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Fernando Pessoa. Arquivo da Casa Fernando Pessoa (Reprodução) |
LANÇAMENTOS
Editora amplia a presença da obra de Fernando Pessoa e salda várias
lacunas do mercado editorial brasileiro na publicação da obra do poeta
português. Editam-se dois novos livros.
1.
Diários e escritos autobiográficos.
O poeta desdobrado
em heterônimos, que pela voz de Álvaro de Campos afirmou que “fingir é
conhecer-se”, faz difícil saber o que está por detrás de tantas máscaras e o
que realmente pensava e sentia. Contudo, é possível distinguir entre o autor
literário e o homem cotidiano, por mais que os dois se confundam. Dessa forma,
estes diários, cartas, apontamentos e alguns poemas reunidos esboçam o melhor
autorretrato possível de Fernando Pessoa. Mesmo aproximativo e incompleto, tem
a virtude de ser feito com as suas próprias palavras, de maneira que esta obra
reúne o que mais poderia se aproximar de uma “autobiografia”. Nos seus
apontamentos pessoais, Pessoa escreve para si mesmo, mas assina por vezes como
seus heterônimos. Alguns deles são pouco ou nada conhecidos ainda do público,
como o pseudo-psiquiatra Faustino Antunes, inventado em 1907, que o faz analisar
a si mesmo. Não se trata apenas de satisfazer a nossa curiosidade e ajudar-nos
a compreender a natureza e evolução do gênio do escritor. A obra privada ajuda
também a compreender e apreciar melhor a vasta obra ficcional, que deriva, na
medida em que refere ou implica, direta ou veladamente, das suas experiências
de vida.
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2.
Ficções do interlúdio.
Os poemas que Pessoa publicou em revistas e jornais durante a sua vida
foram integralmente reunidos e constituem um livro de singularidade absoluta no
quadro da modernidade poética. Poesia que precede a publicação em livro de sua
obra, no entanto a projeta. O título foi pensando pelo próprio Pessoa,
como se lê numa carta de 28-7-1932 a Gaspar Simões, para o projeto de
publicação sucessiva das obras de Caeiro, Reis e Campos. Chama a atenção, nesta ideia, o
caráter “ficcional” que ele imputa à poesia dos heterônimos, em vez do caráter
dramático que inicialmente lhes atribuía. Seu propósito também se releva na
outra palavra que compõe o título: interlúdio, como espaço intervalar, muitas
vezes tematizado na obra de Pessoa, e que indica o mundo em que os heterônimos
não apenas existem, como coexistem.
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O encanto de Raul Brandão pelas
ilhas dos Açores e da Madeira ou um percurso de viagens em livro.
No verão de 1924, Raul Brandão fez uma viagem aos Açores e à Madeira. Fascinado
pelas paisagens das ilhas e seduzido por seus habitantes, começou a tomar notas
de sua experiência ainda a bordo do navio. Dessa jornada, das suas vivências e
de tais anotações é que surge o livro
As ilhas desconhecidas — notas e paisagens.
Espécie de diário impressionista das paisagens insulares, o relato captura de
forma elegante tanto a beleza natural da geografia e a cultura e o imaginário
dos lugares e das pessoas, como também o lado mais sombrio dos ciclones e da
caça às baleias. Foi precisamente neste livro, considerado um dos mais belos da
literatura de viagem escrita em língua portuguesa e uma das mais importantes
homenagens ao arquipélago açoriano, que o autor forjou, tal qual um pintor
impressionista que usa magistralmente luz, cores e texturas, a paleta cromática
pela qual cada uma das ilhas ficaria para sempre conhecida. A edição da
PontoEdita — a primeira deste livro no Brasil — conta com apresentação do
escritor e crítico português Vasco Medeiros Rosa e revisão técnica e posfácio
da professora e pesquisadora brasileira Mágna Tânia Secchi Pierini, ambos
especialistas na obra brandoniana.
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A continuação de O
simpatizante
, um thriller
político emocionante de Viet Thanh Nguyen
sobre a busca da liberdade.
