LANÇAMENTOS
Um Graciliano Ramos
desconhecido do grande público. Os relatórios de quando foi prefeito de
Palmeira dos Índios, pequena cidade do estado de Alagoas, ganham edição em
livro.
“Evitei emaranhar-me em teias de
aranha”, registrou Graciliano Ramos em um dos relatórios dirigidos ao
governador do estado de Alagoas, datado de 1929. Em
O prefeito escritor:
dois retratos de uma administração, temos um vislumbre do futuro escritor
ainda na época em que era político emergente. De janeiro de 1928, quando tomou
posse do cargo, até abril de 1930, Graciliano esteve à frente da administração
municipal, combatendo o desperdício de verbas, a ineficiência e o
patrimonialismo, extinguindo superfaturamentos, terminando obras deixadas pela
metade e zelando, com afinco, pela qualidade de vida de seus habitantes. Os
dois relatórios anuais que fez ao governador do estado, o de 1929 e o de 1930,
são agora publicados pela primeira vez em um volume independente. Neles
Graciliano se revela um homem público exemplar. É um testemunho dos atributos
que todo político que se preze deveria ter: a seriedade com suas
responsabilidades advindas do cargo, o caráter íntegro e honrado, a sede por
combater maus hábitos que assolam nossa política. Suas prestações anuais de
contas impressionaram já na época em que foram escritas, circulando para além
das fronteiras da cidade e chegando a outros pontos do país. Foi graças a essa
espécie de boca a boca que o Graciliano Ramos escritor se tornou conhecido.
Augusto Frederico Schmidt, o influente empresário, poeta e editor carioca,
reconheceu imediatamente que alguém capaz de escrever textos tão sóbrios, mas,
ao mesmo tempo, dotados de originalidade e humor, deveria ter um romance
guardado. A intuição provou-se correta. Assim nasceu
Caetés, que viria a
ser o primeiro romance do autor.
O prefeito escritor é, portanto, obra
imprescindível para aqueles que desejam conhecer este outro Graciliano e
refletir sobre as mazelas da nossa política. O presidente Lula, no prefácio que
assinou para esta edição, diz: “o Graciliano Ramos que emerge destas páginas é
o gestor público empenhado em manter a responsabilidade fiscal, mas ao mesmo
tempo cuidar de toda a população, sobretudo dos mais pobres. [...] Ou seja, a
obra-prima do prefeito Graciliano Ramos foi colocar os pobres no orçamento e os
ricos no imposto de renda.” Publicação da editora Record.
Você pode comprar o livro aqui.
Coletânea de ensaios revela a
faceta de leitor Afonso Cruz.
Em
O vício dos livros estão
relatos históricos, curiosidades literárias, reflexões e memórias pessoais,
sempre com a leitura como centro. Franz Kafka, os gregos, Mario Quintana, um leitor
presidiário, poetas árabes, o próprio avô ― através do diálogo com diversas
obras, diferentes escritores e também com leitores. Eis uma celebração que sai
pela editora Dublinense.
Você pode comprar o livro aqui.
Uma nova tradução e edição
especial do ensaio de Joseph Brodsky sobre Veneza.
Pouco mais de cem páginas, mas de
altíssimo peso específico. O peso da água, talvez, do qual
Marca d’água
parece tecer o elogio. Um livro que também parece imitar a forma da água, ou
melhor, sua ausência de forma, se é verdade que ela “desdenha a noção de forma”.
E qual cidade terrena se assemelha mais à água do que Veneza? As vielas, o seu
emaranhado de becos, tornam-se uma oportunidade para Joseph Brodsky reproduzir
sua topografia: dobras, rugas e ondulações da água se misturam assim à alma
desta cidade que nunca aponta uma direção, mas sempre e apenas oferece “vias
transversais”. Água como imagem do tempo, Veneza como figura da desorientação,
recipiente de espelhos e reflexos entre os quais, de modo fugaz, aparece também
o do poeta. Por dezessete invernos, Brodsky voltou a esta cidade, respondendo
ao chamado de suas ruas feitas de água; por dezessete invernos aqui ele se
perdeu e se enganou; seu libelo é uma sucessão de sensações e imagens poderosas
que envolvem e cercam o leitor como um “tufo de gélidas algas marinhas”,
voltando à memória como um sonho recorrente, do qual ele mal se lembra dos
contornos. A edição especial e ricamente ilustrada com vinte e sete fotografias
de Giovanna Silva, inclui textos de Sara Marini, Emanuele Trevi, Chiara Valeri
e Fleur Jaeggy; a tradução é de Odorico Leal e o livro sai pela editora Âyiné.
