Boletim Letras 360º #590

Adélia Prado. Foto: Marilêne Marinho



LANÇAMENTOS

O resgate da obra completa do escritor goiano Hugo de Carvalho Ramos apresenta vários textos publicados pela primeira vez em livro.
 
1. O primeiro volume de Hugo de Carvalho Ramos: obras reunidas apresenta o conjunto de contos intitulado Tropas e boiadas (1917), obra mais conhecida do autor goiano e a única publicada em vida. Trata-se de histórias que evocam aventuras e causos de um mundo agrícola bem anterior ao agronegócio brasileiro atual, sem cair, porém, no chavão regionalista da “cor local”. De sua primeira publicação, a coletânea logo chamou a atenção de grandes escritores brasileiros, como Monteiro Lobato (que viria a publicá-lo), Mário de Andrade e Guimarães Rosa. O volume reúne também uma série de poesias do autor, nas quais se percebe sua verve religiosa, quase mística, para além do catolicismo tradicional brasileiro. Tal produção é contextualizada por textos críticos do cineasta e pesquisador Lázaro Ribeiro, que retraça elementos biográficos do autor e os traz à luz; do poeta Ricardo Domeneck, em uma reflexão da obra poética do autor no contexto da poesia contemporânea; e da pesquisadora especialista na obra de Hugo, Albertina Vicentini, que estabelece paralelos inéditos entre o contexto sócio literário desses escritos com a atualidade. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. O segundo volume enfoca os textos de Hugo de Carvalho que foram relegados ao esquecimento e, injustamente, não gozaram da mesma fama que a coletânea de contos Tropas e boiadas. Entre esses textos, estão os Escritos esparsos, que desafiam definições pré-estabelecidas de gêneros literários e revelam a verve espiritual, histórico-literária e intimista do autor. Tal produção é aprofundada e investigada a partir de diferentes pontos de vista no texto crítico de Antón Corbacho. Há, ainda, uma série de artigos nos quais o escritor demonstra sua habilidade ensaística ao discorrer sobre temas como os meios de produção agrícola e o futebol. Por fim, o leitor poderá ainda ter contato com a correspondência de Hugo, carregada de dilemas existenciais. O volume conta também com texto de Rogério Santana, que traz elucidações importantes da obra de Hugo como um todo, com enfoque especial na produção jornalística e na correspondência do autor, aspectos menos estudados pela crítica. Você pode comprar o livro aqui.

Os dois livros podem ser adquiridos isoladamente, mas compõem uma caixa e são os primeiros lançamentos de literatura brasileira no catálogo da editora Ercolano. Você pode comprar o livro aqui.
 
Uma crítica afiada à alta sociedade, seus luxos e interesses vazios.
 
Denis é um jovem poeta tímido e cheio de incertezas sobre a vida. Ao chegar em Crome, no interior da Inglaterra, para passar as férias na mansão do sr. e da sra. Wimbush, se encontra com uma realidade à parte, em que pessoas ricas, escritores, jornalistas, pintores e socialites esbanjam o seu ócio pouco produtivo dia após dia. Entre horóscopos de cavalos, discussões existencialistas, flertes e um vaivém constante e desinteressado de personagens, Denis se mistura à excêntrica fauna do lugar e tenta se encaixar e se descobrir como homem e como poeta. Logo, porém, ele se dá conta de que aquelas pessoas, à primeira vista tão cultas e interessantes, possuem mentes tão caóticas quanto a dele. Em Amarelo-Cromo, publicado originalmente em 1921 mas ainda hoje atemporal, Huxley descreve como poucos a sensação de desconforto diante das extravagâncias vazias, hipocrisias e incoerências da aristocracia inglesa e, com detalhes nem sempre sutis, expõe os valores e princípios não tão admiráveis da alta sociedade. Com tradução de Adriano Scandolara, o livro sai pela Biblioteca Azul/ Globo Livros. Você pode comprar o livro aqui

Três poetas modernistas da literatura de língua inglesa reunidas numa antologia. 

Reunindo conhecimento ímpar e rara dedicação, Álvaro A. Antunes ― Prêmio APCA 2021 por sua tradução dos Cantos , de Leopardi ― resgata em Três poetas moderníssimas as contribuições de escritoras de vanguarda que, nas primeiras décadas do século XX, dialogavam de perto com o que havia de mais inovador na poesia de língua inglesa e foram relegadas, com o correr do tempo, “à margem da margem”. Com vidas tão experimentais quanto seus poemas, Mina Loy, Hope Mirrlees e Nancy Cunard são autoras, respectivamente, de Canções para Joannes (1917), Paris: um poema (1920) e Paralaxe (1925), poemas-longos que, em risco e ambição, são equiparáveis às produções de Ezra Pound e T. S. Eliot, particularmente The waste land (1922), o poema-chave da época. Escritos em pleno turbilhão do Modernismo ― e apresentados aqui em edição bilíngue, com o imprescindível respeito à tipografia original ―, cada poema é acompanhado de um minucioso ensaio no qual o tradutor e organizador do volume contextualiza a vida e a obra das autoras, situando-as na paisagem literária do momento, ao mesmo tempo em que destaca e comenta a radicalidade inerente a cada uma delas. Fruto de larga pesquisa, e com preciosos insights sobre a poesia de invenção do final do século XIX às primeiras décadas do XX, este livro é referência fundamental para o conhecimento da literatura moderna em inglês e fonte atualíssima de reflexão para a poesia contemporânea, na medida em que algumas de suas principais linhas de força emergiram de apostas tão vigorosas quanto as destas Três poetas moderníssimas. Publicação da Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.

