Boletim Letras 360º #612

Sophia de Mello Breyner Andresen. Foto: Louis Monier



LANÇAMENTOS
 
Edição reúne dois livros de Sophia de Mello Breyner Andresen.
 
Ela soube conjugar de modo único a observação da natureza com a dimensão humana. A descrição concreta e material da paisagem — com destaque para o mar, tema central de sua poesia — convive com reflexões sobre o amor, a morte, a dor, a injustiça e a solidão. Publicado pela Companhia das Letras, volume reúne duas obras publicadas de forma avulsa na década de 1960 e traz temas dos mais recorrentes em toda a produção da autora e atesta o impacto da poesia brasileira em sua trajetória. O Cristo cigano, lançado em 1961, revela a influência decisiva da poesia de João Cabral de Melo Neto. Já Geografia, de 1967, descreve, entre outros temas, cenas da infância, o contato com a Grécia e a admiração pela obra de Manuel Bandeira. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um romance secreto e conflituoso que tem como pano de fundo a Guerra dos Seis Dias.
 
Narrada em segunda pessoa, a história de Tarek tem como ponto de inflexão o romance secreto e conflituoso que ele vive com Ali, seu ajudante. Parte de uma família matriarcal levantina, Tarek é forçado a confrontar seus sentimentos e as implicações destes em meio ao contexto político instável de um Egito marcado pela Guerra dos Seis Dias, em 1967, e pelo conservadorismo crescente das décadas seguintes. Em uma tecitura sensível, O que sei de você entrelaça vidas fragmentadas pelo silêncio e busca não apenas juntar os pedaços, mas limpar a ferida. Tradução de Letícia Mei; publicação da editora DBA. Você pode comprar o livro aqui.
 
A face de Jorge Carrión ficcionista.
 
Ano 2100: o Museu do Século XXI abre suas portas para revelar uma jornada fascinante pela história e sua relação com a tecnologia. A narradora, uma inteligência artificial, nos guia pela exposição permanente, tecendo uma reflexão crítica e poética sobre a teia que conecta a humanidade às ferramentas que criamos. Mais do que uma exposição, o museu se transforma em um espaço para grandes debates contemporâneos, abordando temas como identidade, ética, progresso e o futuro da nossa espécie. Em meio às reflexões propostas pela narrativa, o amor também surge como tema central. Karla Spinoza, uma das poucas personagens humanas remanescentes, se apaixona por Maxi, um assistente de voz sucessor de Siri. Através dessa relação, o autor explora a ideia do humano como tecnohumano desde sua origem, reconhecendo sua mutabilidade e a essência transformadora da humanidade. Membrana sai pela Relicário Edições; tradução de Michelle Strzoda. Você pode comprar o livro aqui.
 
A estreia de Josoaldo Lima Rêgo no catálogo da Editora 34.
 
Com sete livros publicados, o poeta e geógrafo maranhense Josoaldo Lima Rêgo vem, a cada novo livro, depurando sua técnica e afirmando um estilo próprio. Numa linguagem extremamente concisa e nada confessional, em seus poemas o “eu” sai de cena para dar voz a outros personagens, historicamente silenciados e sob constante ameaça: indígenas, homens e mulheres do campo, mas também animais, plantas, rios e oceanos. Trabalhando a palavra como um montador de cinema, de olhos e ouvidos atentos, o resultado é A menor das tempestades, uma obra fortemente imagética, quase fotográfica, que, segundo Edimilson de Almeida Pereira, “depende da precisão do corte para despertar no leitor o desejo pela reflexão metafísica”. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um dos principais nomes da poesia pernambucana, Maria do Carmo Barreto Campello de Melo (1924–2008) tem a sua produção poética reunida.
 
Seus versos, carregados de lirismo e da reflexão íntima, foram criados ao longo de quase cinco décadas, mas sempre demonstraram maturidade e uma voz singular, num idioma quase próprio e íntimo. No prefácio da obra, o crítico Lourival Holanda destaca, com agudeza, que a poesia de Maria do Carmo: “não grita, sussurra; e quando sonha, é olhando o mundo em torno”. Íntimo idioma tem organização de Sonia Bierbard e é publicado pela editora CEPE. Você pode comprar o livro aqui.
 
