|
Adília Lopes. Foto: Joana Dilão |
LANÇAMENTOS
O primeiro importante
lançamento de 2025? Este romance desafia a ideia de progresso e nos confronta
com a pergunta: o que realmente importa quando tudo o que resta é sobreviver?
Ao acordar sozinha no chalé de
caça onde estava hospedada nos Alpes austríacos, a narradora deste romance
descobre-se cercada por uma barreira invisível e intransponível. Do outro lado,
o mundo parece petrificado, suspenso num misterioso estado de destruição imóvel
e silenciosa. Sem acesso à civilização, ela precisa aprender a sobreviver em
completa solidão, acompanhada apenas por um cachorro chamado Lince, uma vaca
que batiza de Bella e uma gata. A certa altura de seu isolamento, põe-se a
escrever um “relato” — o próprio romance que lemos — no qual narra o abandono
gradual de sua identidade social, e particularmente da ideia de feminilidade
que a sociedade lhe impunha. “A narradora de Haushofer passa grande parte do
romance se despindo de sua essência”, observa James Wood no posfácio incluído
nesta edição brasileira. “A primeira coisa a ir embora é o exoesqueleto social
de sua feminilidade.” Reconhecida como uma das grandes obras da literatura
distópica e feminista, e publicada em 1963 — um prenúncio dos piores anos de
tensão nuclear na Guerra Fria —,
A parede apresenta, com precisão e
força narrativa, uma jornada íntima e universal. Ao mesmo tempo, propõe uma
visão também utópica: sozinha, a protagonista forma uma nova comunidade baseada
no cuidado e na conexão com a natureza. Para ela, amar um animal se torna mais
fácil — e talvez mais verdadeiro — do que amar um ser humano. Em uma narrativa
que combina o realismo vívido da vida reconstruída a partir do essencial —
plantar, caçar, cuidar — e uma meditação filosófica sobre o tempo, o corpo e o
sentido da vida, Haushofer captura uma radical dessencialização do humano. “É
difícil deixar de lado um delírio de grandeza há muito enraizado”, constata a
narradora. Tradução de Sofia Mariutti; publicação da editora Todavia.
Você pode comprar o livro aqui.
Próxima dos camponeses e
socialista por vocação, a autora francesa George Sand retrata o território
rural com um olhar aguçado. Livro reúne três dos seus romances.
O pântano do diabo (1846),
O
campesino (1847) e
Fadete (1848) foram publicados no formato de
folhetim em um curto período e representam um ponto alto na carreira da
escritora, uma das figuras femininas mais destacadas do século XIX no cenário
literário. Sua postura questionadora dos gêneros e seu lugar na sociedade
revelam uma autora politicamente engajada, o que se nota também nos seus muitos
romances campestres, dos quais os três aqui reunidos são representantes. Nas
obras, um elogio do campo, longe do caos da metrópole parisiense, entra em
contraste com as agruras que os camponeses viviam durante uma época de
transformações sociais severas. Triunfa, acima de tudo, uma defesa encantadora
da preservação natureza e seus mistérios. Tradução, organização, notas e
introdução de Mônica Cristina Corrêa. Publicação da Penguin/ Companhia das
Letras.
Você pode comprar o livro aqui.
Carlos Henrique Coimbra inicia na ficção com Catimbó caboclo.
Na verdade, um romance com todas as características do gênero: muitas
personagens, amplo palco para os acontecimentos narrados, além de uma bem
urdida trama. Posso dizer também, e disso estou convicto, que o livro se
enquadra na melhor tradição do ciclo romanesco, ocorrido no final dos anos 1920
e durante os anos 1930, constituindo o tão estudado e louvado movimento
regionalista (Romance regionalista). Porém, Carlos Henrique Coimbra não só
escreveu um romance nordestino, mas, principalmente, um romance pernambucano,
com especial interesse nas coisas, no modo de falar dos nativos, nos hábitos e
costumes consolidados, na religiosidade do povo, nos logradouros, com citação
de personalidades reais, fossem autoridades públicas, como também de escritores
que aqui ambientaram seus romances. É realmente um acontecimento importante
quando vemos surgir um novo ficcionista, talentoso, culto e, acima de tudo, cuidadoso
com a língua. Publicação da Arte & Letra. Você pode comprar o livro aqui.
Alguns contos de Púchkin.