Um dos livros que está no rol das publicações incontornáveis para o debate sobre os direitos civis nos Estados Unidos.
 
“Não acredite na palavra de ninguém, inclusive na minha, mas confie em sua experiência. Saiba de onde você veio. Se você sabe de onde veio, não há limite para onde poderá ir”, escreve James Baldwin para seu sobrinho, também chamado James, um adolescente prestes a completar quinze anos. Reunião de dois textos — uma breve carta seguida por um longo ensaio sobre a formação religiosa do autor — publicados em livro em 1963, Da próxima vez, o fogo é um poderoso depoimento sobre a construção da própria identidade, tendo como ponto de partida a segregação racial que forjou a sociedade norte-americana. Este volume conflagra o pensamento provocativo, questionador e genial de James Baldwin — e atesta que sua voz permanece fundamental até hoje. A tradução é de Nina Rizzi. O livro inclui posfácio de Ronaldo Vitor da Silva e perfil biográfico de Márcio Macedo. Edição da Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um belo romance que destaca a interseção entre arte e ciência, explorando temas como a percepção da beleza e a profundidade da visão interior.
 
Os três personagens deste romance jamais teriam se conhecido se não fosse o luminoso romance de Anne Sibran. Nele, Paul Cézanne, o célebre pintor, está em pleno domínio de sua arte e percorre o campo sempre em busca de um olhar novo, primevo e puro. Barthélemy, um oftalmologista genial, que cresceu entre cegos na instituição dirigida por seu pai, dedicou-se ao estudo do olho e desenvolveu com sucesso a operação de catarata. Durante a Comuna, tratou dos feridos e depois foi obrigado a se exilar na América do Sul. Lá, conheceu Kitsidano, uma jovem ameríndia cega de nascença, que vê o que não é visível, e que se tornará sua esposa. O encontro entre todos eles ocorre em Paris, no consultório de Barthélemy, onde Paul Cézanne vai em busca da cura de seu problema de visão. A amizade entre eles nasce da paixão comum pelo primeiro olhar. Se Cézanne se interessa pelo trabalho de Barthélemy, este é cativado pela personalidade surpreendente da jovem indígena com quem compartilha uma sensibilidade quase xamânica. A jovem recusará a operação que lhe devolveria a visão, preferindo manter seu olhar interior. Anne Sibran cria uma narrativa poética e imaginativa que incorpora elementos espirituais e xamânicos, proporcionando uma experiência única para o leitor, além de tratar Cézanne como um personagem completo, permitindo-se todas as liberdades que só a literatura é capaz. Com tradução de Adriana Lisboa, O primeiro sonho do mundo sai pela editora Relicário. Você pode comprar o livro aqui.
 
Peça indispensável nos estudos sobre a arte de ilustrar.
 
Para Philippe Kaenel, o século XIX é o século da ilustração: enquanto o mundo editorial e as artes da gravura se renovavam, a prática da ilustração se especializou, até se tornar, precisamente, um ofício. À época, muitos artistas trabalhavam para os editores: para alguns a ilustração representou um lugar de passagem, um trampolim para a notoriedade; na maioria das vezes, contudo, a ilustração representava um rebaixamento, por ser considerada popular, industrial e comercial. Em O ofício de ilustrador 1830-1880, o autor examina a história da ilustração por meio da trajetória de três artistas proeminentes no período: o suíço Rodolphe Töpffer (1799-1846) e os franceses J. J. Grandville (1803-1847) e Gustave Doré (1832-1883). Combinando a sociologia de Pierre Bourdieu com a história social da arte e das profissões artísticas, escreve a história social dos ilustradores no século XIX, discutindo também as hierarquias entre belas-artes e artes industriais ou “populares” e as barreiras entre elas. Com tradução de Regina Salgado Campos e Iraci D. Poleti, o livro sai pela Edusp. Você pode comprar o livro aqui.

A nova tradução e edição de um dos principais ensaios de Erich Auerbach. 

