Boletim Letras 360º #585
DO EDITOR
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Louis-Ferdinand Céline. Foto: Collection Pierre Duverger |
LANÇAMENTOS
O último volume das sete
tragédias supérstites de Sófocles na tradução poética, metódica e sistemática
de Jaa Torrano.
Na disputa pelo poder em Tebas,
Etéocles e Polinices, filhos de Édipo, expulsam da cidade o pai sob a alegação
de que por seus antigos crimes de parricídio e incesto o velho rei, já deposto
há muito tempo, poderia ser causa de contaminação e desgraça para o país. Cego,
o ancião banido perambula sob os cuidados de sua filha Antígona, até chegar a
um local próximo de Atenas, onde o errante andarilho, ao saber que se trata de
um bosque dedicado às terríveis deusas Erínies, identifica-o como o lugar em
que, de acordo com antigo oráculo, encontraria finalmente paz e repouso. No
entanto, os habitantes dessa região chamada Colono, ao conhecerem a identidade
do estranho visitante, querem que ele abandone o lugar imediatamente, temerosos
de que sua presença — considerada nefasta — atraísse desgraças para a terra e
seu povo. O ancião aparentemente desvalido surpreende então ao pedir a presença
do rei local para lhe propor uma troca que, se aceita, beneficiaria a todos os
habitantes da região de modo permanente e duradouro. Atendendo ao chamado, o
rei de Atenas Teseu de imediato reconhece Édipo e o acolhe como hóspede do
país. Esse acolhimento, porém, desencadeia um inextricável conflito de
interesses entre os representantes de Tebas e de Atenas, renova o doloroso
conflito entre Édipo e seus filhos varões, e revela finalmente a dimensão heroica
do decrépito rei cego. Sob a perspectiva e no contexto da democracia ateniense
do século V a.C., este drama expõe e documenta tanto os antigos valores ainda
atuantes da aristocracia tradicional quanto as misteriosas crenças religiosas
do próprio autor Sófocles. Todos os volumes contêm, além do glossário
mitológico, ensaios de interpretação do tradutor e de Beatriz de Paoli, tão
agudos quanto esclarecedores. Édipo em Colono sai pelas editoras Ateliê
e Mnēma. Você pode comprar o livro aqui.
Um romance policial singular e
revoltante.
Money, no Mississippi, é uma
cidade pequena e pacata (além de racista) no Sul dos Estados Unidos. A aparente
tranquilidade da cidadezinha e de seus moradores é, de repente, abalada por uma
série de assassinatos brutais e incompreensíveis. Em cada cena do crime, uma
imagem se repete: um homem negro, que aparenta estar morto há anos, segura uma
parte do corpo da suposta vítima. Considerado culpado pelo assassinato, o
cadáver dele é levado para ser identificado, mas misteriosamente desaparece,
até reaparecer no crime seguinte. O cadáver da história lembra Emmett Till,
adolescente linchado em 1955, na mesma cidade de Money, num crime de racismo
que se tornou um marco da luta por direitos civis nos Estados Unidos. Não por
acaso, os mortos do romance são membros da família envolvida neste linchamento.
Assim, dois detetives estaduais são enviados à cidade, mas encontram
resistência da polícia local e, é claro, da população — a exemplo dos mortos,
os moradores não são exatamente defensores da equidade racial. Enquanto as
autoridades tentam juntar as peças dos assassinatos, crimes semelhantes começam
a acontecer em todo o país. Até que os investigadores estaduais conhecem Mama Z,
uma mulher de cento e cinco anos, que perdeu o pai em um linchamento racial
impune e que, há décadas, mantém um arquivo de cada caso desse tipo de crime
nos Estados Unidos. Com tradução de André Czarnobai, As árvores, de
Percival Everett sai pela editora Todavia. Você pode comprar o livro aqui.
Depois de dez anos da primeira
publicação no Brasil, o best-seller internacional de Chimamanda Ngozi Adichie
ganha edição comemorativa limitada, com introdução inédita da autora.
“Ser negra na América era me
sentir atropelada pelo peso da História e dos estereótipos, saber que a raça
sempre era uma razão, causa ou explicação possível para as grandes e pequenas
interações que compõem nossas frágeis vidas”, é o que diz Chimamanda Ngozi
Adichie na introdução a esta edição de Americanah. Lançado pela primeira
vez no Brasil em 2014, o livro logo se destacou com a comovente história de
Ifemelu e Obinze, dois jovens apaixonados que, em busca de um futuro melhor
fora da Nigéria, tomam rumos diferentes: ela parte para os Estados Unidos,
onde, apesar do seu sucesso social e acadêmico, é forçada a lidar pela primeira
vez com o que significa ser negra naquele país; ele se muda para a Inglaterra,
mas diante de uma série de problemas é deportado e volta para Lagos, onde se
casa e conquista a desejada estabilidade social. Uma das mais importantes
autoras nigerianas do século XXI, Chimamanda Ngozi Adichie parte de uma
história de amor arrebatadora para debater questões prementes e universais como
imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero. Edição da Companhia das
Letras. Você pode comprar o livro aqui.