O bestiário que uma vez Pablo Neruda quis construir.
 
Em 1964, em carta ao amigo Giu­seppe Bellini, Pablo Neruda manifestou a intenção de criar uma coletânea de poemas chamada Bestiário. Anos após a morte do poeta, Bellini, um dos maiores estudiosos italianos de literatura hispânica, além de tradutor e editor, retomou o projeto seguindo as orientações recebidas: reunir poemas dedicados a aves, animais marinhos e terrestres. As odes aqui reunidas são o resultado desse trabalho a quatro mãos; cada uma é dedicada a um animal específico: ao cavalo, ao elefante, mas também à borboleta, ao gato e ao lagarto... ou à aranha, a quem o eu-lírico gostaria de pedir que lhe tecesse uma estrela. Essas criaturas testemunham o charme primitivo e vital da terra ancestral de Neruda. O eu-lírico se torna um albatroz, prestes a morrer nas areias das praias chilenas; quer conversar com porcos e cavalos, quer aprender com os gatos, orgulhosos e indiferentes, celebrar a beleza das borboletas, o coaxar dos sapos. A inconfundível voz do poeta adquire, nesta edição, uma força gráfica e ressoa ainda mais forte nestas páginas. Com prefácio da poeta cubana Reina María Rodríguez, ilustrações de Luis Scafati e tradução de José Eduardo Degrazia. Publicação da L&PM Editores. Você pode comprar o livro aqui.
 
A íntegra da célebre entrevista de Susan Sontag para a revista Rolling Stone.
 
Uma das mais influentes intelectuais do século XX, Susan Sontag costumava dizer que adorava o formato de entrevista: “É como uma conversa. Gosto de dialogar e sei que muito do que penso é resultado de conversas.” A observação explica por que o encontro com o jornalista Jonathan Cott, em 1978, se transformou em um documento privilegiado para conhecer o seu pensamento e também parte de sua biografia. Na época, apenas um terço do material registrado em cerca de doze horas de conversa — realizada primeiramente em Paris, onde morava, e mais tarde em Nova York, sua cidade natal —, chegou às páginas da revista Rolling Stone. Décadas depois, a íntegra da entrevista é finalmente publicada e o resultado pode ser conferido neste livro, uma espécie de resumo das ideias e visões de Susan Sontag, que aborda aqui os temas de sua produção: filosofia, política, fotografia, literatura, feminismo, apresentando ainda perspectivas inéditas sobre a sua vida pessoal: trabalho, família, leituras e amores. Após vinte anos de sua morte, este livro confirma a extrema relevância de uma pensadora que não se esquivou dos assuntos mais complexos e controversos do nosso tempo. Susan Sontag: a entrevista completa para a revista Rolling Stone sai pela Bazar do Tempo com nota biográfica de Gisele Eberspächer. A tradução é de Paula Carvalho. Você pode comprar o livro aqui.
 
A presença feminina britânica na Guerra Civil Espanhola.
 
Na década de 1930, mulheres e homens da Grã-Bretanha, da Europa e dos Estados Unidos foram para a Espanha para participar do que consideravam uma luta histórica pela libertação do fascismo: a Guerra Civil Espanhola. Em Amanhã, talvez o futuro Sarah Watling mergulhou em diários, cartas e manifestos perdidos e descobriu um tesouro de obras de mulheres que muitas vezes foram deixadas nas sombras. Watling entrelaça as jornadas da jovem jornalista americana Martha Gellhorn e da experiente radical Josephine Herbst. Ela analisa a posição cautelosa de Virginia Woolf, que fracassou em sua tentativa de manter sua família fora do conflito, investigando a decisão de cada mulher de tomar parte na história nesse conflito. Publicação da editora Âyiné; tradução de Tamara Sender. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Nova edição de Os gestos, de Osman Lins.
 
