Boletim Letras 360º #589
Alejo Carpentier. Foto: Arquivo da Fundação Alejo Carpentier. |
LANÇAMENTOS
A nova tradução de um dos
principais romances de Alejo Carpentier.
Obra magistral da literatura hispano-americana e um dos mais importantes romances de Alejo Carpentier ao lado de O século das luzes e A sagração da primavera, Os passos perdidos foi publicado em 1953, inspirado, entre tantas outras experiências, nas viagens do autor pelo interior da Venezuela. Adentra-se nestas páginas como em uma selva, no encalço dos passos de seu protagonista-narrador, um musicólogo e compositor que, buscando escapar de uma existência vazia na cidade, aceita o encargo de rastrear instrumentos musicais indígenas na selva sul-americana. Nessa jornada aparentemente reversa, que parte de uma grande metrópole para desembocar na natureza bruta, ele percorre também o próprio tempo, uma constante na obra carpentiana. Passado e presente se misturam nesta viagem de regresso às origens com o intuito de chegar à época da invenção da linguagem e das suas primeiras formas — às raízes do mundo e da criação musical pura. Com uma linguagem riquíssima e fascinante, Alejo Carpentier porta o leitor selva adentro em uma travessia que vai além do espaço-tempo: é também uma viagem literária. Os ornamentos e floreios de uma escrita em seu ápice evocam centenas de referências textuais: obras de arte, objetos e culturas distantes, fatos históricos e seus protagonistas, obras literárias etc. Uma selva textual. A tradução de Sérgio Molina sai pela Editora Zain. Você pode comprar o livro aqui.
Um dos principais livros de
Ivan Búnin, primeiro escritor russo a ganhar o prêmio Nobel de Literatura
em 1933, ganha tradução e edição no Brasil.
Alamedas escuras foi
escrito entre 1937 e 1945, durante a estadia do autor no sul da França. Búnin
pertence à assim chamada “literatura russa no exílio”. Fazia parte da primeira
leva de emigrantes russos que reuniu os escritores e poetas que não aceitaram a
revolução de 1917 e se refugiaram na Europa. Segundo as palavras do próprio
Búnin, “o livro tem o nome do primeiro conto, ‘Alamedas escuras’, e todos os
outros contos tratam também, por assim dizer, das escuras e, na maioria das
vezes, muito cruéis alamedas do amor”. Os momentos mais felizes e cruciais da
vida dos personagens de Alamedas escuras estão associados ao amor que, na
maioria das vezes, determina o futuro deles. No entanto, essa felicidade é
passageira porque o amor carrega uma premonição de um inevitável desfecho fatal
que cria uma tensão ímpar nas narrativas do livro. Na descrição de Búnin, o
amor é um relâmpago curto e deslumbrante que ilumina a vida dos personagens e
logo em seguida os faz olhar dentro do abismo perigoso que inevitavelmente
provoca o final trágico. Na visão do mundo do autor de Alamedas escuras,
sempre há a proximidade entre o amor e a morte, refletindo a natureza
catastrófica da existência humana. Búnin considerava Alamedas escuras o
seu melhor livro. Nos 38 contos que compõem o volume, a arte literária do
escritor e poeta alcança a sua mais plena perfeição, encantando os leitores com
a absoluta formal — poética e musical — de cada frase, de cada pequeno detalhe
e da composição, tudo aquilo que compõe o afamado estilo literário deste
escritor que os leitores lusófonos agora poderão apreciar graças à brilhante
tradução direta de Irineu Franco Perpétuo. Publicação da Ars Et Vita. Você pode comprar o livro aqui.
Nova edição e tradução brasileiras das Bucólicas, de Públio Virgilio Marão, figura
central do mundo latino.
A primeira grande obra de Públio Virgílio recria o espaço idílico dos
pastores sicilianos de Teócrito, poeta siracusano do século III a.C., mesclando
a tranquilidade e a perfeição de uma Arcádia utópica com a crise do mundo
romano convulsionado pelas guerras civis, mas prenhe de esperança nos novos tempos,
em que a paz e a segurança de uma nova ordem serão estabelecidas. Escritos
entre 42 e 37 a.C., os seus dez poemas estão repletos de alusões aos eventos
dramáticos e sangrentos que marcaram a transição da República para o Império,
anunciando uma nova Idade de Ouro, com a Pax Romana sob o cetro de Augusto.
