LANÇAMENTOS
Seis gerações de uma família
revolvendo uma ideia de genialidade contrastada com as dificuldades do mundo e
com as lacunas emocionais impostas aos descendentes imediatos. Uma bênção ou
uma maldição, talvez. Um percurso histórico, certamente, mas por uma história
que toca os grandes acontecimentos desde pontos de vista laterais e muitas
vezes obscuros.
O absoluto de Daniel Guebel é um triunfo da realização
narrativa. Partindo de lugares remotos da Rússia e chegando a uma viagem
cósmica, este romance apresenta personagens fascinantes que dialogaram
diretamente com Napoleão, influenciaram Lênin e buscaram realizar alguns dos
maiores sonhos da humanidade, sempre imersos em suas fragilidades. E Alexander
Scriabin! O grande compositor russo apresentado em uma genealogia tão
verdadeira quanto a ficção permite. Vencedor do Prêmio da Academia Argentina de
Letras, do Prêmio Nacional de Novela e do Prêmio Municipal de Novela de Buenos
Aires, este é o primeiro romance publicado no Brasil de Daniel Guebel, um dos
maiores nomes da literatura argentina contemporânea. Publicação da editora 7
Letras; tradução de Lucas Lazzaretti.
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Este romance notável mistura
passado e presente, misticismo e história para contar a trajetória de Horace
Cross, membro de uma família descendente de escravizados e de gerações de
pastores protestantes de uma pequena cidade do Sul dos Estados Unidos.
Jovem estudioso e criado pelos
avós, Horace é tido como uma promessa do colégio e da comunidade afro-americana
de Tims Creek, na Carolina do Norte. Inquieto e confuso, o adolescente inicia
uma busca pela própria identidade ao perceber que sente atração por outros
homens. Quando pede conselhos ao primo mais velho, escuta: “Você é normal.
Confie em mim. Esses… sentimentos… vão desaparecer. É só não se entregar a
eles. Reze. Peça a Deus para lhe dar força e, quando você se der conta...”. A
solução que Horace encontra, perdido em meio a ideias e opiniões conservadoras,
é transformar-se em um pássaro. Para isso, e tentando fugir de sua realidade,
ele mergulha em livros medievais de bruxaria na biblioteca da escola. O feitiço
que executa, escondido do avô, vai levá-lo a caminhar nu, com uma espingarda,
em transe pelas estradas escuras de Tims Creek, confrontando seu passado, seus
desejos e suas crenças. A melancólica memória familiar, um lirismo mágico que
parece roçar o terror, além de temas como a herança do regime escravocrata
americano e o peso das crenças religiosas nas escolhas pessoais emergem da
narrativa com uma força quase sobrenatural. A possessão (ou sedução) demoníaca
sofrida por Horace pode ser lida, aqui, como uma metáfora da culpa e da crise
dos modelos culturais e sociais que o oprimem, culminando em uma tragédia. Romance
de estreia de Randall Kenan, publicado em 1989 e até agora inédito no Brasil,
Uma
visita dos espíritos posicionou seu autor como uma nova e poderosa voz da
literatura norte-americana, sendo frequentemente comparado a nomes como James
Baldwin. Publicação da editora Todavia; tradução de André Czarnobai.
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Colson Whitehead oferece um
retrato arrebatador e vertiginoso de um Harlem que se encontra em meio a um
turbilhão efervescente.
Harlem, 1971. Ray Carney está de
volta, mas dessa vez está pronto para deixar o mundo do crime para trás e se
dedicar apenas à loja e à família… ao menos até sua filha lhe pedir ingressos
esgotados para o show do Jackson 5. Agora, Carney se verá obrigado a ir atrás
da ajuda de um ex-parceiro do crime e, em uma noite que parece não ter fim, os
dois vão se ver em meio ao fogo-cruzado da guerra civil que toma as ruas do
Harlem: um conflito entre o Exército de Libertação Negra e as forças do Estado.
