Boletim Letras 360º #559
Albert Camus. Foto: Loomis Dean |
LANÇAMENTOS
Inédito no Brasil, Escreva
muito e sem medo é a coletânea da intensa troca de cartas de Albert Camus e
Maria Casarès, um testemunho da busca de dois amantes pela verdadeira
experiência do amor.
Em 19 de março de 1944, Albert Camus e Maria Casarès se conhecem na casa
de Michel Leiris. A ex-aluna do Conservatório de Arte Dramática de Paris,
nascida em Corunha e filha de um político espanhol forçado ao exílio, tem
apenas 21 anos. Ela havia começado a carreira em 1942, no Théâtre des
Mathurins, mesmo ano em que Camus publicara O estrangeiro pela
Gallimard. Na época, o escritor morava sozinho em Paris. Por causa da guerra,
acabou afastado da esposa, Francine, que havia ficado em Orã, na Argélia. Sensível
ao talento da atriz, confiou-lhe o papel de Martha na estreia de O
mal-entendido, peça de sua autoria, em junho de 1944. Em 6 de junho do
mesmo ano, na noite do Dia D, Albert Camus e Maria Casarès tornaram-se amantes.
Esse era só o preâmbulo de uma grande história de amor que só deslancharia de
fato em 1948. Tendo como pano de fundo a vida e as atividades criativas dos
amantes (livros e congressos no caso do escritor; a Comédie-Française, turnês e
o Teatro Nacional Popular no caso da atriz), a troca de correspondências revela
a intensidade do relacionamento, vivida não só na ausência e na privação como
também na compreensão da necessidade dessa separação, no ardor do desejo, na
felicidade dos dias compartilhados, nos trabalhos em comum e na busca pelo
verdadeiro amor, com sua perfeita formulação e plena realização. Sabe-se que a
obra de Albert Camus é atravessada pela ideia e pela experiência do amor. A
publicação desta enorme troca de correspondências revela uma pedra angular de
uma preocupação constante em seu trabalho. “Quando se ama alguém, ama-se para
sempre”, confidenciou Maria Casarès muito depois da morte de Albert Camus;
“quando não se esteve mais sozinho uma vez, nunca mais se estará”. Com tradução
de Clóvis Marques, o livro sai pela editora Record. Você pode comprar o livro aqui.
Pela primeira vez editada no
Brasil, em edição bilíngue o trabalho inovador de Anne Sexton, a
poeta que abriu caminho para gerações de escritoras, em uma seleção feita por
sua filha e executora literária, Linda Gray Sexton.
Quando Anne Sexton tirou a própria
vida em outubro de 1974, ela abandonou um corpo de trabalho que, em menos de
duas décadas de escrita, já lhe havia rendido o Prêmio Pulitzer de Poesia,
estabelecendo-a como uma das vozes mais proeminentes de sua geração. Se você
nunca leu a obra de Anne Sexton, agora conhecerá uma poeta que fala com uma
coragem extraordinária e que se aprofunda em assuntos que eram considerados
inadmissíveis em sua época: traumas de infância e incesto; dependência de
drogas e de álcool; loucura e depressão; masturbação e menstruação; casamento e
adultério; maternidade, filhos e amizade; o desejo de viver e o desejo de
morrer. Esses são apenas alguns dos temas que ela abordou, cada um deles com
ardor, fúria e, ao mesmo tempo, uma clareza contundente. Hoje, essa lista de
tópicos pode parecer banal, mas no início dos anos 1960, tanto nos EUA quanto
na Inglaterra, ela era considerada muito radical. O nome de Sexton é lendário.
Sua poesia é lida em todo o mundo, traduzida para mais de trinta idiomas, e em
seu próprio país permanece como referência para poetas e leitores em busca de
uma percepção crua, vitalidade na expressão e franqueza confessional. Compaixão
sai pela Relicário Edições com tradução de Bruna Beber. Você pode comprar o livro aqui.
O livro de estreia e a obra
mais conhecida de Gloria Naylor ganha edição no Brasil.