Também os amores descritos nas cenas idílicas apresentam algo de perturbador,
por se tratarem, quase sempre, de paixões não correspondidas. Obra seminal da
cultura literária do Ocidente, as Bucólicas têm sido permanentemente
lidas, imitadas e traduzidas desde a sua primeira publicação, há mais de dois
milênios, inspirando artistas de todas as épocas e áreas. Nesta primorosa
tradução de Raimundo Carvalho, os cantos dos pastores-poetas ressoam íntegros,
emulados em novo tecido sonoro e rítmico, observando o contraste melódico entre
a suavidade e o colorido das vogais da língua portuguesa falada no Brasil e o
intrincado sistema das aliterações consonantais recriado do original latino.
Publicação da editora Autêntica. Você pode comprar o livro aqui.
Romance se propõe a uma
releitura cômica do mito de Teseu.
Lançada em 1974, Oreo, de
Fran Ross, é uma obra absolutamente inovadora. Não por menos, as discussões
aqui propostas, sempre com sarcasmo e bom humor, cabem perfeitamente em nosso
tempo. Identidade racial e cultural, racismo, feminismo, antissemitismo: todas
essas questões aparecem neste livro que combina elementos da mitologia grega,
cultura afro-americana e invenção linguística para propor uma releitura cômica
do mito de Teseu. Com tradução de Heloísa Mourão, o livro é publicado pela
editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
A estreia de Pedro Jucá no romance.
Amanhã tardará é um
romance de formação sobre as nuances e complexidades das relações familiares,
da potência inesgotável do trauma e, acima de tudo, das inapagáveis marcas da
infância sobre a concepção do desejo, da sexualidade e da própria passagem do
tempo. Com o pai à iminência da
morte, é para a sua casa de infância que Marcelo se vê obrigado a retornar —
trajeto árduo que, como numa peregrinação, precisa terminar a pé. Quando chega
à fria e remota Ourives, no entanto, ele descobre que sua vila natal é tão
pouco convidativa quanto sua história familiar pregressa: Inês, sua irmã, o
recebe com um gesto de violência e de medo, forçando-o a navegar pelo
contrafluxo da memória na tentativa de revisitar as razões que levaram ao
rompimento de sua relação. O
livro sai pelo selo Tusquets. Você pode comprar o livro aqui.
Dezessete contos afiados como
caninos da escritora argentina Camilla Fabbri.
Quando Amalia tinha 12 anos,
gostava de frequentar a casa da vizinha. Por lá, havia uma piscina no quintal,
o desejo maior em meio ao verão implacável de Buenos Aires. Mas havia também um
filhote de jacaré. O réptil era pequeno e, no entanto, sua boca assustava.
Quando alguém esboçava um mísero pavor, ouvia dos donos da casa: “Não tema, é
inofensivo”. Nada que se mexa, que tenha fome ou que sinta cheiro pode ser
assim tão livre de causar algum tipo de receio. Ser alvo da animalidade — a
nossa e a alheia — é o destino implacável de todos. Essa é a ideia por trás de Estamos
a salvo, reunião de dezessete contos afiados como caninos da escritora
argentina Camilla Fabbri, um dos grandes nomes da atual literatura
latino-americana. “Os olhos do jacaré eram aquosos e mornos, como os de quem
acaba de chorar e não quer que se note. Ela percebeu certa agitação no animal,
queria demonstrar compreensão e passou a mão através do limiar dourado”,
arrepia-se a personagem do conto “Sobras”. Entre os protagonistas de Fabbri, em
sua maioria mulheres e crianças, impera uma espécie de aceitação da vida como
elemento de constante selvageria, que obriga a todos a viver em estado de
alerta como um animal numa selva. Ou numa jaula. Seja no caso da atriz madura
que se envolve com um operador de som bem mais jovem, ou no do homem preso
dentro do terror que pode ser um shopping, Estamos a salvo é um livro
que nos obriga a escutar as feras. Com tradução de Silvia Massimini Félix, o
livro sai pela editora Nós. Você pode comprar o livro aqui.
Livro repensa corajosamente as origens da língua, literatura e cultura
visual japonesas modernas a partir da perspectiva da história da mídia.
