Se por acaso a casa queimar
Por Eduardo Galeno O sacrifício, 1986. Museum of Arts and Design. É normal imaginar O sacrifício como o canto do cisne. Tanto porque compreende um último filme produzido numa carreira quanto porque o seu lançamento antecede o desaparecimento físico de Tarkovski, ocorrido poucos meses depois, em dezembro de 1986. Mas poucos se atentam para a insígnia de O sacrifício pertencer a um caso específico na história do cinema. Uma clara evidência que possa apontar a esse fenômeno de fidelidade total e incondicional emerge do fato do autor Tarkovski procurar falar, sim, de essência , Verdade e espírito em plena década de 1980, em plena Guerra Fria. De falar, contrapondo ao ethos comum, numa origem . De não apenas falar, mas defender a dissidência. Autor : palavra presente no corpo dissidente de Tarkovski. Ele era, aliás — confessadamente —, antes um poeta (escritor), depois um cineasta. Tentava, a todo tempo, se escrever . Exatamente nesse plano, a economia das imagens, palavras e son