LANÇAMENTOS
Uma coleção recupera toda obra de Machado de Assis publicada em vida.
Da estreia, em 1861, com a peça Desencantos, ao último romance, Memorial
de Aires, de 1908, passando por obras como Contos fluminenses, A
mão e a luva, Papéis avulsos, Histórias sem data, Quincas
Borba, Dom Casmurro, Poesia completa e Esaú e Jacó, a
coleção reúne 25 volumes, em ordem cronológica, que permitem observar o
percurso de Machado até se tornar o autor de alguns dos maiores clássicos
brasileiros. Há também um volume extra, Terras, testemunho de seu
trabalho como servidor público, função que exerceu por mais de quarenta anos,
tratando de questões cruciais para o país. Com texto estabelecido a partir de
edições revistas pelo autor e apresentações inéditas para cada livro, a caixa
condensa um trabalho editorial de rara envergadura, resultado de um intenso
processo de pesquisa e edição que durou quatro anos e foi desenvolvido por uma
equipe de mais de vinte pessoas, entre designers, leitores críticos,
preparadores, consultores, revisores técnicos e editores. Neste primeiro
momento, a caixa terá uma tiragem limitada de quinhentos exemplares. No
primeiro semestre de 2024, os livros começam a chegar às livrarias de forma
avulsa, também em ordem cronológica. Nas palavras de Hélio de Seixas Guimarães,
organizador do projeto, professor de Literatura Brasileira na Universidade de
São Paulo, pesquisador do CNPq e especialista na obra do escritor, a coleção
contém “as obras-primas que Machado produziu em todos os gêneros que praticou,
mas ressalta também a trajetória do escritor, pelo teatro e pela poesia, pelos
contos e romances iniciais”. Você pode comprar o livro aqui.
A chegada da escritora húngara Krisztina Tóth ao Brasil.
Cada um dos trinta capítulos deste livro corresponde a uma parte do
corpo humano. Uma vez unidos, formam um conjunto sólido — mesmo que à primeira
vista possam ser lidos de maneira independente. Inclassificável quanto ao
gênero, é na abrangência de temas e na recorrência de personagens deslocados
que Pixel alcança sua unidade. Concebendo uma Budapeste mítica como
cidade-símbolo da marginalização, Krisztina Tóth retrata a Europa cindida pela
xenofobia, em uma narrativa tão fragmentada quanto sua sociedade. Pixel sai
pela editora DBA com tradução de Zsuzsanna Spiry. Você pode comprar o livro aqui.
Publicado pela extinta Cosac
Naify na Coleção Prosa do Mundo, sai nova edição do único romance escrito por
Edgar Allan Poe.
A narrativa de Arthur Gordon
Pym provocou reações entusiasmadas de outros escritores ao longo dos anos.
Entre os admiradores que se debruçaram sobre o relato macabro engendrado por
Poe estão Henry James, H. P. Lovecraft, H. G. Wells e Jorge Luis Borges, que o
considerava a melhor obra do autor americano. Jules Verne escreveu uma
sequência (
A esfinge dos gelos) e Charles Baudelaire traduziu o texto de
Poe para o francês. Além disso, é dado como certo que Herman Melville se
inspirou em
Arthur Gordon Pym para criar
Moby Dick. Não é difícil
entender esse fascínio.
A narrativa de Arthur Gordon Pym está à altura
da atmosfera sinistra dos melhores contos de Poe e da precisão de seus poemas.
A história se apresenta como se tivesse sido contada a Poe por um homem
preservado sob o pseudônimo Arthur Gordon Pym. O texto da narrativa procura
verossimilhança nos menores detalhes, como ao descrever a engenharia do navio
ou ao precisar as coordenadas de localização no oceano. Pym é um jovem com
espírito aventureiro que embarca como clandestino no baleeiro Grampus, que
parte da costa leste dos Estados Unidos rumo aos mares do Sul. Seu melhor amigo
é filho do capitão do navio. Proibido de viajar por sua família, Pym se esconde
num compartimento sob o convés para só aparecer em alto-mar, quando seria impossível
devolvê-lo à terra firme. A permanência no esconderijo se prolonga e
transforma-se num pesadelo, enquanto acima de sua cabeça irrompe um motim. Os
dois amigos se unem a um amotinado arrependido e partem para a retomada do
controle do navio — o que envolve uma artimanha para se aproveitar da
superstição da tripulação rebelde. Num crescendo de terror, o destino de Pym
será uma sequência de tragédias e passagens insólitas envolvendo tempestades
destruidoras, canibalismo e um navio fantasma. Recolhido por um barco de caça a
focas no mar da costa da África do Sul, Pym participa de uma expedição à
Antártida. No caminho começa uma nova aventura, digna de
As viagens de
Gulliver. O enredo se encaminha para um desenlace espetacular. Poe começou
a escrever o romance depois de ouvir de um editor que o público leitor preferia
os textos longos aos contos, especialidade do escritor. Ele acertou com a
chefia da revista onde trabalhava,
Southern Literary Messenger, a
publicação seriada dos capítulos do romance. A série foi interrompida quando a
revista o demitiu, ao que tudo indica por causa de seus excessos alcoólicos.
