Boletim Letras 360º #606
Beatriz Bracher. Foto: Piudip. |
A presente tradução das notas que
Nietzsche elabora por volta de 1875 para compor aquela que seria a quarta de
suas “Considerações intempestivas”, intitulada Nós, filólogos, é feita
diretamente do alemão para o português. Almeja-se uma relativa constância nas
opções lexicais adotadas para a tradução de termos-chave e redes conceituais do
pensamento nietzschiano. A edição crítica em que a tradução se baseia é a dos Nachgelassene
Fragmente [fragmentos póstumos], relativa a alguns dos cadernos de
Nietzsche de 1875, na versão disponibilizada gratuitamente — como Digitale
Kritische Gesamtausgabe – Werke und Briefe [Edição crítica digital de todas
as obras e cartas] — pelo site Nietzsche Source, a partir da edição organizada
originalmente por Giorgio Colli e Mazzino Montinari. Os cadernos que mencionam
de forma explícita temas possíveis do texto Nós, filólogos são
integralmente traduzidos, evitando-se supressões e remanejamentos em vista do
que podem ter sido as intenções originais de Nietzsche. Como sugere o estudo de
Cancik & Cancik-Lindemaier (2014: 263–266), estabelecer a ordem e a divisão
dos conteúdos abordados por Nietzsche em seus cadernos é uma questão complexa e
pode levar a um grau considerável de arbitrariedade por parte dos responsáveis
pela organização e tradução desse material. Aqui, mantêm-se a ordenação e a
numeração adotadas por Colli e Montinari. O livro é publicado pela editora
Mnēma; com introdução, tradução e notas de Rafael G. T. da Silva. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
A editora 34 reedita livro de contos de Tatiana Tolstáia.
Publicado originalmente em 1987, No degrau de ouro é uma das
grandes estreias literárias do século soviético. Conta-se que sua primeira
edição se esgotou em pouco mais de quatro horas. Na época, Joseph Brodsky
aclamou sua autora como “a voz mais original, tangível e luminosa da prosa
russa atual”, e ainda hoje, muitas décadas depois, Tatiana Tolstáia é
considerada uma das maiores contistas contemporâneas devido à força desta obra.
Aqui Tolstáia nos apresenta uma galeria de pessoas comuns, invariavelmente
insatisfeitas com a vida — pois, segundo a autora, “a condição humana é
essencialmente infeliz” —, em cujo cotidiano monótono abrem-se janelas para
vívidas recordações e devaneios, criando uma atmosfera de conto de fadas em
meio à dura realidade da União Soviética. Neste volume, ao longo de seus treze
contos, a sofisticada e exuberante prosa de Tolstáia — de múltiplos registros,
e que combina enredos aparentemente simples com uma força imagética que pende
para o fantástico — é capturada magistralmente por Tatiana Belinky, ela própria
uma grande personalidade de nosso meio literário, nesta que é uma de suas mais
belas traduções. Publicação da editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição de Quarenta
dias, um marco na literatura nacional que revela de forma singular como
grupos minoritários são colocados à margem da sociedade.
Alice é uma professora aposentada
que vive uma vida tranquila em João Pessoa, até ser obrigada pela filha,
Norinha, a se mudar para Porto Alegre. A relação entre as duas fica cada vez
mais difícil, e, quando Alice recebe uma ligação sobre o desaparecimento de
Cícero Araújo, filho de uma conterrânea que migrou para o Sul em busca de
trabalho, ela decide partir à procura do rapaz. A narradora então percorre a
periferia de Porto Alegre e passa quarenta dias sem retornar ao apartamento
alugado pela filha. Entregue à própria sorte numa cidade desconhecida, ganha as
ruas da capital gaúcha agarrada somente às incertezas que o destino reserva e,
nessa jornada, conhece uma série de personagens marcados pela invisibilidade
social. A nova edição do romance de Maria Valéria Rezende é publicada pela
Alfaguara Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Gabriela Cabezón Cámara 1. A
Companhia das Letras aproveitou a visita da escritora argentina no Brasil para
anunciar que publicará no segundo semestre de 2025 As meninas do laranjal.
Gabriela Cabezón Cámara 2. Sua
obra foi revelada entre os leitores brasileiros graças à editora Moinhos que
publicou os bem-recebidos China Iron e Nossa Senhora do Barraco.
O novo romance lida com o tema da ganância colonial; a tradução é Silvia
Massimini Felix.
OBITUÁRIO
Morreu o escritor Antonio
Skármeta.
