Estranha fruta
Por Vicente Molina Foix O filme começa com uma canção clássica do repertório sentimental, “Estranha forma de vida”, um fado que Amália Rodrigues cantou mas que aqui ouvimos na voz de Caetano Veloso, enquanto no tela vemos um belo jovem com um rosto bastante nórdico reinterpretando-a. Contudo, a miscelânea (ou geringonça, poderíamos dizer em homenagem luso-brasileira, palavra hoje muito usada pelos portugueses), essa miscelânea, digo, não cede lugar no filme de Pedro Almodóvar a uma das selvagens fusões formais e temáticas que o diretor de La Mancha tanto gosta e que tanto influenciou a cinematografia internacional nos últimos trinta anos. Estranha forma de vida , ao contrário, é um breve western de câmara, um diálogo de amor comprimido e sem floreios, um pequeno poema elegíaco em que brilha comoventemente aquele “sentimento trágico de vida” ultimamente tão presente em sua filmografia. E vale destacar, aliás, que, sempre contrariando o que é habitual, Almodóvar, numa fase em que