Extremamente cultuado na Rússia,
Aleksandr Púchkin construía híbridos entre narrativa e poesia, como os textos
traduzidos em
O cavaleiro de bronze e outros contos em versos. Estas
narrativas exibem amplitude temática e densidade estilística, e atuam como
porta de entrada para a obra do autor russo. A antologia compila cinco textos
escritos entre os 21 e os 34 anos de Aleksandr Púchkin e que, ao lado do
lendário romance em verso
Evguiêni Oniéguin, representam o ponto alto de
sua carreira. Na narrativa que dá título ao livro, contemplamos uma São
Petersburgo onírica, onde estátuas ganham vida, e fábula e realidade se mesclam
em imagens fortes e precisas. Púchkin sempre se interessou por historietas
ouvidas em conversas com populares, anotando expressões coloquiais cotidianas,
que depois transmutaria em poesia de sofisticação estilística. A obra do
escritor, considerado tão importante quanto Tolstói ou Dostoiévski para as
letras mundiais, se torna acessível pela cuidadosa tradução do russo, pelas
notas e pela apresentação de Rubens Figueiredo. Edição da Penguin/ Companhia
das Letras.
Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Nova edição de um dos mais originais livros de história.
E também um dos mais gostosos de ler.
Nele, Robert Darnton arma um fascinante quebra-cabeça em que surge o perfil
inesperado de um grupo cujo papel instrumental na queda do Antigo Regime foi,
até então, negligenciado pelos historiadores. Tal grupo constitui o submundo
literário:
philosophes falidos, editores piratas e livreiros clandestinos — ou
os “Rousseaus de sarjeta”, termo que, já no século XVIII, havia sido
aplicado a Restif de la Bretonne. Assim, Darnton analisa o final do Iluminismo
do mesmo modo como historiadores recentes vêm examinando a Revolução Francesa:
de baixo. Num estilo ágil e cativante, ele
contrasta a carreira de subliteratos como Jean-Baptiste-Antoine Suard ou o
abade La Senne, hoje merecidamente esquecidos, com o prestígio gozado por
autores como Voltaire ou D'Alembert; dá uma visão desmistificadora do futuro
líder girondino Jacques-Pierre Brissot de Warville, que se tornou espião da
polícia após sua prisão na Bastilha, em 1784; traça um panorama do comércio de
literatura proibida no século XVIII — os chamados livres
philosophiques,
denominação sob a qual se abrigavam obras pornográficas, contra a religião ou
sediosas; ou examina um gênero típico da época, o
libelle ou panfleto obsceno. Com isso, Darnton contribui de
forma decisiva para aquilo que outro célebre historiador daquele período,
Daniel Mornet, chamou de “as origens intelectuais da Revolução”. A nova edição de
Boemia
literária e revolução: o submundo das letras no Antigo Regime sai pela
Companhia das Letras. Tradução de Luís Carlos Borges.
Você pode comprar o livro aqui.
OBITUÁRIO
Morreu Adília Lopes.
Adília Lopes nasceu em Lisboa no dia 20 de abril de 1960. Iniciou os estudos em
Física na Universidade de Lisboa, mas tão logo abandonou a faculdade passou a
se dedicar à poesia. Os primeiros versos vêm ao público no coletivo Anuário
de poetas não publicados. A descoberta para a literatura conduzirá, em
parte, a decisão por um novo curso superior na mesma instituição, em Literatura
e Linguística. São os anos oitenta o de consolidação da atividade com a poesia;
saem Um jogo bastante perigoso (1985), O poeta de Pondichéry
(1986) e O decote da dama de espadas (1988). Nas décadas seguintes sua
obra se expande vigorosamente aperfeiçoando-se na estratégia de significação do
cotidiano e do coloquial; saem títulos como Os cinco livros de versos
salvaram o tio (1991), Maria Cristina Martins (1992), O peixe na
água (1993), A continuação do fim do mundo (1995), A bela
acordada e Clube da poetisa morta (1997), Florbela Espanca
espanca e Sete rios entre campos (1999), Irmã barata, irmã batata
(2000), Quem quer casar com a poetisa? (2001), A mulher-a-dias
(2002), César a César (2003), Caras baratas (2004), Apanhar ar
(2010), Andar a pé (2013), Manhã e Capilé (2015), Bandolim
e Z/S (2016), Estar em casa (2018), Dias e dias (2020), Pardais
(2022) e Choupos (2023). Adília Lopes morreu no dia 30 de dezembro de
2024, em Lisboa.
Esta é uma edição de recesso, por isso o Boletim Letras 360º é apresentado sem as seções complementares desta publicação.
...
CLIQUE AQUI E SAIBA COMO AJUDAR COM A PERMANÊNCIA ONLINE DO LETRAS Quer receber as nossas publicações diárias? Vem para o nosso grupo no Telegram
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
Comentários