Menos que um, de Patrícia Melo
Por Gabriella Kelmer Patrícia Melo. Foto: Marcelo Tabach Os desafios de conceber um texto literário que dê vazão a questões sociais complexas, como a problemática da falta de moradia, da miséria, do racismo e da transfobia, apenas para elencar algumas temáticas tocadas pelo mais recente romance de Patrícia Melo, são bem conhecidos. De um lado, há o problema da possível objetificação de determinadas linguagens, o que se traduz pela intransponível distância entre narrador culto e personagens desvalidas, bem como pela fetichização do dialeto, da gíria e das regionalidades em um alvoroço pouco convincente de estereótipos; de outro, há a literatura panfletária, os clichês e as construções repisadas, que, se pouco acrescentam ao alcance social dos temas de que tratam, menos convincentes se mostram como matéria literária. Lançado em 2022 pela Leya, Menos que um , em suas mais de trezentas páginas, é bem-sucedido em não apenas evitar essas incorrências, mas também em elaborar um quadro profu