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Roberto Bolaño. Foto: Lola Muriel |
LANÇAMENTOS
Reunindo cinco ficções e duas
conferências, o último livro que Roberto Bolaño deixou para ser publicado chega
aos leitores brasileiros em fevereiro de 2024.
Na véspera da internação que
antecedeu sua morte em julho de 2003, Roberto Bolaño vagou de sua casa no
povoado de Blanes até Barcelona, onde ficava sua editora, com um disquete na
mochila estampada. Nele estava “O gaucho insofrível”, livro que trazia os
últimos contos escritos pelo autor chileno. Seu desejo era entregá-lo à editora
para que o livro fosse publicado em seguida, garantindo-lhe alguma segurança
financeira durante o período que se sucederia ao transplante de fígado, algo
que necessitava fazer com extrema urgência. Na madrugada daquele mesmo dia, no
entanto, Bolaño foi internado com severa hemorragia. Duas semanas depois, aos
cinquenta anos, um dos maiores nome da literatura latino-americana do século XX
estava morto. De fato, a morte é onipresente em
O gaucho insofrível,
desde “Jim”, cujo protagonista, um gringo perdido no México, parece um defunto
em vida, aos cruéis assassinatos investigados por Pepe, o Tira, em “O policial
dos ratos”. Em “Dois contos católicos”, o peso da religiosidade é condensado no
encontro entre um adolescente e um assassino em série. Nas duas conferências
que encerram o volume, o chileno acerta contas com o destino pós-diagnose e com
a mediocridade do público e dos autores de seu tempo. Em “A viagem de Álvaro
Rousselot”, um escritor argentino à procura de si mesmo em Paris ouve de um
clochard de rua que “a única certeza é a morte”. Exceção seja feita, é claro,
ao imortal Roberto Bolaño. A tradução que sai pela Companhia das Letras é de
Joca Reiners Terron.
Você pode comprar o livro aqui.
O relato da infância e da
adolescência de Stendhal, um dos maiores escritores franceses, no ambiente
repressivo de uma família burguesa no final do século XVIII.
A narrativa se estende até a época em que o jovem deixa Grenoble e faz a
descoberta da Itália, para ele um acontecimento extasiante e que o marcaria
pelo resto de sua vida. O autor começou a escrever estas memórias quando já
tinha cerca de 50 anos e estava justamente na Itália. O período vivido em
Grenoble é narrado com muitos detalhes, mas também com uma grande dose de
imaginação. Escrevendo com emoção e sinceridade, indignação e clareza, o autor
acaba por fazer o retrato de um coração rebelde. A mãe, que morreu quando ele
tinha 7 anos; o pai, voltado apenas para suas próprias ambições sociais; a tia,
que parecia ser dedicada somente a crueldades; o avô, de quem se aproxima —
esses são alguns dos muitos personagens da narrativa, que também se ocupa de
acontecimentos políticos e históricos tal como percebidos pelo jovem Stendhal.
Na busca da reconstituição do que considerava importante para seu relato, o
autor valeu-se também do desenho, esboços para registrar cômodos das casas,
seus móveis, ruas, construções, elementos da paisagem próxima e assim por
diante. O texto permaneceu inacabado, não chegou a adquirir uma forma final,
guardando características de um primeiro impulso de escrita, com toda sua
espontaneidade. E só foi publicado muito tempo após a morte do ator.
Vida de
Henry Brulard é colocado por muitos entre as obras-primas de Stendhal, que
aqui se apresenta como um personagem melancólico, inteligente, irônico, radical
e aristocrático, tal como alguns dos jovens heróis de seus romances. Com
tradução de Júlio Castañon Guimarães, o livro sai pela Autêntica.
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Uma edição com nova tradução e
ampla seleção das cartas entre Van Gogh e o seu irmão Theo.
Dos primeiros tempos como aprendiz
de marchand aos últimos dias de sua breve vida de pintor, Vincent van Gogh
(1853-1890) manteve intensa correspondência com seu irmão Theo (1857-1891). São
centenas de cartas, em que Van Gogh compartilha decisões e desesperanças;
comenta as obras dos pintores que admira e os livros que lê; pede tubos de
tinta e reclama da penúria material; mas sobretudo reflete, no calor da hora,
sobre suas próprias telas, que por via da escrita se reapresentam aos nossos
olhos com toda a vibração sensorial e espiritual que Van Gogh lhes imprimiu — e
que a celebridade mercantil dos dias de hoje talvez lhes venha roubando.
Traduzida diretamente dos originais em holandês e francês, esta seleção das
Cartas
a Theo oferece ao leitor brasileiro uma porta de entrada privilegiada para
ingressar no universo do pintor — e para travar contato com um dos grandes
textos que o século XIX nos legou. Organizadas, apresentadas e introduzidas por
Felipe Martinez e Jorge Coli, as cartas são traduzidas por Felipe Martinez e
saem pela Editora 34.
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Édouard Manet visto por Pierre Bourdieu.
