Quatro pessoas
Por Alejandro Zambra Jacob Lawrence. The Businessman Quão solitário é o trabalho de um escritor? Pergunta-me um amável desconhecido, por pura curiosidade, ao fim de uma sessão de leituras. Respondo vacilante, não estou seguro. Penso no lugar-comum do escritor trancafiado por muitas horas, lutando com suas convicções, com seus desejos. Lembro-me deste fragmento tão dramático e de certa forma cômico em que Kafka confessa o desejo de isolar-se em uma caverna, apenas com uma lâmpada e seus materiais de escrita: “Haveriam de trazer-me a comida e a deixariam sempre longe de onde eu estava instalado, atrás da porta mais externa da caverna. Ir buscá-la, em roupa de dormir, passando por todas as abóbadas, seria meu único passeio.” Ao escrever ficamos ausentes do mundo e por vezes dias inteiros se passam em que saímos apenas para comprar cigarros ou levar o cachorro para passear (e costuma ser o cachorro que nos leva para passear). Mas não estou certo de que escrever seja um ofício solitár