O bom europeu não tem casa
Por Jorge Freire Nascido em Praga em 4 de setembro de 1875, Rainer Maria Rilke era chamado de “o bom europeu”. Por um lado, escrevia em alemão e em francês; por outro, viveu ao menos em meio centena de casas espalhadas pelo continente. O sentimento de desenraizamento o acompanhou durante toda a vida. Será a infância, como diz a expressão mais comum, a única pátria do homem? A dele não foi particularmente feliz. Depois da morte da irmã, a mãe insistiu em continuar a vesti-lo como as crianças de seu tempo, de menina, até os sete anos, compensando com mimos excessivos o fracasso do casamento; aos onze anos, seu pai o mandou para a academia militar, tentando compensar o fracasso da própria carreira no exército, que lhe proporcionou um “alfabeto de horrores”. Passou um ano em Munique, quando recém entrado nos vinte anos, com o pretexto de terminar a formação, quando já tinha a sensação de que a poesia seria a sua única ocupação. Foi onde conheceu Lou Andreas-Salomé, a mulher mais determ