Boletim Letras 360º #615

 
 
DO EDITOR
 
A partir do dia 23 dezembro, as atividades no Letras entram em modo marola e assim ficamos até a última semana de janeiro de 2025, isto é, regressaremos às publicações diárias a partir do dia 26 do próximo mês.
 
Durante este período, manteremos apenas atividades essenciais nas redes sociais, algumas entradas esparsas por aqui, incluindo as edições semanais do Boletim Letras 360º em versão reduzida, sem as seções complementares.
 
É o nosso modo de descanso e para pensar os projetos que tornarão possível o nosso 18º ano online, entre eles, a seleção de novos colunistas.
 
Agradecemos pela companhia até aqui e pelo apoio dado ao nosso projeto. Que possamos renovar o nosso compromisso de convívio por mais um ano. Desejamos excelentes festas e um rico ano novo, feito de boas conquistas!

Daniel Guebel. Foto: Guillermo Rodríguez Adami


 
LANÇAMENTOS
 
Seis gerações de uma família revolvendo uma ideia de genialidade contrastada com as dificuldades do mundo e com as lacunas emocionais impostas aos descendentes imediatos. Uma bênção ou uma maldição, talvez. Um percurso histórico, certamente, mas por uma história que toca os grandes acontecimentos desde pontos de vista laterais e muitas vezes obscuros. O absoluto de Daniel Guebel é um triunfo da realização narrativa. Partindo de lugares remotos da Rússia e chegando a uma viagem cósmica, este romance apresenta personagens fascinantes que dialogaram diretamente com Napoleão, influenciaram Lênin e buscaram realizar alguns dos maiores sonhos da humanidade, sempre imersos em suas fragilidades. E Alexander Scriabin! O grande compositor russo apresentado em uma genealogia tão verdadeira quanto a ficção permite. Vencedor do Prêmio da Academia Argentina de Letras, do Prêmio Nacional de Novela e do Prêmio Municipal de Novela de Buenos Aires, este é o primeiro romance publicado no Brasil de Daniel Guebel, um dos maiores nomes da literatura argentina contemporânea. Publicação da editora 7 Letras; tradução de Lucas Lazzaretti. Você pode comprar o livro aqui.
 
Este romance notável mistura passado e presente, misticismo e história para contar a trajetória de Horace Cross, membro de uma família descendente de escravizados e de gerações de pastores protestantes de uma pequena cidade do Sul dos Estados Unidos.
 
Jovem estudioso e criado pelos avós, Horace é tido como uma promessa do colégio e da comunidade afro-americana de Tims Creek, na Carolina do Norte. Inquieto e confuso, o adolescente inicia uma busca pela própria identidade ao perceber que sente atração por outros homens. Quando pede conselhos ao primo mais velho, escuta: “Você é normal. Confie em mim. Esses… sentimentos… vão desaparecer. É só não se entregar a eles. Reze. Peça a Deus para lhe dar força e, quando você se der conta...”. A solução que Horace encontra, perdido em meio a ideias e opiniões conservadoras, é transformar-se em um pássaro. Para isso, e tentando fugir de sua realidade, ele mergulha em livros medievais de bruxaria na biblioteca da escola. O feitiço que executa, escondido do avô, vai levá-lo a caminhar nu, com uma espingarda, em transe pelas estradas escuras de Tims Creek, confrontando seu passado, seus desejos e suas crenças. A melancólica memória familiar, um lirismo mágico que parece roçar o terror, além de temas como a herança do regime escravocrata americano e o peso das crenças religiosas nas escolhas pessoais emergem da narrativa com uma força quase sobrenatural. A possessão (ou sedução) demoníaca sofrida por Horace pode ser lida, aqui, como uma metáfora da culpa e da crise dos modelos culturais e sociais que o oprimem, culminando em uma tragédia. Romance de estreia de Randall Kenan, publicado em 1989 e até agora inédito no Brasil, Uma visita dos espíritos posicionou seu autor como uma nova e poderosa voz da literatura norte-americana, sendo frequentemente comparado a nomes como James Baldwin. Publicação da editora Todavia; tradução de André Czarnobai. Você pode comprar o livro aqui.
 
Colson Whitehead oferece um retrato arrebatador e vertiginoso de um Harlem que se encontra em meio a um turbilhão efervescente.
 