Baseando-se em insights metodológicos de Friedrich Kittler e em
extensa pesquisa de arquivo, Seth Jacobowitz investiga uma série de
transformações epistêmicas na era Meiji (1868-1912), desde a ascensão das redes
de comunicação, como o telégrafo e os correios, até debates sobre a reforma da
linguagem e da escrita nacionais. Jacobowitz documenta as mudanças nas práticas
discursivas e nas constelações conceituais que remodelaram os regimes verbais,
visuais e literários do período Tokugawa (1603-1868), anterior à Meiji. Essas
mudanças culminam na descoberta de um novo estilo literário vernacular a partir
das transcrições taquigráficas da narrativa teatral (rakugo), que foi
posteriormente defendido por grandes escritores como Masaoka Shiki e Natsume
Soseki como base para um novo modo de narrativa transparentemente objetiva, o “realismo
transcricional”. O nascimento da literatura japonesa moderna está, portanto,
localizado não apenas na taquigrafia, mas também nos emergentes canais
multimídia que chegavam do Ocidente. Este livro representa o primeiro estudo
sistemático das maneiras pelas quais a mídia e as tecnologias inscritivas
disponíveis no Japão, em seu limiar de modernização no final do século XIX e
início do século XX, moldaram e deram origem à literatura japonesa moderna.
Com tradução de Marco Souza, A
escrita no Japão da era Meiji é publicado pela editora Estação Liberdade. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
Dois livros sui generis
na obra de Ferreira Gullar ganham repaginada reedição.
1. Um rubi no umbigo é uma comédia à brasileira. Tudo começa na casa de uma família de classe média, onde vivem o casal Everaldo e Doca, e o filho, Vítor. Um lar bastante comum, se não fosse por uma circunstância curiosa: Vítor, um jovem de vinte anos, tem um rubi costurado no umbigo — o único meio que sua falecida avó encontrou para salvá-lo de uma morte prematura. Quando a família se viu afundada em dívidas, o pai, Everaldo, encontrou uma solução simples para os problemas: retirar o rubi do umbigo do filho para pagar as contas. Inspirada em uma notícia de jornal, esta peça de Gullar escrita em 1970 foi publicada somente em 1978, poucos anos após seu retorno do exílio imposto pela ditadura militar. A primeira montagem, encenada no ano seguinte, contou com a direção de Bibi Ferreira e importantes nomes da dramaturgia, como Roberto Fróes, Osmar Prado e Ana Lúcia Torre. Sucesso de crítica, aqui se apresenta muitas dimensões interpretativas, entre elas, a política, a social e a psicanalítica — esta última muito bem abordada pelo poeta e teórico Hélio Pellegrino, em texto de 1979, incluído integralmente nesta edição. Além de retomar o texto de 1978, o livro agora reeditado inclui: a reprodução fac-similar das emendas feitas à mão pelo autor em um exemplar da primeira edição; a publicação do texto final da peça, reescrito por Gullar após assistir à montagem de Bibi Ferreira; o recorte de uma reportagem sobre o caso do homem que tinha um rubi no umbigo; algumas imagens do programa da montagem de 1979 e fotos da mais recente, de 2011; e textos que aproximam o público do debate crítico acerca da peça. O projeto gráfico, assinado pelo artista visual Gustavo Piqueira, é inspirado na edição de 1978 projetada por Eugênio Hirsch. Você pode comprar o livro aqui.
2. Romances de cordel reúne
trabalhos criados especialmente no Centro de Cultura Popular (CPC) da União
Nacional dos Estudantes (UNE), nos anos 1960, a convite do dramaturgo Oduvaldo
Vianna Filho — o Vianinha — para que Gullar participasse das iniciativas do
CPC, àquela altura, um grupo recém-formado que aglutinou originalmente
realizadores de teatro. A parceria com a UNE costurada por Vianinha, mais que
promissora, também significou uma oportunidade única para que os artistas
engajados na militância política pudessem colaborar em conjunto. Esse mergulho
nas causas populares rendeu criações que marcaram para sempre a cultura
brasileira, sendo este Romances de cordel a notação de seu braço
literário. Gullar compôs “João Boa-Morte cabra marcado para morrer”, texto que,
a princípio, seria adaptado para o teatro, mas acabou sendo publicado apenas em
um folheto típico dos cordelistas. Assim também foi feito com “Quem matou
Aparecida?”, que conta a história de uma mulher, moradora da extinta favela da
Praia do Pinto, no Rio de Janeiro, que, em um ato de desespero, ateia fogo à
própria roupa. Seguem-se, ainda, os cordéis “Peleja de Zé Molesta com Tio Sam”,
uma engenhosa alegoria de denúncia da dominação cultural e política dos Estados
Unidos sobre os países da América Latina, e “História de um valente”, que
relata a prisão de Gregório Bezerra pela repressão política da ditadura militar.
