Um ditador na linha, de Ismail Kadaré
Por Henrique Ruy S. Santos Ismail Kadaré. Foto: Eric Garault Desde as primeiras luzes do racionalismo moderno, lançadas sobre o mundo por epígonos do Renascimento e do Iluminismo, as relações da arte com o mundo, digamos assim, externo se modificaram definitivamente. Afastando-se de maneira cada vez mais radical do domínio religioso e das funções de culto, a esfera do artístico passou a se autonomizar de maneira decisiva. A consagração do sentimento estético e da maneira tipicamente moderna como encaramos a ideia do Belo passa por esse processo de consolidação da arte como um mundo regido por valores próprios, ainda que, por vezes, subordinados a princípios absolutos. Essa progressiva autonomização leva ao surgimento de tendências artísticas que, em última instância, se fecham sobre si mesmas e se concentram em seus próprios procedimentos e técnicas. O hermetismo literário, as concepções da ideia da arte pela arte e a popular imagem da torre de marfim são, de certa forma, manifest