Harlem, 1971. Ray Carney está de volta, mas dessa vez está pronto para deixar o mundo do crime para trás e se dedicar apenas à loja e à família… ao menos até sua filha lhe pedir ingressos esgotados para o show do Jackson 5. Agora, Carney se verá obrigado a ir atrás da ajuda de um ex-parceiro do crime e, em uma noite que parece não ter fim, os dois vão se ver em meio ao fogo-cruzado da guerra civil que toma as ruas do Harlem: um conflito entre o Exército de Libertação Negra e as forças do Estado. Mas só um leve passeio no mundo do crime não significa que Carney está de volta à ativa… certo? Uma continuação do extraordinário Trapaça no HarlemAs regras da trapaça é um retrato arrebatador e vertiginoso de um Harlem que se encontra em meio a um turbilhão efervescente de cultura, lutas por direitos civis, incêndios criminosos, corrupção e relações familiares das mais variadas, mas que permanece de pé apesar e por causa disso tudo. Publicação da HarperCollins Brasil; tradução de Petê Rissatti. Você pode comprar o livro aqui.
 
Novo livro de contos de Daniel Francoy pelas Edições Jabuticaba.
 
Lugar atravessado por longos períodos de estio, queimadas, ventanias de terra, calor, e povoado por uma classe média embrutecida, o Cerrado é uma espécie de não-lugar na literatura nacional. É por esse território áspero, onde tudo é limite, que se desdobram as narrativas de Nos domínios do Cerrado, num registro fragmentário, em que cada conto é uma imagem que se soma a um mosaico que nunca está completo. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma nova tradução brasileira de um dos principais livros de Jules Verne.
 
Gênio incompreendido com uma ambição nunca antes vista, ou rabugento muito teimoso? É assim que o jovem Axel enxerga seu tio, o geólogo prof. Lidenbrock. As excentricidades do tio costumavam ser inofensivas até o dia em que ele decide investir tudo o que tem em uma missão impossível: viajar em direção ao centro da Terra. Um marco entre os romances de aventura de Jules Verne, Viagem ao centro da Terra lança luz sobre alguns dos arquétipos que inspirariam dezenas de outros personagens da ficção científica e da cultura pop, enquanto homenageia os espíritos aventureiros do passado e o pensamento científico inovador. Com tradução inédita de Verónica Galíndez, a edição da Antofágica traz ilustrações e posfácio da artista Helena Obersteiner, que fez 57 ilustrações para a história. A escritora Aline Valek assina a apresentação, e o livro conta também com posfácios de Cláudia Fusco, escritora e mestre em Estudos de Ficção Científica pela Universidade de Liverpool, e de Samir Machado de Machado, escritor e mestre em Escrita Criativa pela PUC-RS. Você pode comprar o livro aqui.
 
Diálogos possíveis entre Jacques Lacan e James Joyce.
 
O primeiro contato de Lacan com a obra de Joyce aconteceu em Paris, Lacan, ainda jovem, assistia a leituras que se faziam da tradução francesa do Ulysses. O segundo e último romance de Joyce, Finnegans Wake, está presente cedo na construção do pensamento lacaniano. No Quinto Seminário, As formações do inconsciente, Lacan brinca com neologismos à maneira de Joyce: famillionaire/ familionário, maritablement/ maritavelmente... A confluência do ficcionista e do psicanalista interessa também à teoria literária. Teóricos da literatura referem-se, há décadas, à morte do autor. Joyce enfraquece a autoridade atribuída outrora a quem escreve. Enigmas incentivam a criatividade do leitor, a escrita enigmática se prolonga na inventividade de quem lê. A atenção de Lacan voltada a Joyce culmina nos anos 1975 e 1976, o psicanalista entrega-se um ano inteiro à tarefa de entender a criatividade do vanguardista irlandês. Vários investigadores, fora e dentro do Brasil, examinaram a relação de Jacques Lacan e de James Joyce, Jacques Lacan e James Joyce: o simbólico na linguagem é a mais recente. A obra de Geraldino Alves Ferreira Netto confere ao leitor a oportunidade de acompanhar o móvel acontecer dos termos ressignificados e inventados por Lacan, autor que mantém contínuo diálogo com pensadores do passado, com vanguardistas e intelectuais do seu tempo; este livro editado pela Iluminuras nos ajuda a repensar essas relações e o inquieto século XX. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
A editora Autêntica marca o centenário de publicação de Mrs. Dalloway com uma edição revista do romance.
 
