Ode ao passeio e ao caminhante: Baudelaire, Debord e a cidade
Por Pilar R. Laguna Gustave Caillebotte. Rua parisiense, dia chuvoso Existem dois tipos de pessoas, as que passeiam e as que não passeiam. A menos que uma causa importante os impeça, reconheço a minha profunda incompreensão em relação a estes últimos. Vaguear é uma atividade essencialmente humana, ou assim gosto de pensar, e quando não a praticamos é como se estivéssemos negando uma parte substancial da nossa essência. Não estou falando do deslocamento prático, estou falando da deambulação descontraída, aleatória e reflexiva que é quase uma prática mística e transformadora. Uma ferramenta para despertar a atenção, a criatividade e até rebeldia. O passeio — em oposição ao ato de simplesmente caminhar — tem como premissa uma sede sem a qual é impossível ocorrer em todo o seu esplendor. Deve haver uma intenção transformadora no caminhante: o desejo de voltar um outro. Não tem nenhuma relação com rotinas ou deveres e é principalmente um exercício psicológico e de atenção — especialment