Figura é um ensaio fundamental de Erich Auerbach, um dos maiores críticos literários do século XX. Nele, seu autor percorre ao longo de um milênio a formação do modo de interpretação figural, que confere sentido às relações entre o Velho e o Novo Testamento, alcançando inclusive a Antiguidade greco-romana, fundamento da cultura cristã-ocidental. Para essa maneira de pensar a história, Adão e Moisés deixam de ser personagens da história do povo judeu e passam a figuras que anunciam a vinda de Jesus Cristo, unificando passado e presente. Essa visão predominou em toda a Idade Média e, graças ao estudo de Auerbach, pode ser identificada em sua suma, a Comédia de Dante. O presente volume, organizado e prefaciado por Leopoldo Waizbort, traz uma nova tradução do ensaio, pela primeira vez a partir do original alemão, além de sete estudos correlatos de Auerbach, redigidos entre as décadas de 1920 e 1950, que demonstram a centralidade do tema na obra do autor de Mimesis. Publicação da Editora 34. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
Chico Buarque em alta 1. Na passagem dos seus 80 anos celebrados em junho deste ano, várias casas editoriais têm revelado reedições ou novos livros que exploram a obra do compositor e escritor. A Ateliê publica dois livros: Chico Buarque. A transgressão em três canções, de Eduardo Calbucci analisa à luz da semiótica “Mar e lua”, “Uma canção desnatura” e “Não sonho mais”; e Chico Buarque ou a poesia resistente, de Adelia Bezerra de Meneses analisa, entre outras, canções como as recentes “Que tal um samba?” e “As caravanas”.
 
Chico Buarque em alta 2. A editora Record publica a biografia Trocando em miúdos: seis vezes Chico, de Tom Cardoso. Na mesma linha biográfica, a L&PM Editores apresenta O que não tem censura nem nunca terá: Chico Buarque e a repressão artística na ditadura militar, de Márcio Pinheiro. E a Nova Fronteira reedita a fotobiografia organizada por Regina Zappa; edição com vasto conteúdo como cartas, fotos, manuscritos e reportagens.
 
Catulo. A Edusp prepara uma reedição revista e ampliada de O livro de Catulo. Organizada e traduzida por João Angelo de Oliva Neto, a obra recebeu o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.

Os quatro livros da nova estação. A Dublinense abre pré-venda de mais quatro títulos no seu catálogo. Chegam uma autobiografia de Buchi Emecheta, Cabeça fora d'água; A mulher de dois esqueletos, de Julia Dantas; O gesto que fazemos para proteger a cabeça, de Ana Margarida de Carvalho; e Doce introdução ao caos, de Marta Orriols.

PRÊMIO LITERÁRIO
 
Adélia Prado, Prêmio Camões 2024.

Adélia Prado junta-se ao grupo de outros escritores brasileiros já destacados com o galardão, entre eles Chico Buarque, Antonio Candido, Silviano Santiago, Dalton Trevisan, Ferreira Gullar, João Ubaldo Ribeiro, Lygia Fagundes Telles, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado e Rachel de Queiroz. Para o júri “Adélia Prado é autora de uma obra muito original” e “é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”. De Divinópolis, Mina Gerais, Adélia estreou na literatura com o livro de poemas Bagagem, em 1976, que se tornaria sua Magnum Opus. Sua obra é composta ainda por livros de prosa (conto e romance), mas se destacou precisamente na poesia com títulos como Terra de Santa Cruz (1981), A faca no peito (1988), Oráculos de maio (1999), entre outros. O anúncio do Camões chega poucos dias depois de a poeta ser reconhecida com o galardão da Academia Brasileira de Letras, também pelo conjunto da sua obra. Atualmente ela trabalha no próximo livro de poesia, intitulado, provisoriamente, como Jardim das Oliveiras.
 
DICAS DE LEITURA
 
Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. A cor do leite, de Nell Leyshon (Trad. Milena Martins, Bertrand Brasil, 208p.) Uma menina conta com urgência sua vida entre o período em que trabalha com suas três irmãs na fazenda da família sob o jugo fechado do pai e o tempo de quando foi enviada para cuidar da esposa do pastor; o registro contundente de uma vida desperdiçada pela crueldade humana. Você pode comprar o livro aqui
 
2. As aventuras de Augie March, de Saul Bellow (Trad. Sonia Moreira, Companhia das Letras, 704p.) Para quem ama um excelente romance de formação com tons da grande narrativa, uma coisa que cada vez mais se perde com os livros da moda. Acompanhamos os périplos da personagem-título e sua coleção de tentativas pela sobrevivência, seja na periferia pobre de Chicago, passando pelo México e até a Europa.  Você pode comprar o livro aqui
 
3. Glaxo, de Hernán Ronsino (Trad. Livia Deorsola, Editora 34, 80p.) Uma novela que traça com maestria os contornos trágicos de uma história em que se cruzam desejo e vingança, amizade e covardia, a violência política e o desmonte de um país. Você pode comprar o livro aqui
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
“Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo.” As palavras são de Carlos Drummond de Andrade na sua crônica para o Caderno B, no Jornal do Brasil, do dia 9 de outubro de 1975, em que anunciava a existência da obra (e) de Adélia Prado. Você pode ler um fac-símile da crônica aqui.
 
Nos 80 anos de Adélia Prado, celebrados em dezembro de 2015, realizamos junto com os nossos leitores um recital com a leitura pública de alguns dos seus poemas. Você pode acessar todo o material aqui.
 
BAÚ DE LETRAS
 
Ainda em novembro de 2008 publicamos “Com licença poética, a poeta (e a poesia de) Adélia Prado. O texto que pode ser lido aqui foi revisto e atualizado.  
 
DUAS PALAVRINHAS
 
Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
 
— João Guimarães Rosa, em entrevista a Günter Lorenz

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
 
 

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