É simples a trama de Mrs Dalloway. Tudo se passa num dia de junho de 1923. Clarissa, esposa de Richard Dalloway, membro do Parlamento britânico, sai para comprar flores para a festa que dará à noite. No caminho passa por algumas das ruas centrais de Londres e por dois de seus principais parques, encontrando o amigo Hugh Whitbread. Seu trajeto cruza com o de outro personagem central, Septimus Warren Smith, que, acometido de um sério trauma de guerra, encaminha-se, com a esposa que conheceu na Itália, Rezia, para uma consulta com um importante psiquiatra. Já em casa, Mrs Dalloway recebe a visita de um antigo namorado, Peter Walsh. Deixando a casa de Clarissa, ele empreende sua própria caminhada por Londres, regressando, depois, ao seu hotel, de onde sai, ao final da tarde, para a festa da antiga namorada. O romance culmina na festa de Mrs Dalloway, onde se encontram pessoas de suas atuais relações, como o próprio Primeiro-Ministro, e pessoas de seu passado: além de Peter Walsh, também Sally Seton, uma paixão da adolescência. Um mosaico de cenas exteriores recheia a trama aparente do romance: a passagem de um misterioso automóvel carregando uma importante personagem política; as proezas de um avião escrevente; uma rusga entre a filha adolescente de Mrs Dalloway, Elizabeth, e sua preceptora, a Srta. Kilman; a aventurosa perseguição feita por Peter Walsh a uma senhorita que ele destacara da multidão; uma mendiga, próximo à estação de metrô do Regent's Park, entoando uma canção ancestral; o trágico fim de Septimus. A estrutura da narrativa tampouco é complicada. No esforço para evitar a linearidade típica da prosa e da narrativa tradicional, Virginia Woolf dividiu o romance não em capítulos, mas em cenas, em que se sobrepõem, se cruzam e se confundem, numa simultaneidade vertiginosa, episódios do presente e do passado; acontecimentos atuais e rememorações; atos, visões e pensamentos; fantasia e realidade; vida e sonho; realidade e alucinação. É nesse painel cuidadosamente montado que Virginia empreende uma exploração que, na superfície, cobre o mapa da área central de Londres, mas, muito mais profundamente, percorre o mapa interior e sentimental de personagens como Clarissa Dalloway, Peter Walsh, Septimus Warren Smith... A tradução revista de Tomaz Tadeu ganha edição comemorativa. Você pode comprar o livro aqui.
 
A educação brasileira, que manteve suas raízes patriarcais por séculos, foi tema da obra de Nísia Floresta, que analisa criticamente as heranças coloniais e propõe uma reforma no campo educacional.
 
Opúsculo humanitário, lançado originalmente em 1853, discute a educação feminina como um tópico central para o ensino como um todo. Para Nísia Floresta, pensadora nascida em um povoado do Rio Grande do Norte em 1810 e figura incontornável no debate da história educacional no Brasil, o lugar da mulher na sociedade revela-se uma medida do grau de civilização alcançado. Através de comentários sobre diferentes períodos históricos, a educadora potiguar critica o legado da colonização portuguesa e os recursos punitivistas comuns em sala de aula, e propõe uma reforma radical, que inclui a mulher como sujeito pleno desta mudança. Com o estabelecimento de texto e notas de contextualização da especialista em Nísia Floresta, Constância Lima Duarte, e prefácio de Stella Maris Scatena Franco, a edição da Penguin/ Companhia das Letras é uma publicação definitiva dessa obra pioneira. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Um novo livro do poeta Augusto de Campos. A Perspectiva prevê a publicação em fevereiro de 2025 de Pós poemas. O livro reúne a produção da última década, quando saiu Outro, também pela mesma casa editorial.
 
Clarice Lispector outra vez em Portugal. Há muito esgotada no país de Camões, a obra da escritora volta às livrarias em caprichadas edições pelo braço lusitano da Companhia das Letras.  
 
O retorno de Palmyra Wanderley. É a terceira vez que Roseira brava, obra que reúne a poesia da poeta ganha nova edição com textos de Alexandre Alves, Diva Cunha, Vicente Serejo e Regina Azevedo.
 
O ponto final de Freud 1. A Companha das Letras apresenta os dois últimos volumes da Coleção Obras Completas de Freud, um dos raros projetos da casa a merecer o estatuto de finalizado e com o mesmo padrão editorial.
 