Após uma longa jornada, o narrador
deste livro e seu melhor amigo, Bon, chegam a Paris, cidade que simboliza a
esperança para muitos refugiados vietnamitas no início dos anos 1980. À procura
de trabalho, acabam se envolvendo com o tráfico de drogas, e o simpatizante, um
ex-espião comunista, se vê lucrando com um sistema que na verdade repudia. Em
conflito consigo mesmo e constantemente confrontado com ataques racistas, ele
decide então mudar de vida e encontrar um novo modo de sobrevivência. É quando
seu maior aliado passa a ser seu maior adversário, e a cidade que era seu porto
seguro se mostra uma armadilha traiçoeira.
O comprometido sai pela
Alfaguara; a tradução é de Cássio Arantes Leite.
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Ressuscitar passados, inventar futuros: ciência e literatura viajam no
tempo dos sonhos para chegar ao impossível.
O tempo e a memória formam o eixo desta história narrada com os fios
delicados da saudade, às vezes com os do arrependimento, em outras tantas com
os da consciência tardia do que faz nascerem e se fortalecerem os laços
familiares. No trajeto entre acontecimentos científicos do presente e projeções
esperançosas para o futuro, a mulher madura que se revela como narradora deste
romance repassa uma história familiar provavelmente comum a muitos de nós,
enfrentando os conflitos, as tensões e os imensos afetos que se estabelecem
entre as mulheres de um núcleo familiar em que o pai é uma figura lateral.
Ressuscitar
mamutes, de Silvana Tavano, sai pelo selo Autêntica Contemporânea.
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Feminismo e psicopatologia são alguns dos termos atribuídos ao trabalho
artístico de Unica Zürn (1916 – 1970) poeta, escritora e artista visual alemã
ligada ao surrealismo cuja obra permanece obscurecida e ganha primeira
publicação no Brasil.
Primavera sombria chega
pela 100/cabeças, com tradução de Claudia Cavalcanti e abre uma importante
fenda na parede de obscurantismo que envolve a artista, cuja obra completa foi
lançada na Alemanha a partir de 1988. Por meio de uma narrativa visceral e
pungente, inspirada em episódios biográficos da autora, Primavera sombria
apresenta a história de uma menina que lida com a precariedade das relações
familiares e a descoberta da sexualidade a partir de um emaranhado de jogos e
delírios que povoam essa experiência, em alguns momentos violenta e traumática.
“A vida é insuportável sem a dor”, escreve Zürn. “A menina protagonista do relato ainda habita na medula do irredutível.
Tudo está permitido ‘para que o entusiasmo se mantenha’ e para escapar, assim,
da monotonia da vida familiar. Entregue ao drama, brinca, sente um encanto
perverso pelo perigo, o horror e o medo a excitam. Habita a poesia”, escreve no
prefácio a surrealista espanhola Lurdes Martínez, integrante do Grupo
Surrealista de Madri desde 1992 e coeditora da revista
Salamandra. O
livro teve sua primeira edição em 1967, três anos antes da trágica morte de
Zürn aos 54 anos, quando se atirou da janela do apartamento em Paris onde vivia
com seu companheiro, o escritor, pintor, fotógrafo e surrealista Hans Bellmer
(1902 – 1975). A narrativa de
Primavera sombria é permeada por essas
experiências. Nos últimos anos de sua vida, a artista refere-se a si mesma em
terceira pessoa, “em uma aproximação labiríntica aos momentos transcendentais
de sua vida”, destaca Martínez. O despertar do desejo na infância, o feitiço do
amor, o caminho à loucura, o controle das alucinações e a decadência final da
artista envolvem seus trabalhos.
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Os superstars da cadeia
e uma
visão caleidoscópica e incisiva sobre a aliança profana do sistema prisional estadunidense
com o racismo sistêmico, o capitalismo desenfreado e o encarceramento em massa.
É um claro acerto de contas com o que a liberdade realmente significa naquele
país.