Mattie, Etta Mae, Kiswana, Ciel,
Cora Lee, Lorraine e Theresa são as protagonistas deste romance-mosaico formado
por sete histórias interconectadas. Todas são negras e residem na Brewster
Place, uma rua fechada de uma cidade dos Estados Unidos onde fica um conjunto
habitacional que já viveu dias melhores. As mulheres da Brewster Place
foi o livro de estreia e também a obra mais conhecida de Gloria Naylor
(1950-2016), autora que permaneceu inédita no Brasil até esta edição. Lançada
em 1982, a obra conquistou o National Book Award de Primeira Ficção no ano
seguinte. Brewster
Place nasceu de uma transação corrupta entre um vereador e um dono de
imobiliária. Abrigou gerações de moradores — trabalhadores, imigrantes –, que
assim que podiam deixavam o local. O romance começa quando o conjunto
habitacional começa a receber moradores que, por mais que tentem, não conseguem
sair de lá. São majoritariamente negros, vindos de outras regiões dos Estados
Unidos, por total falta de opção. Acabam formando uma comunidade, separada do
restante da cidade depois que uma das extremidades da rua foi murada. Ali,
brotam relações de amizade e atitudes mesquinhas, mas principalmente laços de
família — nem sempre pacíficos. “As pessoas tinham a própria linguagem, a
própria música e os próprios códigos”, descreve a autora. As sete histórias que compõem o
romance expõem a diversidade das experiências de vida das mulheres negras
daquela comunidade. Contam a jornada solitária de uma jovem que engravida de um
homem que não ama, enfrenta a hostilidade do pai e uma vida dura ao lado do
filho; a chegada de uma cantora de jazz que “não só não estava disposta a jogar
conforme as regras, como também desafiava, com seu espírito, o próprio direito
de o jogo existir”; o orgulho de uma ativista dos direitos civis que desafia o
espírito de acomodação ao seu redor; a maré de acontecimentos infelizes no dia
a dia de uma mãe solteira com um marido agressivo e uma filha travessa; a vida
de uma mulher que, desde as bonecas da infância, dedica-se à maternidade; por
fim, os preconceitos enfrentados por um casal de lésbicas. Circulando entre
elas está Ben, um simpático beberrão que atua como zelador e faz-tudo da
vizinhança. Subvertendo estereótipos e o
costume de igualar vozes e experiências das mulheres negras, Naylor cria um
retrato autêntico e vibrante dessas “filhas da Brewster Place” que “eram duras
na queda e tinham coração mole, faziam exigências brutais e eram fáceis de
agradar”. As mulheres da Brewster Place saiu no mesmo ano de outro
monumento da literatura estadunidense, A cor púrpura, de Alice Walker, e
as duas autoras receberam, em 1983, o prestigiado National Book Award,
tornando-se assim as primeiras autoras negras a ganhar o prêmio. Em 1989, o
livro deu origem a uma minissérie estrelada por Oprah Winfrey e, em 2007, a um
espetáculo musical que percorreu várias cidades dos Estados Unidos. Publicação
da editora Carambaia com tradução de Camila Von Holdefer e posfácio da escritora e professora Bianca Santana. Você pode comprar o livro aqui.
Octave é um homem de seu tempo. Vive ancorado no desgosto de sua vida burguesa, em pleno contexto positivista na França da segunda metade do século XIX. Funcionário público e herdeiro, ele contrai um casamento morno, sem vida social intensa… Um belo dia, do nada, uma fada sugere transformá-lo em formiga. Eis que se abre para Octave uma vida com a qual ele jamais poderia sonhar. Por bem ou por mal, a ideia parece valer a pena. Após as experiências intensas de amor e poder, bem como os encontros com a formiga-filósofa, não ao acaso batizada por Octave de “Aristóteles”, sua vida jamais será a mesma. O homem-formiga traz reflexões sobre o relacionamento afetivo, sexual, mas também sobre a violência, os combates e todos os vícios dos homens. Aliás, o uso do termo “homem”, se encaixa bem aqui, pois Ryner se mostra, como de hábito, bastante crítico quanto ao poderio de uma burguesia comandada por homens da espécie burguesa de Octave. Dessa maneira, além de ciência, filosofia, libido, pulsões em meio a combates entre hordas de formigas, as questões de gênero — no âmbito sexual e taxonômico — permeiam também a narrativa, provocando a discussão sobre os mecanismos dos animais ditos irracionais: seriam eles realmente inferiores à espécie humana? Traduzido pela primeira vez em língua portuguesa pelo professor e pesquisador Jorge Coli, o romance é uma das obras precursoras da ficção-científica e que surpreende por sua relevância para o leitor contemporâneo. Escrita em 42 capítulos engenhosamente estruturados, essa história inter-espécie, curiosa pela naturalidade com que os acontecimentos são narrados, traz diversos temas atuais, sob a óptica do narrador Octave Péditant, um “turista da mutação”, segundo Schneider Carpeggiani, que assina o prefácio da edição. Publicação da editora Ercolano. Você pode comprar o livro aqui.
