De Afrodite a Vênus: reimaginando o mito da divindade feminina
Por Giovanni Villavicencio Ó mãe dos filhos de Enéas; volúpia de homens e deuses, [...] a ti quero de sócia na escrita desses versos, que sobre a natureza das coisas tento compor — Lucrécio* Vênus deitada numa concha. Afresco de Pompeia. Ao nos aprofundarmos na literatura greco-romana, a primeira coisa que descobrimos é a importância dada às deusas no interior dessas sociedades. Essa cosmovisão foi posteriormente rejeitada pelo cristianismo, pois embora a figura de uma divindade feminina tenha sido preservada, ela perdeu sua condição de deusa para ocupar um lugar secundário como a mãe de Cristo. Hoje gostaria de refletir sobre as continuidades e rupturas do mito da divindade feminina na antiguidade clássica, abordando o caso da deusa grega Afrodite e sua equivalente romana, Vênus, através de uma série de “reimaginações” de textos clássicos. Embora ambas as tradições vissem essa divindade como a deusa do amor, cada uma deu a ela traços específicos que se escondem sob a aparente