Pierre Bourdieu explora neste livro a vida e a obra do pintor francês
Édouard Manet, figura central na revolução simbólica do campo artístico
francês. Dedicado a revelar os mecanismos do mundo da arte, o sociólogo tem
aqui uma de suas contribuições mais importantes. O livro reúne os cursos de
Pierre Bourdieu no Collège de France, entre 1998 e 2000, e um manuscrito em
parceria com Marie-Claire Bourdieu com base em extensa pesquisa documental. Ao
longo de toda a obra, Bourdieu presta atenção aos estudiosos que se dedicaram à
história da arte, enriquecendo sua abordagem sociológica. Elementos até então
restritos à arte vão dando corpo à visada sociológica em que experiências e
materiais se revelam cruciais à compreensão do experimento explosivo conduzido
pelo pintor. A edição de
Manet: uma revolução simbólica conta ainda com um caderno de imagens de obras de Manet e
de outros artistas, além de textos do historiador Christophe Charle e da
crítica literária francesa Pascale Casanova e um prefácio do sociólogo Sergio
Miceli. Tradução de Rosa Freire d'Aguiar e publicação da Edusp.
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Uma nova tradução brasileira para o Rig Veda.
O
Rig Veda é o documento
mais antigo da tradição religiosa indiana e faz parte dos primeiros monumentos
literários da humanidade. Seus mais de mil hinos, cuja fase final de composição
remonta a 1200 1000 aec, são dedicados a diversas divindades do panteão védico.
Foram compostos em sânscrito védico, uma forma mais arcaica do sânscrito
clássico. Não só a composição se deu de forma oral, mas também a transmissão
dos poemas, durante os milênios.
Trata-se
de hinos de beleza intricada e sofisticada, o ponto alto de uma tradição de
louvor que exprime ao mesmo tempo a religiosidade indiana em seus primórdios e
o padrão apurado de sua literatura. Surgido em uma época muito anterior ao
hinduísmo e ao budismo, o
Rig Veda é um dos textos mais importantes para
o estudo tanto da poesia e religião indo-europeias quanto dos seus
desdobramentos em épocas posteriores no universo indiano. A nova tradução
publicada pela editora Mnēma busca preservar as estruturas retóricas e técnicas
poéticas dos bardos, com suas repetições e seus paralelismos carregados de
sentido. Cada hino é seguido de um comentário detalhado, que visa sublinhar
estratégias poéticas nem sempre evidentes à primeira leitura. Um apêndice reúne
de forma sinóptica os principais temas e a fraseologia dos hinos, tão
importantes para a compreensão da poesia oral do
Rig Veda: Hinos a aurora. O livro tem
tradução, introdução e anotações de Caio Geraldes, José Marcos Macedo e Thiago
Mendes Venturott.
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Um dos estudos mais completos
sobre o trabalho de Poty Lazzarotto com a ilustração.
Conhecido pelos murais e painéis em praças e outros logradouros públicos, foi a
atividade de ilustrador que lhe conferiu projeção nacional: foram mais de 170
títulos ilustrados de obras de autores brasileiros e estrangeiros, publicados
por editoras como Livraria José Olympio Editora, Martins e Civilização
Brasileira, entre outras. Criou ilustrações para obras de Machado de Assis,
Guimarães Rosa, Rachel de Queiroz, Gilberto Freyre, Euclides da Cunha e Herman
Melville, e muitos outros. Em Texto e Imagem, Fabrício Vaz Nunes analisa as
relações entre o texto literário e a ilustração de obras de ficção em prosa de
Poty, procurando estabelecer ligações concretas e pertinentes entre as artes
visuais e a arte literária. Para o autor, a atividade de ilustrador de Poty se
apresenta como um vasto campo de experimentações estilísticas, poéticas e
narrativas, as quais procurou analisar em detalhe nos diferentes casos
selecionados e incluídos neste livro.
Texto e Imagem. A Ilustração Literária
de Poty Lazzarotto é publicado pela Edusp.
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A chegada ao Brasil da obra da
francesa Emilienne Malfatto.
No Iraque dos dias de hoje, em
meio a bombas, atentados e uma atmosfera de guerra constante, uma jovem se
entrega a uma relação amorosa mais que proibida com Mohammed. Em seu ventre,
após a morte de Mohammed no front, a vida e a morte. Conhecedora do peso da
tradição, do crime contra a honra que toma forma em seu corpo já marcado por
uma tragédia anunciada, a voz que nos conta esta história não espera por
perdão. É Amir, seu irmão mais velho, quem cumprirá o destino inelutável e
lavará a honra da família. Hassan, o irmão mais novo, pararia, se pudesse, a
mão do assassino. Ali, o moderado, já interiorizou demais as normas para ser
capaz de questioná-las. A mãe, cujos filhos foram criados na mesma prisão a ela
imposta, a tudo assiste distanciadamente. E, por fim, Layla, a irmã mais nova,
aquela por quem se mata, aquela cujo futuro abrigará a memória e o peso da
tradição. Num mosaico de vozes que se entremeiam à voz da narradora enlutada, e
aos lamentos do ancestral rio Tigre, cujo pranto não basta para lavar o sangue
derramado em suas margens, o que se lê é um retrato da sociedade iraquiana, bem
como da condição feminina no seio de uma família bastante tradicional. Tudo se
desenha sob o olhar atento de Gilgamesh, figura central da literatura
mesopotâmica, cujos versos intervêm em momentos cruciais da tragédia. De uma
dureza e crueldade inegáveis, a narrativa também nos enche de poesia e lirismo,
marcas indeléveis da escrita de Emilienne Malfatto.
