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Mostrando postagens de novembro, 2024

Boletim Letras 360º #612

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Sophia de Mello Breyner Andresen. Foto: Louis Monier LANÇAMENTOS   Edição reúne dois livros de Sophia de Mello Breyner Andresen .   Ela soube conjugar de modo único a observação da natureza com a dimensão humana. A descrição concreta e material da paisagem — com destaque para o mar, tema central de sua poesia — convive com reflexões sobre o amor, a morte, a dor, a injustiça e a solidão. Publicado pela Companhia das Letras, volume reúne duas obras publicadas de forma avulsa na década de 1960 e traz temas dos mais recorrentes em toda a produção da autora e atesta o impacto da poesia brasileira em sua trajetória. O Cristo cigano , lançado em 1961, revela a influência decisiva da poesia de João Cabral de Melo Neto. Já Geografia , de 1967, descreve, entre outros temas, cenas da infância, o contato com a Grécia e a admiração pela obra de Manuel Bandeira. Você pode comprar o livro aqui .   Um romance secreto e conflituoso que tem como pano de fundo a Guerra dos Seis Dias . ...

Tempo de retorno: “Os tempos da fuga”, de Giovana Proença

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Por Vinícius de Silva e Souza   Com reticências Giovana Proença inicia, de maneira simbólica, o seu romance de estreia: há algo anterior que não lemos. Há algo anterior que escapou. O que se relaciona perfeitamente à protagonista, Lígia (Ou Virginia?), que retorna ao Brasil com o início do período de anistia. Enfim é possível voltar para casa, depois de não poucas fugas. Mas a casa que deixou não é a mesma para a qual retorna.   Algo lhe escapou quando partiu; algo lhe foi tirado. E acompanhamos enquanto tenta retomar:   “não devemos retornar para onde fomos felizes, mas tampouco avisam sobre a impossibilidade de se deixar o marco do infortúnio. Estamos sempre presos à teia, contemplação do vácuo da dor. Abandona as ruas com a paixão do soldado que deixa o campo de batalha e a paixão do lavrador que ateia fogo à terra. Quantas partidas cabem no bolso?”   A autora constrói sua obra, por diversos momentos, com situações vivas e estáticas: a arma firma no rosto. A mão ...

A palavra rompe o gelo

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Por Javier Aparicio Maydeu Jón Kalman Stefánsson. Foto: Leonardo Cendamo   É possível que não seja outra coisa senão a complexidade, a gama de nuances, mesmo quando não emergem ou oscilam em elipses, que transforma uma história em literatura. O que George Steiner chamou o eco fértil, a evocação inevitável, germina na prosa de Jón Kalman Stefánsson.   A tristeza dos anjos parece um díptico. Uma primeira parte corresponde a um interior islandês em que uma epopeia da vida cotidiana se sobressai acima da vida doméstica, dos hábitos simples e cativantes de uma xícara de café quente — mais de uma cena relembra a pintura íntima de portas, mulheres, leitura e silêncio do dinamarquês Vilhelm Hammershøi transferida para o meio rural —, a casa de salga de bacalhau ou um velho rabugento.  A marca de Selma Lagerlöf parece evidente nestas páginas em que a intensidade psicológica enriquece as relações humanas que ocupam uma existência terrena dissolvida no líquido ambíguo do sonho. A...

Gladiador 2 é ridículo, mas não o bastante

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Por Ernesto Diezmartínez   É evidente que a última coisa que interessa a Ridley Scott é seguir o mínimo rigor histórico. E, em sentido estrito, nenhum cineasta — bom, ruim ou mediano — deveria se preocupar com isso. Alguém não deveria se incomodar porque, por exemplo, no filme Gladiador (2000) vemos que o indefensável herdeiro do trono imperial Commodus (Joaquin Phoenix) assassina com as próprias mãos seu pai, o filósofo Marco Aurélio (Richard Harris), quando se sabe perfeitamente que o autor das famosas Meditações morreu de peste quando dirigia uma campanha militar, porque como diriam os clássicos, “ get a life !” O cinema não nasceu para dar aulas de história. E menos ainda o cinema hollywoodiano de togas e sandálias, também conhecido como peplum , ou, parafraseando um certo cantor espanhol, como “cinema de romanos”.   Então, quando, em uma cena marginal da tardia continuação Gladiador 2 (Estados Unidos — Reino Unido, 2024), vemos um personagem lendo um jornal impresso ma...

