Boletim Letras 360º #568

DO EDITOR
 
Olá, leitores! O blog regressou sua programação normal nesta semana. E além das publicações diárias, este boletim volta com as seções já conhecidas.
 
Durante a semana, foi anunciada em nossas redes a chamada para novos colunistas.
 
O Letras procura bons leitores que escrevam sobre livros (ficção, poesia, teatro), filmes ou assuntos intrinsecamente ligados ao universo literário.
 
Se você possui este perfil e quer se juntar a este projeto, atenção para as informações a seguir:
 
- você precisa enviar através do e-mail blogletras@yahoo.com.br até o dia 16 de fevereiro de 2024, um resumo biográfico e três textos inéditos;
 
- para saber como organizar os seus textos e mesmo conhecer um pouco da linha editorial do Letras, é importante acessar e ler as informações disponíveis aqui;
 
- se restar qualquer dúvida, basta escrever para o e-mail referido ou nos procurar na DM das nossas redes sociais: no Twitter, Facebook ou Instagram.
 
Sua inscrição é muito bem-vinda!   

Jon Fosse. Foto: Bergens Tidende





LANÇAMENTOS 

Um volume e três títulos do vencedor do prêmio Nobel de literatura de 2023.

Narrada com a prosa onírica que fez de Jon Fosse um dos maiores escritores de sua geração, Trilogia reúne três romances cujas s histórias versam sobre os personagens Asle e Alida. Em Vígília, acompanhamos o jovem casal em busca de abrigo para que a moça, em estágio avançado de gravidez, possa dar à luz. Na sequência, Os sonhos de Olav, Asle e Alida são Olav e Åsta, e vemos o rapaz sendo confrontado com suas escolhas do passado. Repouso, o último romance, encerra um movimento circular e apresenta o destino de Asle e Alida. Através de uma profusão de referências históricas, culturais e teológicas, Fosse trata de temas como injustiça, resistência, crime e redenção e oferece um retrato assombroso e sublime dos sacrifícios que fazemos por aqueles que amamos. Com tradução de Guilherme da Silva Braga, o livro sai pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.

 
Dois novos livros na coleção publicada pela editora Nós com textos de Virginia Woolf. É a tradução nova de dois contos que formam um ciclo em torno de Clarissa Dalloway.
 
1. Cantuária, o nome de uma cidade como a madeleine proustiana, capaz de despertar tanto as memórias verdadeiras, quanto aquelas inventadas por mera necessidade. Essa é a frágil liga entre dois personagens de meia-idade, já exaustos e desconfiados da vida, que são apresentados por Mrs. Dalloway, numa de suas festas. Um encontro às cegas que logo vira armadilha, num evento social que parece ter a arquitetura de uma jaula. Virginia Woolf nos arremessa em meio ao desconforto desse encontro sem qualquer receio: “Mrs. Dalloway os apresentou, dizendo você vai gostar dele.” A intuição da criação mais famosa de Woolf se transforma numa espécie de maldição de bolso, quando Mr. Seele e Miss Anning começam a perceber que há um ruído nas memórias da Cantuária que dividem. E pior: se continuarem a compartilhar as lembranças, aos poucos, correm o risco de perceber que não há mais Éden para onde voltar. Juntos e separados traz outra vez a maestria de Woolf para nos alertar da fragilidade das nossas certezas. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. A festa para Virginia Woolf é como um laboratório, um espaço em que a autora lança mão para melhor observar o pathos dos seus personagens. Expostos à solta no salão, seus desejos, medos e fraquezas aparecem dilatados. Woolf é como uma cientista, jogando com suas “peças”. Já nas linhas iniciais do conto A apresentação, vemos todas as nuances do pavor da jovem Lily Everit diante das exigências de um evento social: “Lily Everit viu que Mrs. Dalloway vinha abater- se sobre ela desde o outro lado da sala, e teria rezado para ser deixada em paz”. Mas não houve tempo para uma prece. E nem rezar teria adiantado muito. Lançada sem paraquedas num encontro com um cavalheiro de gestos duvidosos, Everit vê as certezas da sua emancipação como mulher se dissiparem, enquanto a festa de Mrs. Dalloway se desenrola ao redor. O lusco-fusco entre quem a jovem é e de como precisa agir, para estar ali, exposta em público, é tremendo. Esta é uma pequena obra-prima de Woolf, que soa mais cruel, triste e verdadeira a cada nova releitura. As duas novas traduções são de Ana Carolina Mesquita e os livros saem pela editora Nós. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um importante resgate para a literatura brasileira. Principal romance do escritor Antônio de Oliveira e obra do nosso naturalismo ganha nova edição.
 
