Quatro problemas de filogenia na narrativa breve contemporânea
Por Michelle Roche Rodríguez Ilustração: Afonso Cruz. 1 Até quando procuraremos “mestres”? Procurar “mestres” é tão ineficaz quanto apegar-se ao cânone. Há algum tempo, a palavra “cânone” tem sido usada para designar as obras de autores que merecem destaque da crítica acadêmica ou da imortalidade das coleções de “clássicos” nas editoras. Mas o desafio ao cânone nasceu com o próprio cânone. Desde o início, este foi percebido como um clube exclusivo do qual se rejeitava aqueles que escreviam da periferia, incluindo as mulheres. Em O cânone ocidental (1994), Harold Bloom, autoridade no tema, reclama da existência de uma certa “Escola do Ressentimento”, oriunda de uma “trama acadêmico-jornalística” interessada em refutar o cânone para promover “supostos (e inexistentes) programas de mudança social”. Refere-se, claro, ao feminismo e a outros grupos ligados às reivindicações raciais que, mais de trinta anos antes, se tinham estabelecido como eixos do movimento pelos direitos civis nos E