José Luandino Vieira nos mostra
o absurdo da opressão de agentes do regime autoritário colonial português sobre
um cidadão angolano.
Em A vida verdadeira de
Domingos Xavier, a luta pela independência de Angola e a violência colonial
são apresentadas de forma, ao mesmo tempo, crua e emocionante. A busca ingênua
de Maria pelo marido Domingos Xavier contrasta com a brutalidade das forças do
regime opressor que havia sequestrado e torturado Domingos Xavier. Maria,
separada do marido, sofre como ele a dor da ansiedade, do desespero e da
tortura psicológica a que é submetida. Dor esta que representa a dor de todo um
povo que foi oprimido e brutalizado pelo poder do colonialismo. O livro é
publicado pela editora Kapulana. Você pode comprar o livro aqui.
Em romance, A. F. Th. van der
Heijden, um dos grandes escritores holandeses das últimas décadas, encapsula a
necessidade humana de reviver emoções.
Imagine um mundo em que sua vida
inteira transcorra durante um único dia, que você nasça de manhã, sua
adolescência seja à tarde, à noite o período adulto, de madrugada a fase idosa
e então você morra. E que nada nesse mundo possa ser repetido, tudo é feito uma
única vez, a fim de realçar a primeira vez das principais experiências humanas.
Apenas após a morte, no inferno, há repetição. Dois adolescentes apaixonados
querem quebrar esse padrão e repetir seu amor. Para isso, decidem cometer um
crime e ir ao inferno. Mas as coisas não saem como esperado. Com tradução de
Daniel Dago, A vida em um dia sai pela editora Rua do Sabão. Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
A tradução de Ernani Ssó para
as Novelas exemplares de Cervantes volta pelo selo Penguin/ Companhia
das Letras.
Neste clássico da literatura
mundial, Miguel de Cervantes mescla temas, vozes e gêneros — assim como fez em
Dom Quixote — e presenteia o leitor com doze novelas, que maravilham pela
sátira, reflexão e engenhosidade narrativa. Entre a publicação do primeiro e do
segundo volume de Dom Quixote, Miguel de Cervantes lançou, em 1613, as
doze novelas aqui agrupadas, valendo-se dos recursos já conhecidos de sua
produção literária, como a mistura de gêneros (novela sentimental, pastoril,
mourisca, picaresca) e o humor único característico de sua escrita, produzindo
histórias que divertem tanto o leitor comum quanto aquele mais sagaz. Abordando
diferentes temáticas, o autor dá voz a figuras à margem da sociedade envolvidas
em aventuras picarescas, como os lendários trapaceiros Rinconete e Cortadillo,
que se filiam a uma trupe de ladrões, ou as personagens femininas que, apesar
de reféns da condição social na qual estão inseridas, tentam lutar por sua
honra e fazer valer suas vontades. Por fim, a esses episódios junta-se o
curioso diálogo entre dois cães que conversam com muita graça enquanto
explicitam uma visão crítica da sociedade naquele período. O resultado é um
clássico que alia sátira, peripécias desvairadas, reflexão e inovação
literária. As Novelas exemplares são uma excelente porta de entrada para
o universo cervantino, que ocupa espaço central na literatura e segue
inigualável. Você pode comprar o livro aqui.
Os contos de Olga Savary.
Olga Savary é considerada um dos importantes nomes da poesia brasileira do século XX. E além poeta, foi jornalista, tradutora, ensaísta e autora de um livro de contos, O olhar dourado do abismo, publicado originalmente em 1997. A obra reúne narrativas marcadas por intensa voz poética, em que se sobressai um trabalho de linguagem que prioriza o erótico, o irônico e o trágico, valendo-se de um imaginário povoado por elementos trazidos do folclore brasileiro e da cultura pop. Através do olhar da autora, o feminino ganha centralidade, ainda que as mulheres retratadas lutem para ocupar espaço num mundo moldado por homens. A contista brinca com estruturas narrativas (por exemplo, em alguns contos, opta pelo formato dos textos teatrais, para ressaltar o embate de ideias entre os personagens), se permite mesclar registros linguísticos, entre o regional e o erudito, e recorre aos reinos animal, vegetal e mineral para criar figuras de linguagem inusitadas. Dialoga, ainda, com temas contemporâneos à época, como a contundência das mulheres que rejeitam os papéis de esposa e mãe e rompem com todos os códigos para se lançarem à aventura de viver uma sexualidade intempestiva. O livro sai pela editora Instante. Você pode comprar o livro aqui.
BAÚ DE LETRAS
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