Você pode comprar o livro aqui.
Até que ponto a vida de alguém
não é uma repetição disfarçada do destino de seus antepassados? Novo romance de
Tércia Montenegro reflete sobre os enlaces que constituem o abismo da
genealogia de uma família.
Na superfície, Thalia é uma mulher
feliz e bem-sucedida. Incansável, divide seu tempo entre dar aulas de
literatura em colégios particulares e atuar nas peças de uma companhia de
teatro. Sua trajetória é abalada quando, durante a encenação de uma peça, ela
pensa ver, debaixo das luzes do palco, o rosto do irmão falecido. A visão traz
à tona uma série de traumas reprimidos e serve de ponto de partida para uma
viagem pela história de seus pais e avós. Ao se lançar no abismo da genealogia
de uma família, a autora cearense Tércia Montenegro reflete sobre os enlaces
que a constituem, e como um prego no espelho — algo que se fixa numa superfície
volátil — tenta capturar uma imagem que parece sempre escapar aos personagens
deste livro. Um romance singular, impactante e altamente literário, em que a
memória se apresenta como um centro gravitacional incontornável, que insiste a
todo momento em arrastar pais e filhos de volta ao mesmo conjunto de medos,
mistérios e frustrações.
Um prego no espelho sai pela Companhia das
Letras.
Você pode comprar o livro aqui.
Um convite à observação do
mundo das artes a fim de desmascarar as aparências com um olhar desafiador que
oferece resistência e desobediência à postura pública.
Partindo de aforismos,
correspondências e ensaios sobre escrita e literatura nos tempos modernos, a
argentina radicada na França Ariana Harwicz investiga, nesta obra de não
ficção, os padrões duplos e a natureza enganosa que por vezes circundam a
criação artística na atualidade. Com forte cunho pessoal,
O ruído de uma
época é um convite à observação do mundo das artes a fim de desmascarar as
aparências com um olhar desafiador que oferece resistência e desobediência à
postura pública. Mas é também, assim como os romances da escritora, uma defesa
corajosa da liberdade pessoal e artística. Comparada a Virginia Woolf, Sylvia
Plath, Clarice Lispector e Nathalie Sarraute, Harwicz tem se firmado como uma
das figuras mais radicais da literatura contemporânea. Neste livro, ela lança
ao leitor importantes reflexões para que, de alguma forma, ele também participe
do que está sendo debatido, concordando ou não com as ponderações propostas.
Afinal, não há nada mais crucial nos dias de hoje do que uma leitura que nos
faça refletir. O livro sai pela editora Instante com tradução de Silvia
Massimini Felix.
Você pode comprar o livro aqui.
Com tradução de Júlia Manacorda
e posfácio de Liana Ferraz, sai uma das mais reverenciadas obras de
poesia do último maldito da literatura.
Charles Bukowski, o importante
ícone da contracultura norte-americana e um dos mais notáveis poetas contemporâneos,
escreveu milhares de poemas durante a carreira, e nesta coletânea, dividida em
quatro partes, reúne os mais simbólicos textos sobre amor. Com sua escrita
irreverente e estilo minimalista, tece versos ao mesmo tempo simples e
pungentes. Neste livro é revelada a face de um Bukowski que conhece muito além
da boemia, e que se aventurou pelo sentimento mais enigmático da existência
humana, explorando as nuances, os limites, os mistérios e, por fim, a nossa
incapacidade de passar pela vida sem amar.
O amor é um cão dos infernos
é publicado pela HarperCollins Brasil.
Você pode comprar o livro aqui.
Uma visita à história da
Palestina, o território que começou a desaparecer desde a aurora do sionismo.