Destacou-se com O carteiro e o
poeta, livro que alcançou enorme público depois da segunda versão
cinematográfica dirigida por Michael Radford, protagonizada por Massimo Troisi
e com cinco indicações ao Oscar. Antonio Skármeta nasceu em 7 de novembro de
1940, em Antofasta, no Chile. Estudou filosofia e literatura na Universidade do
Chile, quando se torna um interessado no pensamento de José Ortega y Gasset,
Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre e Albert Camus. Até alcançar a publicação do
seu principal romance, inicialmente escrito como roteiro para a rádio alemã,
Skármeta publicou os contos de El entusiasmo (1967), Desnudo en el
tejado (1969, Prêmio Casa das Américas) e os romances Não foi nada
(1980) e Matchball (1989). Depois de O carteiro e o poeta, vieram
ainda novos romances, ensaios, textos para o teatro e de literatura para
crianças. Entre os romances, destacam-se também A boda do poeta (1999), A
dança da vitória (2003, Prêmio Municipal de Literatura de Santiago) e O
dia em que a poesia derrotou um ditador (2011); Neruda por Skármeta
(2004) revisita a biografia e obra do poeta chileno; Dieciocho kilates
(2010) foi bem recebido no Festival Internacional de Teatro de Nápoles, na
Itália, país onde também recebeu o Prêmio Internacional de Literatura Boccaccio
em 1996. Ainda no campo dos reconhecimentos, em 2003 recebeu o Prêmio Unesco de
Literatura Infantil e Juvenil. A consagrada carreira terminou com sua morte
neste 15 de outubro de 2024.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. Cabeça de galinha no chão de
cimento, de Ricardo Domeneck (Editora 34, 128p.) O poeta de regresso ao
passado revela por contraste suas memórias e o tempo vigente; um gesto de autoconhecimento
e descoberta do mundo de todos. Você pode comprar o livro aqui.
2. Pastichos e miscelânea,
de Marcel Proust (Trad. Jorge Coli, Companhia das Letras, 258p.) O
célebre autor francês emula e parodia outros importantes autores da sua formação,
como Balzac e Flaubert; o fascínio de Proust pelo crítico e artista inglês John
Ruskin; Proust antes de Proust. Você pode comprar o livro aqui.
3. Golovin, de Jacob
Wassermann (Trad. Adonias Filho, Sétimo Selo, 96p.) O enfrentamento entre a
aristocrata Maria de Krüdener e o marinheiro revolucionário Golovin é parte
essencial neste romance que nos coloca diante dos impasses e forças antagônicas
da vida. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
No dia 17 de outubro de 2024,
celebramos o centenário do poeta António Ramos Rosa. Sua presença entre os
leitores brasileiros ainda que escassa não o é para os leitores que acompanham
as atividades do Letras (leia a seção posterior). Do nosso arquivo de
vídeos na página do Facebook, recordamos este raro vídeo, realizado pela
emissora portuguesa RTP ainda na juventude do poeta. No recorte, ele lê
passagens do seu livro A nuvem sobre a página (1978).
BAÚ DE LETRAS
Ainda Han Kang, Prêmio Nobel de
Literatura 2024. A semana que agora encerra começou no Letras com este texto em jeito de
perfil conduzido pelo nosso editor, Pedro Fernandes.
Beatriz Bracher, a autora que
inicia a publicação da monumental Trilogia Guerra, cujo primeiro volume se
destaca na edição deste Boletim, teve outro romance seu dos mais reconhecidos
resenhado por aqui.
O agora centenário poeta português
António Ramos Rosa aparece no Letras em 2009, com este breve perfil. Na ocasião,
publicáramos um breve material em PDF com amostra da sua poesia e outros materiais
de arquivo; este e vários outros arquivos do tipo foram perdidos quando, displicentemente,
nas infinitas reformas deste espaço, simplesmente deletamos nossa conta na
plataforma ISSUU.
Um alento. Por duas vezes, nosso
colunista e também poeta Pedro Belo Clara publicou uma seleta de poemas de António
Ramos Rosa na seção De versos: primeiro, foram poemas de Numa folha leve e
livre; depois, de Delta.
Já na seção Letras e livros, o leitor pode encontrar a resenha de Maria Vaz para O aprendiz secreto e, também pela mão de Pedro Belo Clara, uma leitura do referido Numa folha leve e livre.
DUAS PALAVRINHAS
O poeta tem o dom de ultrapassar o
nível da consciência reflexiva e de se instalar, por momentos, na consciência
profunda ao nível da espontaneidade criadora, onde as energias naturais se
desencadeiam na linguagem antes de qualquer conceptualização.
— António Ramos Rosa, em Poesia,
liberdade livre.
Já na seção Letras e livros, o leitor pode encontrar a resenha de Maria Vaz para O aprendiz secreto e, também pela mão de Pedro Belo Clara, uma leitura do referido Numa folha leve e livre.
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