Ricardo Piglia e o que fazer com desprolixidade do real
Por Flavio Lo Presti Ricardo Piglia. Foto: Divulgação de 327 Cuadernos . Quando Ricardo Piglia escreveu Respiração artificial era um jovem desencantado, num contexto assustador. Ele havia abandonado a revista Los Libros , ganhava a vida ministrando cursos particulares e tentava pensar numa questão que aparece obsessivamente na textura do romance: como narrar acontecimentos reais? Ao seu redor, Rodolfo Walsh e Haroldo Conti haviam desaparecido, e um aparato de censura tão difuso quanto ameaçador, filtrava as produções culturais, obrigando as pessoas a escreverem sem assinatura, ou com nomes falsos. Essa experiência se combina com uma sensação registrada literalmente no romance ora citado: a de escrever “porcaria”, o fracasso diante do mandato (não destinado por ninguém além dele mesmo) de ser escritor. Com essa sensação, uma imagem começou a se transformar no germe do romance que foi inicialmente intitulado com um verso de Jorge Luis Borges, A prolixidade do real : a de um homem q