Ambientado no período entre a Abolição e a proclamação da República, O urso, uma das pérolas do naturalismo brasileiro, acompanha a jornada de Fidêncio, que, vindo do interior, chega cheio de sonhos à capital paulista. O romance retrata a São Paulo ainda provinciana da época, além do processo de corrosão da personalidade inicial do protagonista em sua busca por ascensão social. O romance sai pela Coleção Clássicos da Literatura editada pela Editora da Unesp. Você pode comprar o livro aqui.
 
O historiador e pesquisador Daniel Aarão Reis faz sua estreia na ficção.
 
Às vésperas do aniversário de 60 anos do golpe militar de 1964, Na corda bamba nos apresenta um retrato ficcionalizado da experiência de uma geração de jovens e da sociedade brasileira nas sombrias décadas de 1960 e 1970. Estruturada em três partes — “Ditadura”, “Exílio” e “Retorno” —, a narrativa se desenrola por meio de contos que acompanham os traumáticos acontecimentos do período — a partir de personagens plurais, tanto progressistas de esquerda quanto apoiadores do golpe. Ambientadas no Rio de Janeiro, em Argel, Paris, Santiago, Havana e de volta ao Rio de Janeiro, as histórias retratam, com sensibilidade e não raras vezes humor, o cotidiano, as vivências e as dores daqueles jovens cheios de ideologia e sonhos. O livro marca a estreia do autor na literatura e pode ser considerado uma ficção histórica, com muitos aspectos autobiográficos, já que Daniel Aarão Reis esteve entre os jovens que resistiram e lutaram contra o golpe. Como bem escreveu na orelha Renato Janine Ribeiro, ex-ministro da Educação, Na corda bamba “nos presenteia com esta afortunada incursão numa ficção inspirada em sua vasta experiência de vida”. Uma maneira de relembrar esse momento difícil da história do Brasil. O livro sai pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Os contos presentes em livro finalista do International Booker Prize, transitam entre realismo mágico, folclore, horror, ficção científica e fantasia, partindo de elementos insólitos para narrar histórias assombrosas que tocam em temas profundamente reais.
 
Coelho maldito é a primeira obra de Bora Chung, uma das mais notáveis escritoras sul-coreanas da atualidade, publicada fora da Coreia. Em uma família cujos negócios consistem em criar objetos de maldição, o avô relembra um episódio envolvendo um amigo de infância e um abajur amaldiçoado em formato de coelho. Uma gestante precisa encontrar um pai para o filho o mais rápido possível, e evitar que a criança sofra consequências terríveis. Despertando no completo escuro após sofrer um acidente, uma professora confia na única coisa que tem por perto para levá-la de volta à luz: uma voz desconhecida. As dez histórias reunidas neste livro partem de imagens grotescas, assombrosas e incômodas para tratar, por meio de um olhar aguçado e impiedoso, da humanidade e da condição feminina. Uma das mais proeminentes escritoras sul-coreanas da atualidade, Bora Chung usa elementos fantásticos e surreais para refletir sobre os horrores e crueldades do patriarcado e da sociedade capitalista contemporânea. Com tradução de Hyo Jeong Sung, o livro é publicado pela Alfaguara Brasil. Você pode comprar o livro aqui.
 
Um livro inventivo, sofisticado e bem-humorado sobre identidades paralelas, estigmas sociais e o medo de encarar a verdade.
 
Barrington Jedidiah Walker é um homem que chegou longe. Nascido em Antígua, no Caribe, migrou para Londres depois de casar-se com Carmel. Juntos, formaram uma família e alcançaram um nível de conforto material que poucos conseguem ter. Inteligente e vaidoso, só usa ternos elegantes e nunca perde a oportunidade de citar Shakespeare em conversas casuais. O que ninguém sabe é que ele leva uma vida dupla: há décadas mantém um caso extraconjugal com Morris, seu amigo de infância. Aos 74 anos, Barry finalmente decide divorciar-se de Carmel para viver com seu verdadeiro grande amor — mas isso significa colocar em risco tudo o que conquistou. Com tradução de Camila von Holdefer, Sr. Loverman, de Bernardine Evaristo é publicado pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
Janet Malcolm volta seu olhar arguto para a própria vida — com a astúcia que fez dela uma das mais respeitadas jornalistas de nosso tempo.
 
