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Mostrando postagens de agosto, 2024

Boletim Letras 360º #599

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Maria Judite de Carvalho. Foto: Arquivo Colóquio/ Letras (detalhe) LANÇAMENTOS   Está disponível para os leitores brasileiros a obra completa de Maria Judite de Carvalho .   O projeto editorial de reapresentação da obra completa de Maria Judite de Carvalho começou a revelar seus primeiros frutos na terra natal da escritora; era passagem de duas décadas sobre a morte da escritora portuguesa, quando o selo Minotauro, da Almedina, anunciou o feito que começa a chegar no Brasil ainda no mesmo ano de 2018. Herdeira do existencialismo e do nouveau roman , a sua voz é intemporal, tratando com mestria e um sentido de humor único temas fundamentais, como a solidão da vida na cidade e a angústia e o desespero espelhados no seu quotidiano anónimo. Observadora exímia, as suas personagens convivem com o ritmo fervilhante de uma vida avassalada por multidões, permanecendo reclusas em si mesmas, separadas por um monólogo da alma infinito. Desde então saíram seis volumes: no primeiro , os contos de  T

O romance do qual todos (e quase ninguém) falam

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Por Bárbara Ayuso Christina Stead. Foto: Robert McFarlane   Como a maioria, você não sabe quem é Christina Stead. Não se preocupe, ninguém dirá que a culpa é sua ou o chamará de um ignorante blasfemo. Porque os outros — que encheram o peito na primeira linha, refutando com   “eu sim” — também sabem que encontrar esta escritora não é fruto de dedicação bibliófila ou de erudição, mas sim parte do acaso e de um empurrãozinho. Nesse caso, mais do que uma lacuna literária, é uma história de fantasmas com uma estrutura romanesca que carece de um bom começo.   Christina Stead (1902-1983) morreu com alguns livros nas costas, mas sem saber, além de boatos, o que era sucesso ou reconhecimento. O alfabeto do malditismo, mas sem a tragicomédia de John Kennedy Toole. Publicou quinze romances e alguns contos, mas basicamente ganhou o pão de cada dia como professora e ocasionalmente como roteirista na Hollywood dos anos quarenta. Os críticos que prestaram atenção à publicação de O homem que amava as

MANIAC, de Benjamín Labatut

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Por Pedro Fernandes Benjamín Labatut. Foto: Fernanda Requena   A obra de Benjamín Labatut chegou ao Brasil no auge do reconhecimento alcançado entre a crítica num universo, segundo o próprio escritor, um tanto saturado. Na sua primeira passagem pelo país, destacou-se menos pelos livros até então publicados — Quando deixamos de entender o mundo e A pedra da loucura — e mais por sua queixa de que um problema atual da literatura é o excesso de escritores e livros, uma dessas constatações verdadeiras e igualmente questionáveis. Mas, na Era Viral, quando um recorte malfeito de uma opinião é suficiente para legislar favorável ou contra quem a proferiu o que no universo artístico soma-se às dificuldades de separar autor e obra, é importante não reduzir o escritor chileno (e qualquer outro). Benjamín Labatut não é mais um na invencível lista de ficcionistas e MANIAC é um bom exemplo disso.   É verdade que o romance regressa a um modelo que se tornou Best-Seller com Jostein Gaarder e O mund

Breakfast at Tiffany's

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Por Olga da la Fuente   Tudo começa às 5h57; um daqueles dias nublados em que não se tem vontade de sair da cama. A câmera de Franz Planer ( Roman Holiday , The Unforgiven ) captura com sutil elegância a cidade que ainda não despertou enquanto um táxi para na nossa frente. A orquestra de Henry Mancini toca: “Moon River”, a música que foi composta para o filme e que fala de todas aquelas pessoas que saíram de casa em busca de um grande sonho. Porque ninguém chega a Nova York em busca de uma vida tranquila. Nova York é para quem tem um desejo profundo de sucesso, porque mais do que qualquer outro lugar, a cidade dos arranha-céus está perto das estrelas.   E Holly Golightly, a sofisticada e complicada criação de Truman Capote, representa todas aquelas mulheres — meninas, como o escritor as chama — que chegam a Nova York, brilham por um momento e depois desaparecem. Audrey Hepburn, em seu papel mais famoso, desce do táxi. Vestida de preto, luvas de cetim, colar de pérolas, óculos escuros e

O primeiro Calvino. A resistência como testemunho e encontro entre natureza e história