Em sua luta pela liberdade, duas
presidiárias se convertem em gladiadoras mortíferas em um programa de
reabilitação sensacionalista e desumano, não muito distante do próprio sistema
carcerário norte-americano. Em um futuro distópico não muito distante dos
nossos tempos, Loretta Thurwar e Hamara “Furacão Staxxx” Stacker são as
estrelas de Superstars da Cadeia, o pilar do Programa de Entretenimento da
Justiça Criminal (PEJC), um reality show altamente popular, controverso e
lucrativo da indústria prisional privada dos Estados Unidos. Na sangrenta
competição, reminiscente dos coliseus romanos, os personagens são prisioneiros
e, ao serem derrotados, só lhes resta a morte. Este livro, primeiro romance do
premiado multiartista norte-americano Nana Kwame Adjei-Brenyah, é o reflexo de
uma sociedade
voyeur e autocentrada, que não se furta a apreciar o mais
alto grau de violência em busca do prazer momentâneo. Vistos como párias, os
presidiários, em sua maioria absoluta negros e pobres, tornam-se meros
marionetes em nome do entretenimento de quem os assiste e da ganância dos
poderosos. No PEJC, as competições mortais em arenas lotadas só têm um
vencedor. Depois de três anos, quem consegue sobreviver ganha a liberdade e a
extinção completa da pena. Thurwar e Staxxx, companheiras de equipe e amantes,
são as favoritas do público. Prestes a atingir a categoria “Grã-Colossal” —
mais alto grau na escala de lutadores —, Thurwar estará livre em apenas algumas
lutas, fato que carrega de forma tão pesada quanto seu martelo letal. Enquanto
se prepara para deixar o cárcere, tenta preservar sua humanidade desafiando as
regras dos jogos, mesmo que os obstáculos no caminho de Thurwar tenham
consequências devastadoras. Com tradução de Rogerio Galindo, o livro sai pela
editora Fósforo.
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Um grande romance sobre a
opressão e suas consequências, o amor em suas diferentes nuances e as batalhas
enfrentadas para que se possa vivê-lo livremente.
No Uruguai dos anos 1970, os
direitos dos cidadãos estão constantemente sob ataque, e reuniões entre
mulheres desacompanhadas dos seus maridos podem despertar a atenção policial.
Por isso, Romina, Flaca, La Venus, Paz e Malena decidem ir para a remota praia
de Cabo Polonio. Elas são cantoras numa época em que a homoafetividade também é
uma subversão. Entre amizades e relacionamentos amorosos, as cinco formam uma
família, e o local onde se refugiam se torna seu santuário secreto, que elas
visitarão ao longo de décadas.
Cantoras, de Caro de Robertis, é publicado pela editora
Dublinense. Tradução de Natalia Borges Polesso.
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Reunião de críticas e
depoimentos sobre os filmes que marcaram a trajetória de Caetano Veloso.
Nome central da música e da poesia
brasileira, Caetano Veloso é um cinéfilo singular. Sua adolescência foi moldada
pela programação do Cine Teatro Subaé, em Santo Amaro, época em que cogitou se
tornar crítico de cinema. Ao longo da vida, os filmes continuaram a ter papel
decisivo em seu estilo de compor canções e conceber visualmente os shows. Este
volume reúne críticas escritas na década de 1960, publicadas no periódico
Archote
— muitas delas inéditas em livro —, além de colunas de jornais, entrevistas,
depoimentos e comentários que revelam as predileções, as reflexões e o vasto
repertório cinematográfico do compositor. Com organização de Claudio Leal e
Rodrigo Sombra,
Cine Subaé é um precioso testemunho que atesta o impacto
que o Cinema Novo, as películas exuberantes norte-americanas, o neorrealismo
italiano e o existencialismo das fitas francesas tiveram sobre a formação
cultural de Caetano Veloso. Publicação da Companhia das Letras.
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Um dos principais nomes da literatura francesa contemporânea e também
fotógrafo profissional, entrelaça narrativas confessionais, crítica de arte,
devaneios e teoria da imagem fotográfica.