Cinzas de T. E. Hulme

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Por Christopher Domínguez Michael T. E. Hulme. Foto: George C. Beresford   Foi graças a Thomas Ernest Hulme (1883–1917), esse grande rapaz provinciano, briguento e megalomaníaco, que Ezra Pound e T. S. Eliot encontraram em grande parte o seu caminho como poetas, graças à peculiar glosa por ele realizada, tão contraditória, aliás, primeiro de Nietzsche e depois de Bergson.   O decisivo, em Hulme, foi a “A Lecture on Modern Poetry”, proferida em novembro de 1908, num salão de poetas de Londres logo abandonado pelo inovador por um salão à parte, o de secessão, que atraiu até mesmo o pintor, poeta e romancista Wyndham Lewis e o pintor e escultor Henri Gaudier-Brzeska. Hulme, estranhamente, considerava a escultura (e mais tarde a arquitetura) como as artes supremas, apaixonado como era, conceitualmente, pela argila moldável.   T. E. Hulme opunha-se veementemente ao que considerava o romantismo, “essa religião tresmalhada”, como dizia, e um movimento obsoleto por ele associado ...

Vidas de Leonora

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Por José de la Colina   Em Chorley, pequena cidade de Lancashire (Inglaterra), então famosa por sua grande indústria têxtil e por ter inventado o Chorley cake (tão indigesto quanto costumam ser os cakes ingleses?), nasceu uma menina no dia 6 de abril de 1917 no bairro de Clayton Green que terá o segundo lugar cronológico no que seria um quarteto de filhos de Harold Wilde Carrington, um rico empresário têxtil, e da irlandesa Maureen Moorhead, dona de casa e sem qualquer traço merecedor de fama (exceto, conta-nos uma breve biografia, o fato muito indireto e secundário de um irmão seu ter sido colega de James Joyce na escola jesuíta de Congloes). A criança foi batizada, não como Leonore ou Lenore, nomes que corresponderiam à sua inglesidade, mas com o nome italiano e/ ou espanhol de Leonora, que teria soado mais alto, sonoro e romântico aos ouvidos dos pais.   Alguns anos mais tarde, Leonora, agora morando com a família no Crookner Castel em Lancaster, tinha, como seus irmãos,...

Cinco poemas de Delmore Schwartz

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Por Pedro Belo Clara (Seleção e versões) Delmore Schwartz. Foto: Jane Lougee     NESTE MOMENTO   As pessoas incertas compelem-me. Elas temem O Às de Espadas. Elas temem O amor espontâneo, voltam costas à cornija, Encantadoramente decididas. E não confiam No fogo-de-artifício junto ao lago, primeiro o aparato, Depois as luzes coloridas, subindo no céu. Cautelosas, hesitantes, cheias de dúvida, cobiçosas Consomem o César à proa, no seu regresso, Preso à pedra do seu acto e da sua função.   Enquanto a charanga rebenta cintilante sobre a água, Elas permanecem na multidão, delineando a margem, Cientes da água a Seus pés. Elas sabem. Os seus olhos São assombrados pela água.   Elas perturbam-me, compelem-me. Não é verdade Que “nenhum homem é feliz”, mas não é esse O sentido que te guia. Se somos Inacabados (e somos, a não ser que a esperança seja um sonho mau), Tu és preciso. Puxas a minha manga Antes de eu falar, com uma amizade de sombra, E lembro-me que nós, os...

Boletim Letras 360º #611

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DO EDITOR   Olá, leitores! Este foi o primeiro ano desde quando iniciamos nossas apostas em vocês para a manutenção do domínio e hospedagem online do Letras que conseguimos custear essas despesas sem a realização de sorteios pagos e apenas com o que levantamos de receita nas vendas através do nosso link na Amazon.  O registro da informação é para acrescentar duas coisinhas: a primeira delas é agradecer a cada um que alguma vez considerou nos ajudar ao realizar sua compra utilizando o  nosso link. E a segunda é se for aproveitar ainda qualquer oferta nessa semana de Black Friday, pense em nós. O nosso link é este .  Em nossa conta no Twitter organizamos um fio com dicas de ofertas em livros — passem por lá. Uma curtida, uma partilha ou quem sabe ainda encontra o presente para você e seus amigos neste final de ano, enfim, todo gesto, pequeno que seja, é ajuda ao nosso trabalho. Ariano Suassuna. Foto: Leonardo Colosso       LANÇAMENTOS   A poesia c...