Um poeta na fila do feijão
Por Thiago Teixeira Carlos Drummond de Andrade. Arquivo de Pedro Augusto Drummond Não sei se nos anos de 1940 ainda se passava pela cabeça de algum poeta encastelar-se como aquele Beneditino que ficava longe do estéril turbilhão da rua (ainda que se tenha taxado a vindoura geração de 45, que já começava a aparecer, como conservadora e um tanto parnasiana), afinal, já naquela altura o turbilhão da rua passou a ser fonte de poesia, e o que o poeta buscava era mesmo sujar o brim branco na primeira esquina. Sei apenas que foi nesses anos 40 que Drummond lançou Sentimento do mundo , 1 no qual o vemos em angústia por perceber entre si e o trabalhador braçal uma distância insuperável, como fica claro em “O operário no mar”. “Quem sabe se um dia o compreenderei?”, pergunta-se, explicitando o distanciamento em relação ao operário, esse agente histórico tão importante no século XX. Um mar separa Drummond do operário, mesmo com toda a vontade de se unir a ele, de modo que mesmo no político livro...