Após 60 anos da primeira edição, livro de Dalcídio Jurandir volta às mãos dos leitores apaixonados pela literatura feita no Norte do Brasil.
Passagem dos inocentes é considerada um ponto de transição no trabalho do maior romancista do Pará, que deu vida a personagens icônicos de Belém e do Marajó no conjunto de dez livros, conhecido como Ciclo do Extremo Norte. A obra é ambientada nas cidades de Muaná e em Belém, tendo como personagens principais Alfredo e Dona Cecé. Na primeira parte do romance, Alfredo viaja com seus pais para a cidade de Muaná onde tem, pela primeira vez, um contato maior com os seus parentes por parte de mãe; e com suas irmãs por parte de pai. Na segunda parte do romance, Alfredo retorna a capital paraense para estudar, mas dessa vez, vai morar na casa de dona Cecé, na Passagem dos Inocentes. O romance gira em torno de Alfredo, que começa a perder a visão idealizada que tinha sobre Belém; e de Dona Cecé, atormentada constantemente pelo seu passado. Passagem dos inocentes sai pela editora Folheando.
RAPIDINHAS
O primeiro Trevisan 1.
Quase oito décadas depois, Dalton Trevisan autorizou uma nova edição para Sonata
ao luar, o seu primeiro livro. Trata-se de uma novela que reúne temas,
personagens e a escrita precisa já revelando o talento do autor.
O primeiro Trevisan 2. O
livro saiu pela Arte & Letra numa tiragem limitada feita de forma
artesanal, com capa em tecido e tipografia e guarda com papel marmorizado. A
tiragem esgotou-se em poucos dias.
José Saramago, o fotógrafo.
A Companhia das Letras promete para fevereiro de 2024 a publicação da edição de
Viagem à Portugal com os registros fotográficos realizados pelo escritor
português para a concepção do livro. trata-se da mesma edição saída em Portugal
no começo de 2021.
Charles Cosac de volta. Oito
anos depois de dizer que colocava um ponto final à editora, o editor anuncia uma
nova Cosac. Assim, sem a parte Naify, tal como se popularizou, e interessada em publicar livros de
arte e de humanidades. O primeiro título da Cosac Edições é uma monografia
biográfica do artista goiano Siron Franco.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1. O mágico, Colm Tóibín
(Trad. Christian Schwartz, Companhia das Letras, 544 p.) Um monumental romance
que revista a biografia de Thomas Mann e um regresso do escritor irlandês ao
gênero depois do também excepcional livro sobre Henry James. Você pode comprar o livro aqui.
2. Coragem, de Carlos Cardoso
(Record, 112 p.). Com prefácio de Celia Pedrosa, um livro feito em diálogo com
a poesia de Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo
Neto; a poesia em constante tensão, contradição e paradoxo. Você pode comprar o livro aqui.
3. Ássia, de Ivan Turguêniev
(Trad. Fátima Bianchi, Editora 34, 96 p.) Publicado pela primeira vez na
Coleção Russinhos editada pela extinta Cosac Naify, a novela de 1857 que tem
como pano de fundo as relações entre as elites russas e os servos e conta a paixão
de um nobre russo pela mulher do amigo volta aos leitores na Coleção Leste. Você pode comprar o livro aqui.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Ponto alto da Festa Literária
Internacional de Paraty em 2023 é o encontro virtual entre Augusto de Campos e Caetano
Veloso. Disponível no canal da Flip no YouTube.
BAÚ DE LETRAS
Na segunda-feira, 20 de novembro, foi
o centenário de Nadine Gordimer. Saiu nesse dia, aqui no Letras,
um texto que passa em revista parte significativa da literatura da escritora
sul-africana que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1991.
Cada um dos livros que integra a
Tetralogia Napolitana foi comentado no Letras na ocasião em que chegava
no Brasil. É possível ler aqui cada um dos textos.
DUAS PALAVRINHAS
O melhor dos escritores está no
que eles escrevem, nos livros. É melhor ler os livros e não encontrar o autor.
— Nadine Gordimer
...
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidade das referidas casas.
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