Não! Não olhe! Até onde vão nossas formas de ver e fazer cinema?
Por Alonso Díaz de la Vega Se o olhar é a razão do cinema, o que significa vê-lo e, sobretudo, fazê-lo numa tempestade de imagens? Diariamente, filmamos e fotografamos animais de estimação, mutilações e bolos numa civilização que juntou a retórica democrática com a indulgência do consumismo. Se uma sociedade fascista é formada por soldados e padres, ou uma socialista formada por camaradas e hipócritas, a nossa é de clientes cuja liberdade de acesso à câmera e às redes sociais obedece apenas à função de vender. Olhar para algo e depois mostrá-lo — ações fundamentais do cinema — é lucrar com isso na economia do espetáculo: vender o extraordinário ou o trivial para ganhar fama e aprovação por um tempo e, enquanto isso, ajudar alguma marca a divulgar seus produtos desnecessários. Porém, na história do capitalismo houve um momento em que o visual foi definido como heroico. Em Janela indiscreta (1954) Alfred Hitchcock deu a entender que um voyeur poderia fazer justiça espionando um femin