Que por
você se lamente o Tigre sai pela editora Nós. A tradução é de Raquel
Camargo.
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As múltiplas Havanas de uma Havana
só.
Havana não é uma, mas muitas, muda
com a luz do dia e as tonalidades do mar. Em
As noventa Havanas, a
escritora, jornalista e pesquisadora literária cubana Dainerys Machado Vento
nos leva, através de seus contos, a essas múltiplas cidades contidas numa só.
Pelo olhar feminino das personagens, a paisagem se constrói em experiências e
memória, nos revelando uma Cuba que vai além do senso comum. Este livro foi
produzido no Laboratório Gráfico Arte & Letra, com impressão em risografia
e encadernação manual. A tradução é de Nylcéa Thereza de Siqueira Pedra.
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As memórias de Jean-Claude
Bernardet — pensador e personagem do cinema brasileiro —, apresentadas na forma
insubmissa e intensa que marca seu percurso.
Entre maio de 2021 e junho de
2022, a editora e tradutora Heloisa Jahn fez uma série de entrevistas com
Jean-Claude Bernardet, seu amigo de longa data, como parte do projeto que havia
desenvolvido para construir a (auto)biografia do crítico de cinema. Infelizmente,
porém, Jahn faleceu antes de dar início à redação do texto. Sabina Anzuategui
assumiu a responsabilidade de montar, ao lado do próprio Jean-Claude Bernardet,
o quebra-cabeças criado a partir das conversas entre os velhos amigos. O
resultado é um registro original da trajetória pessoal e pública de um
personagem extraordinário. Abarcando reflexões sobre o período da ditadura
militar e sua influência sobre as artes, além de tratar da infância, da
juventude e do inescapável envelhecer,
Wet mácula traz as memórias (e
seus atos falhos) de Jean-Claude Bernardet, com sua inspiradora vocação para
provocar e desconstruir lugares-comuns. O livro sai pela Companhia das Letras.
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REEDIÇÕES
Estudo de história da cultura
que analisa o impacto das novas tecnologias nos processos de metropolização,
tendo como ponto de partida a cidade de São Paulo e sua produção literária e jornalística
nos anos 1920, os ímpetos revolucionários, a explosão da arte moderna e o
delírio frenético do jazz.
Orfeu, herói da mitologia grega,
era louvado como o celebrante da música, da exaltação e do êxtase coletivo.
Neste estudo sobre o impacto das novas tecnologias nos processos de
metropolização, Nicolau Sevcenko usa as imagens dos rituais órficos como um emblema.
O cenário é a cidade de São Paulo nos anos 1920, quando passava pelo boom de
crescimento e urbanização que a transformaria numa metrópole moderna. O frêmito
das tecnologias mecânicas de aceleração se transpõe para os corpos e as mentes
por meio de celebrações físicas, cívicas e míticas no espaço público. O pano de
fundo: a Primeira Guerra, as tensões revolucionárias, a explosão da Arte
Moderna e o delírio frenético do jazz. Os personagens: a população de um
experimento social em escala gigantesca, na busca de uma identidade utópica.
Orfeu
extático na metrópole é reeditado pela Companhia das Letras.
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Um registro feito de dentro de
uma periferia urbana muito diferente da de hoje. Vinte anos depois, a nova
edição da principal obra de Ferréz é um convite para analisar esse passado recente, para entender o que
mudou e, sobretudo, o que permanece igual.
Desde a primeira página,
Manual
prático do ódio constrói um mosaico de cenários e estados de espírito que
remetem a um espaço-tempo bem definido: a periferia de São Paulo do início dos
anos 2000. Entre os flashes de cenas e personagens, descobrimos que os
protagonistas são Régis, Lúcio Fé, Neguinho da Mancha na Mão, Aninha, Celso
Capeta e Mágico, um grupo de amigos que, após anos tentando melhorar de vida
por meios lícitos e ilícitos, planejam aquele que deverá ser o golpe definitivo
para deixarem a pobreza: o assalto a um banco. O assalto em si, no entanto,
aparece quase em segundo plano. Como escreve Heloisa Teixeira no posfácio desta
edição, “a real trama é a aprendizagem do ódio, do medo e do amor”.
Se em
Capão Pecado, livro que tornou Ferréz conhecido e marcou um novo
momento da produção literária nas periferias, a violência já aparecia como uma
constante, aqui o autor vai ainda mais fundo, mergulhando nos pensamentos desse
grupo de amigos em situação-limite, que arriscam a vida na tentativa de
melhorá-la. Publicação da Companhia das Letras.
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Durante o recesso de final de ano, as edições do Boletim Letras 360º são reduzidas; saem sem as demais seções de costume.
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