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Sobrevivendo ao Livro do desassossego de Fernando Pessoa

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Por Pablo Sol Mora Fernando Pessoa numa rua do centro de Lisboa. Arquivo Casa Fernando Pessoa. Em 2007, depois de alguns anos nos Estados Unidos e após terminar minha tese de doutorado, decidi dar-me um ano sabático para ler e escrever a meu contento. Eu vinha de um longo período de muito trabalho, durante o qual havia lido, sobretudo, com fins acadêmicos; na realidade, mais do que verdadeiramente ler, “trabalhava com”, típica deformação do filólogo. Desejava recuperar minha antiga liberdade de leitor, quando lia voraz e desordenadamente o que queria, sem nenhuma obrigação e sem nenhuma pressão — porque sim.   Com esse propósito retirei-me, frayluisianamente, 1 a Coatepec, um povoado perto de Xalapa. Ali haviam vivido meus avós, em um velho casarão onde ninguém mais vivia (o mesmo em que agora, dez anos depois, escrevo estas linhas). Fiz alguns reparos, modernizei-o um pouco e tranquei-me a ler. Naturalmente, minha intenção era aproveitar o tempo para levar a cabo “grandes leituras”,