Mas só um leve passeio no mundo do crime não significa que Carney está de volta
à ativa… certo? Uma continuação do extraordinário
Trapaça no Harlem,
As
regras da trapaça é um retrato arrebatador e vertiginoso de um Harlem
que se encontra em meio a um turbilhão efervescente de cultura, lutas por
direitos civis, incêndios criminosos, corrupção e relações familiares das mais
variadas, mas que permanece de pé apesar e por causa disso tudo. Publicação da
HarperCollins Brasil; tradução de Petê Rissatti.
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Novo livro de contos de Daniel
Francoy pelas Edições Jabuticaba.
Lugar atravessado por longos
períodos de estio, queimadas, ventanias de terra, calor, e povoado por uma
classe média embrutecida, o Cerrado é uma espécie de não-lugar na literatura
nacional. É por esse território áspero, onde tudo é limite, que se desdobram as
narrativas de
Nos domínios do Cerrado, num registro fragmentário, em que
cada conto é uma imagem que se soma a um mosaico que nunca está completo.
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Uma nova tradução brasileira de um dos principais livros de Jules Verne.
Gênio incompreendido com uma ambição nunca antes vista, ou rabugento
muito teimoso? É assim que o jovem Axel enxerga seu tio, o geólogo prof.
Lidenbrock. As excentricidades do tio costumavam ser inofensivas até o dia em
que ele decide investir tudo o que tem em uma missão impossível: viajar em
direção ao centro da Terra. Um
marco entre os romances de aventura de Jules Verne,
Viagem ao centro da
Terra lança luz sobre alguns dos arquétipos que inspirariam dezenas de
outros personagens da ficção científica e da cultura pop, enquanto homenageia
os espíritos aventureiros do passado e o pensamento científico inovador.
Com tradução inédita de Verónica
Galíndez, a edição da Antofágica traz ilustrações e posfácio da artista Helena
Obersteiner, que fez 57 ilustrações para a história. A escritora Aline Valek
assina a apresentação, e o livro conta também com posfácios de Cláudia Fusco,
escritora e mestre em Estudos de Ficção Científica pela Universidade de
Liverpool, e de Samir Machado de Machado, escritor e mestre em Escrita Criativa
pela PUC-RS.
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Diálogos possíveis entre
Jacques Lacan e James Joyce.
O primeiro contato de Lacan com a
obra de Joyce aconteceu em Paris, Lacan, ainda jovem, assistia a leituras que
se faziam da tradução francesa do
Ulysses. O segundo e último romance de
Joyce,
Finnegans Wake, está presente cedo na construção do pensamento
lacaniano. No Quinto Seminário,
As formações do inconsciente, Lacan
brinca com neologismos à maneira de Joyce:
famillionaire/
familionário,
maritablement/
maritavelmente... A confluência do ficcionista e
do psicanalista interessa também à teoria literária. Teóricos da literatura
referem-se, há décadas, à morte do autor. Joyce enfraquece a autoridade
atribuída outrora a quem escreve. Enigmas incentivam a criatividade do leitor,
a escrita enigmática se prolonga na inventividade de quem lê. A atenção de
Lacan voltada a Joyce culmina nos anos 1975 e 1976, o psicanalista entrega-se
um ano inteiro à tarefa de entender a criatividade do vanguardista irlandês.
Vários investigadores, fora e dentro do Brasil, examinaram a relação de Jacques
Lacan e de James Joyce,
Jacques Lacan e James Joyce: o simbólico na
linguagem é a mais recente. A obra de Geraldino Alves Ferreira Netto
confere ao leitor a oportunidade de acompanhar o móvel acontecer dos termos
ressignificados e inventados por Lacan, autor que mantém contínuo diálogo com
pensadores do passado, com vanguardistas e intelectuais do seu tempo; este
livro editado pela Iluminuras nos ajuda a repensar essas relações e o inquieto
século XX.
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REEDIÇÕES
A editora Autêntica marca o
centenário de publicação de Mrs. Dalloway
com uma edição revista do
romance.
É simples a trama de
Mrs
Dalloway. Tudo se passa num dia de junho de 1923. Clarissa, esposa de
Richard Dalloway, membro do Parlamento britânico, sai para comprar flores para
a festa que dará à noite. No caminho passa por algumas das ruas centrais de
Londres e por dois de seus principais parques, encontrando o amigo Hugh
Whitbread. Seu trajeto cruza com o de outro personagem central, Septimus Warren
Smith, que, acometido de um sério trauma de guerra, encaminha-se, com a esposa
que conheceu na Itália, Rezia, para uma consulta com um importante psiquiatra. Já
em casa, Mrs Dalloway recebe a visita de um antigo namorado, Peter Walsh.