O ponto final de Freud 2. Iniciada ainda em 2010, a coleção reúne em ordem cronológica vinte volumes. Os títulos que chegam em fevereiro são Textos pré-psicanalíticos, com uma seleta da produção freudiana entre 1886 e 1896, e Índices e bibliografias, livro síntese com índices referente a toda obra de Freud.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu Beatriz Sarlo.
 
Beatriz Sarlo nasceu em 29 de março de 1942 em Buenos Aires. Licenciada em Letras, cedo começou a trabalhar no jornalismo cultural. Entre 1972 e 1976 fez parte da equipe dirigente da revista Los libros e por três décadas foi diretora da revista Punto de vista. Intelectual atuante esteve continuamente presente na imprensa, meio em que pôde exercitar as vias do pensamento crítico centrado desde os temas políticos aos estudos da pós-modernidade do subcontinente, conceituada por ela como modernidade periférica como revela o livro Uma modernidade periférica: Buenos Aires, 1920 e 1930 (1988). Deixou uma vasta obra, da qual podemos destacar Borges, um escritor na periferia (1993), Cenas da vida pós-moderna: intelectuais arte e videocultura na Argentina (1994), Sete ensaios sobre Walter Benjamin e um lampejo (2000), Tempo presente: notas sobre a mudança de uma cultura (2001), A paixão e a exceção: Borges, Eva Perón, Montoneros (2003), Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva (2005); obra que mereceu diversos reconhecimentos em prêmios como o Prêmio José Donoso e o Prêmio da Academia Nacional de Jornalismo da Argentina. Beatriz Sarlo morreu em 17 de dezembro de 2024 em Buenos Aires.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. O último conhaque, de Carlos Herculano Lopes (Record, 160p.) A procura pela identidade e a solidão são dois dos temas recorrentes neste romance em que um homem depois da morte da mãe se vê obrigado a retornar à sua terra natal. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Ursa maior, de Mário Cláudio (Pontes Editores, 176p.) Um mundo de comportamentos desviantes; uma narrativa que lida com a morte de valores que alicerçam o Ocidente; um
registro da violência encontrada em qualquer grande cidade. Você pode comprar o livro aqui
 
3. Crônica de uma vida de mulher, de Arthur Schnitzler (Trad. Marcelo Beckes, Record, 400p.) Muito das ideias que ajudaram Freud a moldar a psicanálise estão neste romance em que acompanhamos a história de Therese Fabiani desde seus 16 anos no âmbito de uma família decadente. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Em 2007 Beatriz Sarlo fez uma de suas passagens pelo Brasil. Na ocasião, seu livro Tempo passado era publicado pela Companhia das Letras e a Editora da UFMG — livro necessário e infelizmente há muito esgotado. Entre as atividades da sua agenda, esteve o centro do programa Roda viva. A sabatina pode ser vista na íntegra no YouTube
 
BAÚ DE LETRAS
 
Neste ano celebramos o centenário da publicação de A montanha mágica. O acontecimento foi marcado em nossas redes em novembro passado. Aqui, por exemplo, é possível acessar um fio com todas as publicações deste blog dedicadas a um dos principais romances de Thomas Mann. 
 
Também à lista das efemérides, agora as recordadas durante a semana, devemos acrescentar os 40 anos da primeira edição de Viva o povo brasileiro, considerado um dos marcos na literatura de João Ubaldo Ribeiro. É possível ler aqui, uma resenha do romance, escrita por Rafael Kafka e publicada no Letras em outubro de 2016. 
 
No dia 19 de dezembro, foi o centenário de Alexandre O’Neill, autor de livros como Tempo de fantasmas e No reino da Dinamarca, para referir duas presenças do poeta português no meio literário brasileiro. Marcamos a data, recordando esta publicação apresentada no blog em dezembro de 2012. É um breve perfil acerca do poeta português com um material que compila alguns dos seus poemas.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Ao escrever poemas não são as coisas em si mesmas que me interessam, mas minha relação com elas.
 
— Alexandre O’Neill, entrevista para a RTP

...
CLIQUE AQUI E SAIBA COMO AJUDAR COM A PERMANÊNCIA ONLINE DO LETRAS
Siga o Letras no FacebookTwitterThreadsBlueskyTumblrInstagramFlipboard
Quer receber as nossas publicações diárias? Vem para o nosso grupo no Telegram

* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
 

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

Cinco coisas que você precisa saber sobre Cem anos de solidão

Boletim Letras 360º #605

Mortes de intelectual

Boletim Letras 360º #614

O século das luzes, de Alejo Carpentier

Dalton por Dalton