uma comunidade que há mais de cem anos vem se emaranhando a outras para tecer juntas os fios da história brasileira. Da vida dura na lavoura ao comércio no bairro da Liberdade, em São Paulo, da hospitalidade de um país que se abriu para imigrantes às perseguições sofridas por este mesmo país durante a Segunda Guerra Mundial, Nihonjin retrata os dilemas no seio da comunidade nipônica, e vai além ao destrinchar o que há de mais universal na dor humana de ver os próprios sonhos se esvaírem. Quando foi publicado pela primeira vez, em 2011, o romance logo conquistou a crítica, angariando os prêmios Benvirá (2011), Nikkei — Bunkyo de São Paulo (2011) e Jabuti (2012) na categoria romance. Depois de ser adaptado para a animação Meu avô é um Nihonjin (2024), o livro volta em nova edição para reencantar leitores com a jornada da família Inabata, e, como afirma Leonardo Sakamoto no texto de orelha: “Nihonjin é um espelho, talvez desconfortável. Porque, no final, todos estamos tentando responder à mesma pergunta: quem somos nós nesta imensa lavoura chamada Brasil?” Publicação da editora Fósforo. Você pode comprar o livro aqui.


Esta é uma edição de recesso, por isso o Boletim Letras 360º é apresentado sem as seções complementares desta publicação.


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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.

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