Todas essas histórias ganham nova edição em projeto gráfico refinado que inclui
as ilustrações do xilogravurista Ciro Fernandes — um dos nomes mais importantes
das artes visuais no Brasil. A edição da José Olympio. Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Uma obra-prima da literatura boliviana.
A editora Pinard coloca à disposição dos leitores o próximo título da sua coleção
Prosa Latino-Americana. Raça de bronze, de Alcides Arguedas, é de 1919 e
considerado o primeiro romance do movimento indigenista na modernidade. O livro
pode ser adquirido através do financiamento aqui.
A febre João do Rio 1. O
anúncio do autor homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) é
sempre motivo para a festa de interesses editoriais. Com João do Rio, alguns
interesses já são visíveis: a Carambaia reedita a coleção de crônicas, parte da
caixa com três livros com textos de João do Rio publicada aquando da fundação
da editora.
A febre João do Rio 2. Nessa
disputa, não é a Carambaia a editora com mais publicações do/ em torno do cronista carioca. O grupo
editorial Record reimprime o seminal As religiões no Rio e tem em
catálogo uma edição anotada de Vida vertiginosa, outra obra essencial, e a biografia de
João Carlos Rodrigues.
Os próximos no catálogo da Penguin.
O selo do grupo Companhia das Letras divulgou nas redes alguns dos títulos em previsão
para o resto de 2024 e 2025. A lista inclui a primeira parte da Comédia,
de Dante; os russos Dostoiévski (Os irmãos Karamázov) e Púchkin (O
cavaleiro de bronze); Sobre o amor, de Stendhal; e Romances
campestres, de George Sand.
PRÊMIO LITERÁRIO
Adélia Prado é reconhecida com o Prêmio Machado de Assis de 2024.
Instituído em 1941, o reconhecimento pelo conjunto da obra é apresentado
anualmente pela Academia Brasileira de Letras. Adélia Prado é de Mina Gerais.
Estreou na literatura com o livro Bagagem, em 1976, que se tornaria sua Magnum
Opus. Sua obra é composta ainda por livros de prosa (conto e romance).
Atualmente Adélia trabalha no próximo livro de poesia, intitulado,
provisoriamente, como Jardim das Oliveiras.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. O verão sem homens, de Siri
Hustvedt (Trad. Alexandre Barbosa de Souza, Companhia das Letras, 200p.) Até
agora, a obra-prima da escritora estadunidense. O espaço na história do relacionamento
entre Mia e Boris e um colapso nervoso sofrido por ela são ocasiões para entrar
em contato com novas convivências femininas tão ou mais marcadas pelos padrões
de uma ordem social difícil, violenta e predatória, marcada pelo falocentrismo.
Você pode comprar o livro aqui.
2. Confiança, de Hernan Diaz
(Trad. Marcello Lino, Intrínseca, 416p.) Circunscrito ao longo de um século,
este romance conta quatro versões que, ora amplia, ora recusa o limite entre
fato e ficção, do que envolve o casal Rask nos loucos anos 1920 em Nova York. Você pode comprar o livro aqui.
3. Watt, de Samuel Beckett (Trad. Alceu Chiesorin
Nunes, Companhia das Letras, 384p.) Um romance que observa o papel que a impotência
e a falha jogam na experiência humana a partir da saga da personagem-título de
funâmbulo cambaleante e campeão da razão inquiridora a acuado e
hostilizado pelos tipos com os quais se envolve. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Recordamos este antigo e já raro vídeo
em que uma jovem Adélia Prado diz o poema “Impressionista”, do seu livro de
estreia e principal, Bagagem. Por extensão, recomendamos o canal da poeta no Instagram, onde sempre tem oferecido aos leitores contato com leitura
de sua obra.