Em março de 1899, Yusuf Diya
al-Khalidi, deputado e ex-prefeito de Jerusalém, enviou uma carta alarmada a
Theodor Herzl, considerado o pai do sionismo moderno. Na carta, argumentava
que, quaisquer que fossem os méritos do movimento sionista, as “forças brutais
das circunstâncias tinham que ser consideradas”, pois o povo palestino nunca
aceitaria de bom grado ser suplantado. Ao alertar para os perigos futuros, ele
concluía sua nota com um apelo sincero: “em nome de Deus, deixem a Palestina em
paz”. Assim, Rashid Khalidi, o principal historiador americano sobre o Oriente
Médio, inicia o seu relato sobre a guerra secular na Palestina. Com uma
narrativa clara e equilibrada, Khalidi subverte as interpretações aceitas do
conflito, que tendem, na melhor das hipóteses, a descrevê-lo como um confronto
trágico entre dois povos que reivindicam o mesmo território. Para tanto,
retraça os mais de cem anos da guerra, encampada primeiro pelo movimento
sionista e depois por Israel, mas também com o apoio de grandes potências.
Guiando os leitores pelos episódios-chave da campanha colonial, como a
Declaração Balfour de 1917 e os confrontos de 1948 e 1967, o autor se vale de
pesquisas de arquivo, material de familiares e das próprias experiências para
revelar o pano de fundo histórico que enquadra os acontecimentos atuais,
explicando dinâmicas subjacentes cruciais para uma compreensão adequada do
presente.
Palestina: um século de guerra e resistência (1917-2017) sai
pela Todavia; tradução de Rogério W. Galindo.
Você pode comprar o livro aqui.
REEDIÇÕES
A edição do principal romance de Graciliano Ramos pela editora Todavia.
Vidas secas,
publicado em 1938, é o quarto romance de Graciliano Ramos. Concebido
inicialmente como contos avulsos, que o autor vendia a conta-gotas para pagar a
pensão na qual vivia com a mulher e duas filhas pequenas, este livro se tornou
não apenas um dos grandes da literatura brasileira, mas também o maior sucesso
editorial do escritor. Graças à sua vitalidade narrativa, à sua dolorosa
atualidade e ao seu retrato expressivo e descarnado da gente do sertão, este
livro ocupa um lugar de proeminência entre os clássicos da nossa literatura.
Esta nova edição restaura — com um criterioso trabalho de pesquisa — a versão
mais fidedigna do texto, tal qual concebido pelo autor, permitindo ainda
conhecer de perto seu laboratório de criação e o perfeccionismo ímpar que marca
seu estilo. Em continuidade à Coleção Graciliano Ramos na Todavia, com
organização do professor da USP e especialista Thiago Mio Salla, este volume
conta ainda com um posfácio de Antonio Candido inédito em livro e inclui uma
seção dedicada às diferenças textuais existentes entre as várias fases de
concepção da obra. Para este volume, que condensa um esforço editorial inédito,
foram cotejadas doze versões da narrativa de modo a confirmar qual delas melhor
representaria a última vontade do romancista. Uma edição fundamental para todo
leitor que deseja se aproximar de
Vidas secas — e lê-lo em sua renovada
plenitude de clássico brasileiro.
Você pode comprar o livro aqui.
A Nova Fronteira reedita A casa soturna
, de Charles Dickens, em dois volumes.
Publicado em fascículos entre 1852 e 1853 e considerado pela crítica o
romance mais perfeito de Charles Dickens,
A casa soturna traz à luz
questões fundamentais de vida e sociedade, pondo em xeque o sistema judiciário
inglês do século XIX. Enquanto o caso “Jarndyce e Jarndyce” se arrasta nos
tribunais, gerações das famílias envolvidas vão herdando “ódios lendários” na
tentativa de resolver a disputa em torno de uma propriedade. Traçando um
percurso das zonas mais pobres de Londres às mansões da nobreza, Dickens
elabora uma narrativa que envolve mistério, assassinato, redenção e até a
descoberta do amor ao mesmo tempo que, com uma perspicácia bem-humorada,
critica as estruturas sociais e a morosidade da justiça. Esta edição, dividida
em dois volumes, atualiza a clássica tradução de Oscar Mendes e conta com
prefácio de Sandra Guardini Vasconcelos.
