Velhos demais para morrer: o passado que persiste, o futuro que se aproxima
Por Vinícius de Silva e Souza
Todo o tormento dos perseguidos, das vítimas, é trabalhado com Piedade e sua marcante passagem pela colônia de refugiados. Mesmo deixando-os ainda nos instantes iniciais da narrativa, há menções ao que viveu aí até o fim, deixando claro o quão marcante foi a experiência, o convívio com outros idosos. Aliás, isso aparece pelas três narrativas: Perdigueiro tem sua bússola moral recalibrada quando encontra um velho no paiol e Darren tem sua jornada guiada pelo sábio idoso chamado Professor.
Não por acaso o contato com os idosos proporciona o questionamento e este é justamente um dos pontos do livro: a aproximação da terceira e última idade e
os significados dela. Mesmo o pai de Perdigueiro revela, por fim, seu medo
secreto, ao se perceber envelhecido a cada dia e cada vez mais próximo daquilo
que caça. O mesmo ocorre com Darren, com sua jornada iniciando, não por acaso,
no dia do seu aniversário. Nessa tríade de narrativas em lugares diferentes no
tempo e no espaço, mas no mesmo mundo, o que une a todos é justamente o Futuro
que se aproxima e do qual não há como escapar.
Vinícius Neves Mariano não desperdiça a oportunidade de se aproximar da escravidão e do racismo. Em sua profundidade, a aversão, o preconceito e ódio aos idosos ecoa o Brasil colônia escravocrata e o nosso persistente racismo contemporâneo. Há a fuga, como as dos escravos fugitivos; há milícias articuladas, como bandeirantes no Império, e como as que operam no Rio de Janeiro atual; há justificativa para o ódio, como em todos os momentos em que este reinou no mundo, com aval do Estado.
A narrativa, ágil e imagética, articulada
em capítulos habilmente arquitetados, prende o leitor e não o deixa sem questionar
a natureza humana, o envelhecimento, a morte e o “eterno retorno” de nossas
relações como sociedade. A certa altura, Darren, diante da nossa história
reflete: “uma das questões, talvez a mais contundente, era se tudo aquilo
poderia mesmo, por definição da palavra, ser chamado de evolução.”
Uma das questões, talvez a mais contundente, abordada por este romance e que mais se destaca ao fim da leitura é esta: se estamos mesmo evoluindo. E se o quão distante de real é o que acabou de ser lido.
Vinícius Neves Mariano não desperdiça a oportunidade de se aproximar da escravidão e do racismo. Em sua profundidade, a aversão, o preconceito e ódio aos idosos ecoa o Brasil colônia escravocrata e o nosso persistente racismo contemporâneo. Há a fuga, como as dos escravos fugitivos; há milícias articuladas, como bandeirantes no Império, e como as que operam no Rio de Janeiro atual; há justificativa para o ódio, como em todos os momentos em que este reinou no mundo, com aval do Estado.
Uma das questões, talvez a mais contundente, abordada por este romance e que mais se destaca ao fim da leitura é esta: se estamos mesmo evoluindo. E se o quão distante de real é o que acabou de ser lido.
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Velhos demais para morrer
Vinícius Neves Mariano
Editora Malê, 2020
Editora Malê, 2020
280 p.
Comentários
um belo texto, adorei as colocações.
saudações, pessoal.