Deixando a casa de Clarissa, ele empreende sua própria caminhada por Londres,
regressando, depois, ao seu hotel, de onde sai, ao final da tarde, para a festa
da antiga namorada. O romance culmina na festa de Mrs Dalloway, onde se
encontram pessoas de suas atuais relações, como o próprio Primeiro-Ministro, e
pessoas de seu passado: além de Peter Walsh, também Sally Seton, uma paixão da
adolescência. Um mosaico de cenas exteriores recheia a trama aparente do
romance: a passagem de um misterioso automóvel carregando uma importante
personagem política; as proezas de um avião escrevente; uma rusga entre a filha
adolescente de Mrs Dalloway, Elizabeth, e sua preceptora, a Srta. Kilman; a
aventurosa perseguição feita por Peter Walsh a uma senhorita que ele destacara
da multidão; uma mendiga, próximo à estação de metrô do Regent's Park, entoando
uma canção ancestral; o trágico fim de Septimus. A estrutura da narrativa
tampouco é complicada. No esforço para evitar a linearidade típica da prosa e
da narrativa tradicional, Virginia Woolf dividiu o romance não em capítulos,
mas em cenas, em que se sobrepõem, se cruzam e se confundem, numa simultaneidade
vertiginosa, episódios do presente e do passado; acontecimentos atuais e
rememorações; atos, visões e pensamentos; fantasia e realidade; vida e sonho;
realidade e alucinação. É nesse painel cuidadosamente montado que Virginia
empreende uma exploração que, na superfície, cobre o mapa da área central de
Londres, mas, muito mais profundamente, percorre o mapa interior e sentimental
de personagens como Clarissa Dalloway, Peter Walsh, Septimus Warren Smith... A
tradução revista de Tomaz Tadeu ganha edição comemorativa.
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A educação brasileira, que
manteve suas raízes patriarcais por séculos, foi tema da obra de Nísia
Floresta, que analisa criticamente as heranças coloniais e propõe uma reforma
no campo educacional.
Opúsculo humanitário,
lançado originalmente em 1853, discute a educação feminina como um tópico
central para o ensino como um todo. Para Nísia Floresta, pensadora nascida em
um povoado do Rio Grande do Norte em 1810 e figura incontornável no debate da
história educacional no Brasil, o lugar da mulher na sociedade revela-se uma
medida do grau de civilização alcançado. Através de comentários sobre
diferentes períodos históricos, a educadora potiguar critica o legado da
colonização portuguesa e os recursos punitivistas comuns em sala de aula, e
propõe uma reforma radical, que inclui a mulher como sujeito pleno desta
mudança. Com o estabelecimento de texto e notas de contextualização da
especialista em Nísia Floresta, Constância Lima Duarte, e prefácio de Stella
Maris Scatena Franco, a edição da Penguin/ Companhia das Letras é uma
publicação definitiva dessa obra pioneira.
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RAPIDINHAS
Um novo livro do poeta Augusto
de Campos. A Perspectiva prevê a publicação em fevereiro de 2025 de
Pós
poemas. O livro reúne a produção da última década, quando saiu
Outro,
também pela mesma casa editorial.
Clarice Lispector outra vez em
Portugal. Há muito esgotada no país de Camões, a obra da escritora volta às livrarias em caprichadas edições pelo braço lusitano da Companhia das Letras.
O retorno de Palmyra Wanderley.
É a terceira vez que
Roseira brava, obra que reúne a poesia da poeta
ganha nova edição com textos de Alexandre Alves, Diva Cunha, Vicente Serejo e
Regina Azevedo.
O ponto final de Freud 1. A
Companha das Letras apresenta os dois últimos volumes da Coleção Obras
Completas de Freud, um dos raros projetos da casa a merecer o estatuto de
finalizado e com o mesmo padrão editorial.
O ponto final de Freud 2.