Você pode comprar o livro aqui.
RAPIDINHAS
Mais ensaios contemporâneos 1.
E sobre o inesgotável contemporâneo e seus temas. A Carambaia tem agora uma
linha editorial com esse interesse.
Mais ensaios contemporâneos 2.
Sai em breve:
Esquizofrenias reunidas, de Esmé Weijun Wang — o primeiro
título da leva;
Diário de uma invasão, de Andrei Kurkov; e
Doppelgänger,
de Naomi Klein.
Bartolomeu Campos de Queirós,
80 anos. A Global Editora prepara uma série de publicações para assinalar a
data especial do autor de
Vermelho amargo. Entre as novidades estão as
reedições de
Sei por ouvir dizer (Prêmio Jabuti 2009) e
Correspondência (1986) e uma edição em livro de
A ararinha-azul.
Cacaso, o músico. O
jornalista e escritor mineiro Renato Vieira idealiza um disco com
gravações
inéditas colhidas no cancioneiro do também poeta mineiro. A iniciativa marca o
curso dos (também) 80 anos de Cacaso, que nasceu a 13 de março de 1944.
Um dicionário para Florbela.
Sai pelo selo Pedro & João Editores (no Brasil) e pelas Edições Esgotadas (em
Portugal) o
Dicionário de Florbela Espanca. A publicação organizada por Maria
Lúcia Dal Farra, Jonas Leite e Fabio Mario da Silva reúne mais de 180 verbetes que
definem o universo da poeta portuguesa.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
Os dias perfeitos, de Jacobo
Bergareche (Trad. Marina Waquil, Mundaréu, 160 p.) Um romance que reinventa o
dilema do amor proibido a partir das cartas entre William Faulkner e sua amante
Meta Carpenter.
Você pode comprar o livro aqui.
2.
Madona dos Páramos, de Ricardo
Guilherme Dicke (Record, 518 p.) A história de doze foragidos pelo
interior do sertão do centro-oeste brasileira em busca da Figueira-Mãe, onde os
aguardariam o bem-estar e a justiça. Um monumento à literatura que zela pelo
cada vez mais essencial princípio da linguagem.
Você pode comprar o livro aqui.
3.
A escola da carne, de Yukio
Mishima (Trad. Jefferson José Teixeira, Estação Liberdade, 256 p.) Três japonesas
de diferentes classes sociais divorciadas depois da Segunda Guerra Mundial encontram-se
para comentar suas vidas e aventuras amorosas num romance que compõe um painel
original de um país em abertura para o Ocidente e ainda marcado pelos impasses desse
choque cultural.
Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
O Instituto Moreira Salles (IMS)
inaugurou um
website sobre a vida e a obra de Carolina Maria de Jesus. O
espaço reúne diversas informações sobre a trajetória e a produção literária da
escritora mineira: Biografia, Obras, Arquivo Vivo e Encontros. A pesquisa e o
projeto são da professora e pesquisadora Fernanda Miranda, e seu
desenvolvimento contou com a colaboração de Jane Leite, da equipe de Literatura
do IMS. O acervo de Literatura da instituição tem sob seus cuidados dois
manuscritos de Carolina Maria de Jesus – intitulados “Um Brasil para os
Brasileiros” — e seu disco com composições próprias, também chamado
Quarto
de despejo, título homônimo aos diários que a fizeram reconhecida.
Acessa aqui.
BAÚ DE LETRAS
Ainda na superfície do baú. No dia
das celebrações pelos 80 anos de Cacaso, publicamos
aqui um breve perfil do
multiartista da geração da poesia marginal assinado por Pedro Fernandes.
Em março de 2024, o blog publicou
esta matéria de Pedro Fernandes acerca das aparições em vídeo da escritora
Carolina Maria de Jesus.
Entre os textos que integraram um especial acerca de Graciliano Ramos organizado por este blog,
este de Vera Romariz discorre acerca dos relatórios do escritor alagoano agora publicados pela primeira vez em livro.
— Graciliano Ramos, nos relatórios de prefeito enviado ao governador de Alagoas.
Comentários