BAÚ DE LETRAS
Machado de Assis tem lugar de
destaque no Letras. Não podia ser diferente. Na passagem do seu 185º aniversário,
no dia 21 de junho de 2024, recordamos a entrada mais recente: uma matéria
acerca da publicação da Todavia reunindo a obra completa do Bruxo do Cosme
Velho apresentada em vida. O texto pode ser lido aqui. Para ler outras
publicações em torno da obra e biografia de Machado, visite aqui.
No dia 23 de junho de 2024, outro
nome da nossa literatura alcança os 80 anos: João Silvério Trevisan. Leia mais
sobre o escritor neste breve perfil que editamos em 2009.
DUAS PALAVRINHAS
Não tenho nem proponho temas.
Minha atenção imediata é o próprio cotidiano, o que me afeta primeiro e já traz
consigo as perguntas básicas que fazem parte da vida e, portanto, da
literatura: o quê, o como e o porquê, o que sou, de onde vim, para onde vou.
— Adélia Prado, entrevista para a
revista Terceira Idade.
Obra magistral da literatura hispano-americana e um dos mais importantes romances de Alejo Carpentier ao lado de O século das luzes e A sagração da primavera, Os passos perdidos foi publicado em 1953, inspirado, entre tantas outras experiências, nas viagens do autor pelo interior da Venezuela. Adentra-se nestas páginas como em uma selva, no encalço dos passos de seu protagonista-narrador, um musicólogo e compositor que, buscando escapar de uma existência vazia na cidade, aceita o encargo de rastrear instrumentos musicais indígenas na selva sul-americana. Nessa jornada aparentemente reversa, que parte de uma grande metrópole para desembocar na natureza bruta, ele percorre também o próprio tempo, uma constante na obra carpentiana. Passado e presente se misturam nesta viagem de regresso às origens com o intuito de chegar à época da invenção da linguagem e das suas primeiras formas — às raízes do mundo e da criação musical pura. Com uma linguagem riquíssima e fascinante, Alejo Carpentier porta o leitor selva adentro em uma travessia que vai além do espaço-tempo: é também uma viagem literária. Os ornamentos e floreios de uma escrita em seu ápice evocam centenas de referências textuais: obras de arte, objetos e culturas distantes, fatos históricos e seus protagonistas, obras literárias etc. Uma selva textual. A tradução de Sérgio Molina sai pela Editora Zain. Você pode comprar o livro aqui.
1. Um rubi no umbigo é uma comédia à brasileira. Tudo começa na casa de uma família de classe média, onde vivem o casal Everaldo e Doca, e o filho, Vítor. Um lar bastante comum, se não fosse por uma circunstância curiosa: Vítor, um jovem de vinte anos, tem um rubi costurado no umbigo — o único meio que sua falecida avó encontrou para salvá-lo de uma morte prematura. Quando a família se viu afundada em dívidas, o pai, Everaldo, encontrou uma solução simples para os problemas: retirar o rubi do umbigo do filho para pagar as contas. Inspirada em uma notícia de jornal, esta peça de Gullar escrita em 1970 foi publicada somente em 1978, poucos anos após seu retorno do exílio imposto pela ditadura militar. A primeira montagem, encenada no ano seguinte, contou com a direção de Bibi Ferreira e importantes nomes da dramaturgia, como Roberto Fróes, Osmar Prado e Ana Lúcia Torre. Sucesso de crítica, aqui se apresenta muitas dimensões interpretativas, entre elas, a política, a social e a psicanalítica — esta última muito bem abordada pelo poeta e teórico Hélio Pellegrino, em texto de 1979, incluído integralmente nesta edição. Além de retomar o texto de 1978, o livro agora reeditado inclui: a reprodução fac-similar das emendas feitas à mão pelo autor em um exemplar da primeira edição; a publicação do texto final da peça, reescrito por Gullar após assistir à montagem de Bibi Ferreira; o recorte de uma reportagem sobre o caso do homem que tinha um rubi no umbigo; algumas imagens do programa da montagem de 1979 e fotos da mais recente, de 2011; e textos que aproximam o público do debate crítico acerca da peça. O projeto gráfico, assinado pelo artista visual Gustavo Piqueira, é inspirado na edição de 1978 projetada por Eugênio Hirsch. Você pode comprar o livro aqui.
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