Kafka e o cinema
Por José Agustín Mahieu Anthony Perkins como Josef K. em O processo , de Orson Welles Examinando a filmografia dedicada a Franz Kafka, o que chama a atenção, mais do que a sua escassez, é o distanciamento concreto que a maior parte das obras estabelece da complexa urdidura criada pelo autor. Não se trata de uma infidelidade aos originais: em geral estas obras têm respeitado, talvez demasiadamente, os aspectos externos do mundo de Kafka. E já se sabe que no cinema inspirado na literatura nada engana mais do que a fidelidade formal. Acontece que o único cineasta suficientemente brilhante (e/ ou vaidoso) para ousar dar a sua própria interpretação de uma história do escritor tcheco foi Orson Welles em O processo : discutível, sem dúvida, mas nunca superficial. Em primeiro lugar, parece óbvio que a persistente relutância do cinema ante a possibilidade de “adaptar” Kafka se deve em grande parte às suas dificuldades formais; não tanto pelos seus “roteiros”, quase sempre de uma enganosa sim