Iniciada ainda em 2010, a coleção reúne em ordem cronológica vinte volumes. Os
títulos que chegam em fevereiro são
Textos pré-psicanalíticos, com uma
seleta da produção freudiana entre 1886 e 1896, e
Índices e bibliografias,
livro síntese com índices referente a toda obra de Freud.
OBITUÁRIO
Morreu Beatriz Sarlo.
Beatriz Sarlo nasceu em 29 de
março de 1942 em Buenos Aires. Licenciada em Letras, cedo começou a trabalhar
no jornalismo cultural. Entre 1972 e 1976 fez parte da equipe dirigente da
revista
Los libros e por três décadas foi diretora da revista
Punto
de vista. Intelectual atuante esteve continuamente presente na imprensa,
meio em que pôde exercitar as vias do pensamento crítico centrado desde os
temas políticos aos estudos da pós-modernidade do subcontinente, conceituada
por ela como modernidade periférica como revela o livro
Uma modernidade
periférica: Buenos Aires, 1920 e 1930 (1988). Deixou uma vasta obra, da
qual podemos destacar
Borges, um escritor na periferia (1993),
Cenas
da vida pós-moderna: intelectuais arte e videocultura na Argentina (1994),
Sete
ensaios sobre Walter Benjamin e um lampejo (2000),
Tempo presente: notas
sobre a mudança de uma cultura (2001),
A paixão e a exceção: Borges, Eva
Perón, Montoneros (2003),
Tempo passado: cultura da memória e guinada
subjetiva (2005); obra que mereceu diversos reconhecimentos em prêmios como
o Prêmio José Donoso e o Prêmio da Academia Nacional de Jornalismo da
Argentina. Beatriz Sarlo morreu em 17 de dezembro de 2024 em Buenos Aires.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
O último conhaque, de Carlos
Herculano Lopes (Record, 160p.) A procura pela identidade e a solidão são dois
dos temas recorrentes neste romance em que um homem depois da morte da mãe se
vê obrigado a retornar à sua terra natal.
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2.
Ursa maior, de Mário
Cláudio
(Pontes Editores, 176p.) Um mundo de comportamentos desviantes;
uma narrativa que lida com a morte de valores que alicerçam o Ocidente; um
registro da violência encontrada
em qualquer grande cidade.
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3.
Crônica de uma vida de
mulher, de Arthur Schnitzler
(Trad. Marcelo Beckes, Record, 400p.) Muito
das ideias que ajudaram Freud a moldar a psicanálise estão neste romance em que
acompanhamos a história de Therese Fabiani desde seus 16 anos no âmbito de uma família
decadente.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Em 2007 Beatriz Sarlo fez uma de suas passagens pelo Brasil. Na ocasião,
seu livro
Tempo passado era publicado pela Companhia das Letras e a
Editora da UFMG — livro necessário e infelizmente há muito esgotado. Entre as
atividades da sua agenda, esteve o centro do programa
Roda viva. A sabatina
pode ser vista
na íntegra no YouTube.
BAÚ DE LETRAS
Neste ano celebramos o centenário
da publicação de
A montanha mágica. O acontecimento foi marcado em
nossas redes em novembro passado.
Aqui, por exemplo, é possível acessar um fio
com todas as publicações deste blog dedicadas a um dos principais romances de Thomas
Mann.
Também à lista das efemérides,
agora as recordadas durante a semana, devemos acrescentar os 40 anos da primeira
edição de
Viva o povo brasileiro, considerado um dos marcos na literatura
de João Ubaldo Ribeiro. É possível ler
aqui, uma resenha do romance, escrita
por Rafael Kafka e publicada no
Letras em outubro de 2016.
No dia 19 de dezembro, foi o
centenário de Alexandre O’Neill, autor de livros como
Tempo de fantasmas
e
No reino da Dinamarca, para referir duas presenças do poeta português no
meio literário brasileiro. Marcamos a data, recordando
esta publicação
apresentada no blog em dezembro de 2012. É um breve perfil acerca do poeta
português com um material que compila alguns dos seus poemas.
DUAS PALAVRINHAS
Ao escrever poemas não são as
coisas em si mesmas que me interessam, mas minha relação com elas.
— Alexandre O’Neill, entrevista
para a RTP
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