Este livro do escritor pernambucano Osman Lins é composto de treze narrativas sobre a impotência humana, a dificuldade de comunicação entre as pessoas, a incapacidade de aproximação entre elas. “Minhas palavras morreram, só os gestos sobrevivem”, observa o personagem principal de Os gestos, que abre a coletânea de contos e dá o título a ela. O lançamento desta edição especial se dá no centenário de nascimento do autor de Lisbela e o prisioneiro, Avalovara e outras obras fundamentais da literatura brasileira. Publicação das Edições Olho de Vidro. Você pode comprar o livro aqui.
 
Nova edição do primeiro romance da premiada escritora Gioconda Belli.
 
É início dos anos 1970. Lavínia acaba de concluir seus estudos na Europa, sai da casa dos pais e conhece Felipe, um colega de trabalho que a provoca sexual e intelectualmente. Quando ele aparece com um colega ferido na casa de Lavínia, ela descobre que Felipe faz parte do Movimento de Libertação Nacional, que luta para derrubar a ditadura instaurada no país. Conforme o relacionamento dos dois avança, Lavínia passa a se questionar cada vez mais sobre seu papel na sociedade e decide se engajar na luta armada. Suas reflexões sobre resistência e ancestralidade vêm também de Itzá, uma mulher indígena que lutou contra os colonizadores espanhóis junto do amor de sua vida e que agora, encarnada na laranjeira do quintal de Lavínia, se comunica misteriosamente com a jovem. Intercalando a perspectiva dessas duas revolucionárias, Belli narra com lirismo e perspicácia não só a luta pela liberdade de dois povos mas também duas épicas histórias de amor. Gioconda Belli é, sem dúvida, uma das maiores vozes intelectuais da Nicarágua. Antes de se dedicar à literatura, filiou-se à Frente Sandinista de Libertação Nacional, partido responsável por derrubar o ditador Somoza. Após vencer o Prêmio Casa de las Américas e se consagrar poeta, se aventurou como romancista com A mulher habitada. Com esta estreia, impressionou tanto o público quanto a crítica. Na Alemanha, o livro teve sucesso estrondoso, ultrapassando a marca de um milhão de exemplares vendidos, o que contribuiu para que, em 1989, Belli fosse agraciada com o Prêmio Anna Seghers, que incentiva autores promissores. Tradução de Enrique Boero Baby; edição do selo Rosa dos Tempos. Você pode comprar o livro aqui.
 
A editora Global reedita Vintém de cobre, de Cora Coralina.
 
Sua poesia constrói-se na tradição que vem dos tempos passados em busca da afirmação futura. Seu Vintém de cobre é ouro. Quase memórias, ou meias confissões como a autora prefere, Este livro reúne poemas ricos de experiência humana, escritos em tom simples e comunicativo, no lirismo quase de toada sertaneja, peculiar a Cora Coralina. Chamados de vintém de cobre, por malícia, são na realidade puras e autênticas moedas de ouro. Você pode comprar o livro aqui.
 
Nova edição dos principais sonetos de Florbela Espanca.
 
Conhecida por uma poética intensa, apaixonada, melancólica e pseudobiográfica, atualmente a excelência de Florbela é comparada à de seus contemporâneos Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, embora ela não tenha participado das revistas que movimentaram o chamado modernismo português. A partir de livros autopublicados, Florbela Espanca trouxe para a poesia uma subjetividade feminina que desafiava os padrões sociais e literários portugueses do início do século XX. Com isso, abriu caminho para gerações posteriores de poetas mulheres, como Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Teresa Horta e Adília Lopes. Para quem deseja conhecer a obra dessa grande escritora portuguesa, estão aqui reunidos os volumes que ela publicou em vida, Livro de mágoas (1919) e Livro de Soror Saudade (1923), e as obras póstumas Charneca em flor (1930) e Reliquiae (1931). Além disso, dois estudos críticos sugerem caminhos para a leitura dos poemas: o primeiro, de 1950, assinado pelo poeta, ensaísta e crítico português José Régio, é um dos ensaios inaugurais sobre Florbela Espanca. O segundo, do poeta, crítico e professor de literatura portuguesa na Unifesp Leonardo Gandolfi, oferece uma leitura contemporânea sobre a grande poeta. Florbela Espanca foi uma alma sonhadora, uma criadora de novos mundos, como dito por Fernando Pessoa, em seu poema que lhe dedicou. Nesta edição publicada pela José Olympio, leitores e leitoras têm a oportunidade de conhecer versos que inspiram e encantam tantos, por várias gerações. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Livros por vir. Uma portuguesa e uma argentina aportam entre nós pelo catálogo da Pontoedita em 2025. A casa editorial se prepara para publicar Histórias familiares e outras histórias, de Manuela Porto; e Os acidentes geográficos, de Flor Canosa.
 
