Dez poemas de Wang Fan-chih
Por Pedro Belo Clara (Seleção e versões)* Ilustração: Ma Yaun I. vento e poeira entram por esta cabana adentro, pequena e de palha há uma manta rasgada sobre a cama se alguém vier, será convidado a entrar posso fazer dois montes de terra para nos sentarmos II. não tenho carvão para me aquecer com um sopro, avivo o fogo alimentado por hastes de salgueiro e cânhamo tenho sake no jarro e o pote de três pernas ainda tem uma para se apoiar III. muitos são os que desejam altos cargos um trabalho que pague o suficiente para encher duas tigelas de arroz é o quanto me basta o fogo que ferve o arroz no pote também aquecerá os meus pés IV. sou pobre, então riem de mim sou tão pobre que o riso alheio encanta-me nenhum boi, nenhum cavalo nenhum ladrão me preocupa V. ando há tanto tempo esfomeado caído no buraco do próprio estômago uma criança perdida, sofrendo — oh, mãezinha, como pudeste dar-me vida? VI. aquele homem e a sua mulher, tão românticos ao crepúsculo… sem