A palavra rompe o gelo
Por Javier Aparicio Maydeu Jón Kalman Stefánsson. Foto: Leonardo Cendamo É possível que não seja outra coisa senão a complexidade, a gama de nuances, mesmo quando não emergem ou oscilam em elipses, que transforma uma história em literatura. O que George Steiner chamou o eco fértil, a evocação inevitável, germina na prosa de Jón Kalman Stefánsson. A tristeza dos anjos parece um díptico. Uma primeira parte corresponde a um interior islandês em que uma epopeia da vida cotidiana se sobressai acima da vida doméstica, dos hábitos simples e cativantes de uma xícara de café quente — mais de uma cena relembra a pintura íntima de portas, mulheres, leitura e silêncio do dinamarquês Vilhelm Hammershøi transferida para o meio rural —, a casa de salga de bacalhau ou um velho rabugento. A marca de Selma Lagerlöf parece evidente nestas páginas em que a intensidade psicológica enriquece as relações humanas que ocupam uma existência terrena dissolvida no líquido ambíguo do sonho. A prosa lírica