Em
A imagem fantasma, Hervé Guibert tece uma investigação
poderosa sobre as múltiplas dimensões da fotografia e seus nexos com o corpo, o
tempo, a beleza, o desejo, a escrita e a proximidade da morte. Em mais de
sessenta textos breves, repletos de afetos e insights, é também o autor que se
desnuda, ao explorar os significados dos álbuns de família, das fotos de
viagem, dos autorretratos — uma de suas obsessões —, bem como das imagens
pornográficas, dos cartazes das estrelas de cinema, das fotos policiais e de
outras modalidades da imagem, numa reflexão permeada de referências a obras
suas e de outros fotógrafos, de Cartier-Bresson a Duane Michals. Movido por um
erotismo transgressor, presente também em
Ao amigo que não me salvou a vida
— livro de 1990, considerado precursor no gênero da autoficção e que o
transformou da noite para o dia em celebridade —, Guibert combina em
A
imagem fantasma literatura e fotografia de modo extremamente original,
questionando o que legitima e sustenta uma imagem, e inserindo-se numa linhagem
de autores como Susan Sontag, Roland Barthes e André Rouillé. Com tradução de
Lucas Eskinazi e Nina Guedes, o livro sai pela Editora 34.
Você pode comprar o livro aqui.REEDIÇÕES
Ganha nova edição a premiada biografia de William Shakespeare na ocasião de celebração do 460º aniversário do bardo inglês.Outro Juan Tallón por vir. A estreia do escritor espanhol no Brasil foi recente com a publicação de
Fim de poema pelo selo Poente, da Martins Fontes. Agora, sairá pela editora Nós
Obra maestra (em tradução provisória
Obra-prima) com tradução de Joca Reiners Terron.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
A história do senhor
Sommer, de Patrick Süskind (Trad. Samuel Titan Jr., Editora 34, 96 p.) Uma
novela acerca dos anos de formação de um rapaz do interior da Alemanha logo após
a Segunda Guerra Mundial marcados pelas constantes, acidentais e decisivas
aparições de um enigmático andarilho.
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2. Pachinko, de Min Jin Lee (Trad. Marina Vargas, Intrínseca,
528 p.) Da boa safra da literatura oriental que tem chegado aos leitores deste
lado do globo, este romance remonta o início dos anos 1900 e sua narrativa perfaz
o tema das vicissitudes do amor numa saga dramática que se desdobra ao longo de
gerações de uma família no curso de quase um século.
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3.
Noventa e três, de Victor
Hugo (Trad. Mauro Pinheiro, Estação Liberdade, 416 p.) Outro dos grandes
romances do escritor francês. A narrativa acompanha um trio de personagens durante
as revoltas
contrarrevolucionárias de 1793 que conformam três visões
diferentes dos eventos que mudavam o curso da história em Paris
e na
Bretanha.
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BAÚ DE LETRAS
Na quinta-feira, 25 de abril de
2024, Portugal celebrou a passagem do cinquentenário da Revolução dos Cravos, o
dia quando o país começava a sepultar uma longeva ditadura militar de quase
meio século. Em nossa página no Instagram recolhemos três dicas de obras
literárias que recriaram o dia levantado e principal — colhendo os termos de um
romance singular na obra de José Saramago. Recordamos agora os textos que já
foram publicados neste blog acerca destes romances:
a) o primeiro deles foi
Manual
de pintura e caligrafia, do próprio Saramago —
aqui umas notas de Pedro
Fernandes saídas em maio de 2008;
b) em seguida,
notas do mesmo autor
referentes ao
Fado alexandrino, de António Lobo Antunes, outro dos
romances referidos;
c) e, por fim, recordamos
este texto de Gabriella Kelmer acerca de
O dia dos prodígios, de Lídia Jorge
— um livro que, apesar de ser um dos principais dessa escritora, permanece até
agora inédito entre os leitores brasileiros.
DUAS PALAVRINHAS
A única revolução realmente digna de tal nome seria a revolução da paz,
aquela que transformaria o homem treinado para a guerra em homem educado para a
paz porque pela paz haveria sido educado. Essa, sim, seria a grande revolução
mental, e portanto cultural, da Humanidade. Esse seria, finalmente, o tão
falado homem novo.
— José Saramago,
Diário de Notícias
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