Helena Kolody. A editora Arte & Letra anunciou que publicará para breve uma obra da poeta paranaense Helena Kolody. Ela iniciou sua carreira literária em 1949 e se destacou com a antologia Sempre poesia (1994).
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. A paixão segundo G. H., de Clarice Lispector (Rocco, 192p.) O conflito entre G. H. e ela própria a partir do inesperado encontro com uma barata no armário do quarto da empregada; uma travessia pelas membranas do eu; uma comunhão com a dimensão mais profunda da identidade e da linguagem. Você pode comprar o livro aqui
 
2. Vai vir alguém e outras peças, de Jon Fosse (Trad. Leonardo Pinto Silva, Fósforo, 368p.) Foi pelo teatro que nome do escritor encontrou os quatro cantos do mundo antes de ser reconhecido com o Prêmio Nobel de Literatura em 2023. Neste livro, Claudia Soares Cruz reuniu uma boa amostra da obra de Fosse nesse gênero. Estão aqui quatro peças — Vai vir alguém, O nome, Eu sou o vento e Cada um. Você pode comprar o livro aqui
 
3. O trem e a cidade, de Thomas Wolfe (Trad. Marilene Felinto, Iluminuras, 336p.) Muito do que deixou escrito certamente alcançaria outro patamar se o tempo não tivesse sido um imperativo selvagem contra o escritor, mas uma prova do contrário também pode ser encontrada nesta “coletânea de contos”. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Ao destacar Sophia de Mello Breyner nesta edição do Boletim Letras 360º, lembramos deste vídeo postado recentemente em nossa página no Instagram; nele podemos apreciar a leitura do poema “Quando”, de Dia de mar, feita pela própria poeta. 
 
Ainda na mesma seção dos vídeos, sublinhamos este excerto da entrevista concedida por Raduan Nassar ao jornalista Pedro Bial para a Globo News, em 1996. Nesta semana, passou-se o aniversário do autor de, entre outros, Um copo de cólera
 
BAÚ DE LETRAS
 
No passado 27 de novembro ingressamos no 18º ano online. E registramos a data destacando as cinco publicações mais acessadas neste período que, sim, é bastante generoso para um projeto interessado em literatura sem se render a outro apelo que não o da própria literatura. Desta vez, registramos os agradecimentos pelas quase 7 milhões de visitas que alcançamos desde 2011, quando o Google começou a fixar as métricas do Letras e o convite para que leia e envie a um amigo algum dos nossos 5.049 posts. Pode ser este boletim.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Valorizo livros que transmitam a vibração da vida, só que a vida nesses livros, por melhores que esses livros sejam, será sempre a vida percebida pelo olhar do outro. Valorizo o relato da experiência do outro e procuro até dialogar com ele sobre sua experiência vivida, mas posso sentir de modo diferente, se eu vier a viver uma experiência correspondente. Seria a vivência de um escritor, e não um olhar de empréstimo, o que poderia imprimir voz própria ao que ele escreve. Só isso.
 
— Raduan Nassar, Entrevista aos Cadernos de Literatura Brasileira

...
CLIQUE AQUI E SAIBA COMO AJUDAR COM A PERMANÊNCIA ONLINE DO LETRAS
Siga o Letras no FacebookTwitterThreadsBlueskyTumblrInstagramFlipboard
Quer receber as nossas publicações diárias? Vem para o nosso grupo no Telegram

* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
 
 

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

Cinco coisas que você precisa saber sobre Cem anos de solidão

Boletim Letras 360º #613

Boletim Letras 360º #603

Dalton Trevisan

O centauro no jardim, de Moacyr Scliar