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Por Diego F. Barros e Ivana Calamita A exploração do romance A trilha dos ninhos de aranha — o primeiro livro publicado por Italo Calvino em 1947 — está indissociavelmente ligada à do segundo, a compilação de contos Por último vem o corvo que veria a luz dois anos adiante. Mas além de ambas as obras serem claras expressões do “primeiro Calvino”, são vários os motivos que fazem com que qualquer aproximação à primeira conduza inevitavelmente à leitura da segunda.   No geral, os dois livros revelam a busca — muito típica dos escritores da época — por dar conta do que havia significado a experiência da guerra que acabava de terminar. No caso de Calvino, essa experiência adquiriu uma dimensão particularmente intensa porque ele próprio integrou as Brigadas Garibaldinas, quando decidiu juntamente com o seu irmão alistar-se como partigiano . Havia sugado o antifascismo do seio familiar, mas logo ele saberia conciliar sua decisão de passar à ação armada com seu compromisso intelectual, escrev

Borges, simetrias e leves anacronismos

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Por Cristian Vázquez   1 Como começar um novo artigo sobre Borges? O que mais se pode dizer de um escritor sobre o qual foram escritas bibliotecas inteiras, apenas sobre ele, que sempre imaginou que o paraíso em forma de biblioteca?   “A realidade gosta das simetrias e dos leves anacronismos”, diz o narrador de “O Sul”, o conto que Borges mais gostava entre todos que escreveu. Em outra passagem, o autor arriscou que “ao destino agradam as repetições, as variantes, as simetrias”. Esta última citação corresponde ao brevíssimo texto intitulado “A trama”, de O fazedor , o mais “pessoal” de seus livros, conforme declara no epílogo. Pois bem, brinquemos com as simetrias e os leves anacronismos: Borges publicou esse livro em 1960, quando tinha pouco mais de sessenta anos, há quase sessenta anos. Falemos do mais pessoal de seus livros, falemos de O fazedor .   2 O fazedor é um livro especial em vários aspectos. Provavelmente se deve, em grande parte, ao fato de ser o primeiro livro que Borge

Oito poemas de “Os Cinquenta Poemas do Ladrão de Amor” (Caurapankasika)

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Por Pedro Belo Clara         Mesmo agora    que tudo se desmoronou Recordo a minha amada    luminosa Como uma grinalda de douradas flores A pelugem negra que desaguava no seu umbigo O corpo fremente de desejo ao acordar       Mesmo agora   se a visse de novo A essa rapariga de olhos de lótus O corpo soçobrando devido ao peso dos seios Estreitá-la-ia entre os meus braços E beberia da sua boca como um louco Como uma abelha insaciável   sugando uma flor Mesmo agora    recordo a minha amada Na dança selvagem do amor Curvada devido ao peso dos seios O corpo esguio consumido pelo desejo O rosto transparente como a lua cheia Submersa pelos seus longos cabelos       Mesmo agora    recordo a minha amada Cavalgando por cima de mim O seu esforço de vaivém    constelava A sua pele de cachos de pérolas Gotas claras e espessas de suor Recordo o pendente de ouro Roçando as suas maçãs do rosto       Mesmo agora    recordo os seus olhos Suplicando que a possuísse    os membros Trémulos da intensid

Boletim Letras 360º #598

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Hermann Broch. Arquivo: Leo Baeck Institute     LANÇAMENTOS   Os leitores brasileiros têm ao alcance uma nova edição e tradução de três livros centrais na obra de Hermann Broch .   “Os sonâmbulos” foi título dado por Hermann Broch aos três livros que retratam três fases cruciais na vida da Alemanha: a prussiana, a imperialista e a da Primeira Guerra Mundial. Cada romance narra a história de indivíduos que, tal como os sonâmbulos, vivem entre o sono e a realidade, buscando encontrar um sentido para a própria vida: Pasenow ou o romantismo (1888), Esch ou a anarquia (1903) e Huguenau ou orealismo (1918). Pasenow, Esch e Huguenau tentam libertar-se dos valores do passado, nos quais já não acreditam, mas dos quais ainda fazem parte. Em cada romance, Broch retrata a decadência dos antigos valores europeus, a libertação da razão acompanhada pelo surgimento da irracionalidade, e a autodestruição do mundo em sangue e miséria. Ao mergulhar nas reviravoltas de seus personagens, Broch oferece u