Durante décadas, os textos de Janet Malcolm questionaram as convenções jornalísticas e biográficas, revelando os artifícios que sustentam as personas públicas e privadas de seus entrevistados. Nos ensaios reunidos em Imagens imóveis, a escritora permanece fiel a seu estilo ao construir uma autobiografia em seus próprios termos, por meio do encontro entre história, memória e fotografia. O livro começa com a imagem de uma jovem taciturna em um trem, saindo de Praga para Nova York aos cinco anos de idade em 1939. Desde suas primeiras paixões até as noites no antigo Metropolitan Opera House e as expectativas pelo futuro, Malcolm compõe o retrato de uma infância em Nova York, ainda profundamente marcada por sua origem europeia. Na sequência, também investiga seu casamento com Gardner Botsford, o mundo da New Yorker de William Shawn e o julgamento que pôs Malcolm sob os holofotes da imprensa norte-americana. Uma joia da não-ficção, este breve volume se revela uma autobiografia singular — tal como sua autora. A tradução é de Paulo Henriques Britto e o livro sai pela Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
REEDIÇÕES
 
Três contos escritos independentemente, mas que se conectam por um tema comum: a angústia. Livro de Hermann Hesse ganha nova edição.
 
O último verão de Klingsor é a reunião de três pequenas obras-primas escritas na mesma época em que Hermann Hesse produziu duas de suas mais celebradas criações ― Demian e Sidarta. No primeiro conto, “Alma de criança”, o autor explora a gênese do sentimento de culpa e da angústia através do relato das emoções de um garoto em relação ao pai. No segundo conto, “Klein e Wagner”, vemos um mergulho ainda mais profundo nos temas já abordados na primeira narrativa, com uma história complexa de crime, castigo e redenção. Já em “O último verão de Klingsor”, Hesse nos proporciona uma alegoria repleta de discussões sobre o amor, a representação do mundo, a arte, a posteridade e a magia. Ele narra os últimos meses de vida de um pintor expressionista, considerado por muitos como um retrato literário da natureza do escritor. É um ponto de partida para um relato que une a sabedoria de poetas chineses com a angústia de um artista diante das vicissitudes de sua vida e do legado de sua obra. Publicação pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
 
Reunião de dois livros de Castro Alves, poeta do limiar do romantismo brasileiro.
 
Conhecido como o “poeta dos escravos” e chamado de “poeta republicano” por Machado de Assis, Castro Alves iniciou sua produção aos dezesseis anos e foi um autor fundamental do romantismo no Brasil. As duas obras reunidas neste livro dão conta dos principais temas e interesses do poeta. Enquanto Espumas flutuantes abarca sua precoce maturidade e trata de assuntos da escola literária romântica, como o amor, a morte, a melancolia e a natureza, Os escravos traz o tipo de poesia que consagrou Castro Alves: a incitação lírica à insurreição dos negros cativos, em uma defesa apaixonada do abolicionismo. Publicação da Penguin & Companhia das Letras. Você pode comprar o livro aqui.
 
RAPIDINHAS
 
O resgate das esquecidas 1. Depois de Chrysanthème e Ercilia Nogueira Cobra, a Carambaia se prepara para publicar em março um romance da escritora Iracema Guimarães Vilela — Nhonhô Rezende, de 1918.

O resgate das esquecidas 2. Já as editoras Fósforo e Luna Parque publicarão no Círculo de Poemas uma antologia recolhendo a poesia de Maria Firmina dos Reis, a autora de Úrsula.   
 
As cartas entre Virginia Woolf e Victoria Ocampo. A publicação foi anunciada nas redes sociais da Bazar do Tempo, aproveitando o dia das celebrações pelo aniversário da escritora inglesa.

DICAS DE LEITURA
 
A data do nascimento de Luís de Camões é uma incógnita e motivo de várias discussões entre os estudiosos. Admite-se, no entanto, que o autor da pedra de toque da literatura de expressão portuguesa tenha nascido a 23 de janeiro, entre 1524 e 1525. Ou seja, estamos no 500.º (ou interstício do) seu aniversário. Ainda que seja escassa uma edição bem cuidada da sua obra completa (a da Nova Aguilar é apenas objeto de alto consumo nos sebos), é possível encontrar disponível alguns bons livros indispensáveis para o leitor interessado em conhecer um pouco da literatura camoniana. Esta seção destaca algumas. Na aquisição de qualquer um dos livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a manter o Letras.
 
1. Os Lusíadas (Editora Almedina; Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, 392 p.) Mostramos essa edição em nossa conta no Instagram no ano de quando foi publicada, em 2016. O livro reproduz o texto integral conforme a primeira edição de 1572. Em capa dura com acabamento em tecido e detalhes dourados, o exemplar adota as mesmas dimensões e uma fonte similar à original com a qualidade superior às edições fac-similares que são ilegíveis por marcas do tempo no papel ou das gralhas de impressão. Você pode comprar o livro aqui. Caso procure por uma edição mais acessível, existe uma da Nova Fronteira, com introdução, notas e ortografia modernizada por Alexei Bueno. Você pode comprar o livro aqui.
 
