Sobre a ironia e três irônicos: Eça, Machado e Saramago
Por Henrique Ruy S. Santos A reflexão e o estudo da ironia têm séculos de história e remontam, como quase tudo, à Grécia Antiga, cujos principais pensadores a analisavam sob o prisma das artes retóricas. Na literatura, mais do que artifício retórico, foi incorporada pelo Romantismo alemão como uma forma peculiar de enxergar tanto o mundo quanto a linguagem, colocando sob escrutínio o próprio fazer literário e as próprias condições de narratividade. Dito isso, para este texto, gostaria de partir de uma definição talvez pouco literária, mas que lança luz sobre aspectos que valem a pena ser conferidos. Oswald Ducrot, principal nome da Teoria da Enunciação, explica a ironia como maneira de fundamentar sua teoria polifônica da enunciação. Para Ducrot (1987), não há apenas um único responsável por um enunciado, mas pelo menos três entidades distintas: o sujeito falante, o locutor e o enunciador. O primeiro é a pessoa de carne e osso responsável pelo proferimento do enunciado (do ponto de v