Os abismos, de Pilar Quintana
Por Gabriella Kelmer Pilar Quintana. Foto: Victoria Iglesias Em Os abismos , de Pilar Quintana, os infelizes núcleos familiares, ao contrário dos que ocuparam as páginas de Tolstói, têm muito em comum. Em meados dos anos oitenta, na cidade de Cáli, localizada em um úmido vale no sudoeste da Colômbia, as angústias e dilemas experienciados em primeira pessoa pela menina Claudia reproduzem-se nas vidas que a rodeiam. A repetição de temas, executada ao longo de toda a narrativa, parece ser elaborada com vistas a evidenciar problemas geracionais e de época, vinculados à frieza das relações familiares em um excerto da classe alta colombiana, cujas mulheres se esvaem nos matrimônios, nas gravidezes indesejadas e no eterno tédio doméstico. Claudia, fruto de um casamento arranjado e da herança de mortos impassíveis, a quem conhece apenas por porta-retratos, tem oito anos e muitas histórias sem final feliz. Ela sabe, pelo que ouve da família, que a avó materna afirmava abertamente não ter de