2. Da Lírica. Exceto a referida edição da Nova Aguilar, não existe até agora uma edição que reúna a lírica completa de Luís de Camões. O leitor encontra várias antologias e recomendamos aqui três delas: a coletânea organizada pelo também poeta português Eugénio de Andrade (Assírio & Alvim Brasil, 72 p.) reúne 54 sonetos recolhidos a partir da edição das Rimas de Costa Pimpão. Você pode comprar o livro aqui. A segunda coletânea reúne uma variedade maior de poemas. Organizada por Carlos Cortez Minchillo e Izeti Fragata Torralvo, com ilustrações de Hélio Cabral (Ateliê Editorial, 224p.) o livro traz 61 sonetos, 4 redondilhas, 1 canção e 2 odes. Integralmente anotada, a edição traz um rico texto de introdução. Você pode comprar o livro aqui. A terceira coletânea é organizada por Richard Zenith (Penguin/ Companhia das Letras, 72p.) e é bastante restrita, uma vez se tratar de uma recolha dos sonetos cuja temática é o Amor, uma deriva que o poeta português colhe da lírica petrarquiana e desenvolve de maneira bastante original, contribuindo ao lado desse e outros nomes do Renascimento para a constituição do imaginário e ideal amorosos. Você pode comprar o livro aqui.
 
3. Teatro de Camões (Oficina Raquel, 271 p.) Organizado, apresentado, anotado e fixado por Márcio Muniz, esta edição reúne os três autos que poeta português terá escrito e encenado entre as décadas de 1540 e 1550. É uma face pouco conhecida de Camões, sempre ofuscada pela sua poesia épica e lírica. Os textos recuperados aqui são: “Auto de Filodemo”, “Auto dos Anfitriões” e “Auto d’El-Rei Seleuco”. Você pode comprar o livro aqui.
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
Ainda Camões. No YouTube encontram o documentário Quem és tu Vaz de Camões? (2002). De corte biográfico e com o depoimento de vários pesquisadores, o filme de Maria Júlia Fernandes refere os episódios mais marcantes da nebulosa vida do poeta e com análise do épico Os Lusíadas. Veja aqui.
 
Especificamente sobre Os Lusíadas, fica o registro deste outro documentário também da RTP 2. É parte de uma série intitulada “Grandes Livros” (2009), com direção de João Osório, e passa em revista a história do livro, como sua constituição como peça essencial da cultura portuguesa, e analisando algumas de suas passagens mais emblemáticas. 

No Twitter, disponibilizamos um fio com a recomendação de alguns livros com o intuito de oferecer uma introdução do leitor pelas principais searas da obra literária (e não) de Virginia Woolf: romance, conto,  ensaio, correspondências. 
 
BAÚ DE LETRAS
 
Em 2009, reproduzimos uma série de três textos que tratam sobre a biografia e uma breve introdução pela obra de Luís de Camões — disponíveis aqui. E em 2013, sublinhamos os 450 anos da lírica camoniana — aqui. E um breve comentário acerca de Os Lusíadas

E ainda na superfície do baú. Marcamos o 25 de janeiro, dia do aniversário de Virginia Woolf, com a tradução desta resenha escrita por ela e que finda por ser um rico retrato do poeta estadunidense Walt Whitman.
 
DUAS PALAVRINHAS
 
É uma ideia constante minha; de que por trás do algodão existe um padrão; de que nós estamos conectados a ele; que o mundo inteiro é uma obra de arte; que fazemos parte dela. Hamlet ou um quarteto de Beethoven é a verdade sobre essa vasta massa a que chamamos de mundo. Mas não existe nenhum Shakespeare; não existe nenhum Beethoven; certamente, enfaticamente, não existe nenhum Deus; nós somos as palavras; nós somos a música; nós somos a coisa em si.
 
— Virginia Woolf, em Um esboço do passado

...
CLIQUE AQUI E SAIBA COMO COLABORAR COM A MANUTENÇÃO DESTE ESPAÇO
Siga o Letras no FacebookTwitterTumblrInstagramFlipboardTelegram

* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.

Comentários

AS MAIS LIDAS DA SEMANA

A poesia de Antonio Cicero

Boletim Letras 360º #610

Boletim Letras 360º #601

Seis poemas de Rabindranath Tagore

16 + 2 romances de formação que devemos ler

Mortes de intelectual