Meses se passaram até que Poe, pressionado por dificuldades financeiras,
terminou o romance. O livro saiu em julho de 1838 pela editora Harper &
Brothers. Com tradução de José Marcos Mariani de Macedo e posfácio do escritor
e especialista em literatura de horror Oscar Nestarez, o livro tem projeto
gráfico de Cristina Gu e foi especialmente ilustrado pela artista Elisa Carareto,
em pinturas em tinta acrílica e ponta-seca sobre papel. Publicação da editora
Carambaia.
Você pode comprar o livro aqui.
A editora Record publica dois
autores ganhadores do Prêmio Sesc de Literatura 2023.
1. Na categoria Conto,
O
ninho, de Bethânia Pires Amaro, o livro de estreia da escritora é composto
por quinze contos, quinze pequenas obras-primas, que se aprofundam nas
complexidades das relações familiares, explorando os recantos mais frágeis e
perturbadores que podem habitar um lar. A autora nos convida a acompanhar
personagens femininas que enfrentam mazelas diversas e, através de suas
histórias, somos lembrados de que a casa, esse estranho ninho, não é tão sacra
assim, nem tão segura. A miséria socioeconômica e a fragilidade das conexões
íntimas são exploradas com maestria pela autora, que, para Sérgio Rodrigues —
jornalista e escritor que assina a orelha de
O ninho —, estreia como
“uma das melhores contistas da literatura brasileira”. Esses lares
dessacralizados passam por vícios, suicídios, maternidades disfuncionais,
abusos e violências devastadoramente reais. E, no entanto, a sensibilidade
narrativa de Bethânia Pires Amaro nos ampara com as belezas imperfeitas que
decorrem da tragédia cotidiana, e com a compaixão que corteja o desespero de
vivermos, sempre, uns com os outros.
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2.
Outono de carne estranha, de Airton Souza se passa no contexto da famosa e trágica
Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo, explorada por milhares de
homens na década de 1980. Nessa terra fragmentada pelas enxadas, marcada pela
ganância e pela violência, o romance mescla fatos históricos e ficção para
contar a história de Zuza e Manel, dois garimpeiros que se apaixonam, e
Zacarias, um padre angustiado diante da própria batina. Os três protagonistas
tentam, a todo custo, bamburrar: encontrar uma grande quantidade de ouro e,
assim, ganhar a vida. A escrita de Airton fala as línguas do norte e do garimpo
para adentrar um pedaço da história brasileira que, até hoje, pouco foi
abordado pela literatura — Serra Pelada. A terra úmida, os desabamentos e o
cheiro do garimpo são cenário de uma história em que talvez já não existam
fronteiras entre o sagrado e o profano, entre a morte e o erotismo — constantes
dualismos enfrentados pelos personagens. Apesar de a obsessão pelo ouro e a
truculência dos que comandam o garimpo criarem uma atmosfera violenta,
assassina e solitária, a ternura narrativa abraça seus personagens para que, de
algum modo, escapem à asfixia da repressão, permitindo que amem e sejam amados.
Não é à toa que, para os escritores Joca Reiners Terron e Suzana Vargas, que
assinam a orelha do livro, a paixão entre Zuza e Manel representa “o amor que
encarna a peleja de existir em meio a um grupo moralmente doente, seja pela
ambição ou pelo fanatismo”.
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Coletânea reúne os textos mais
relevantes do crítico Roberto Schwarz, um nome fundamental para pensar a
literatura brasileira e a cultura de modo geral a partir de uma perspectiva à
margem dos grandes centros.
Nas análises precisas de Roberto
Schwarz, a literatura brasileira parece se renovar indefinidamente. Este
crítico se dedicou com afinco a subverter interpretações, mudando para sempre a
maneira de ler a obra de Machado Assis, centro de muitos de seus ensaios. Esta compilação contempla o escopo
dos interesses de Schwarz — de Caetano Veloso a Fellini — e a importância de
seu pensamento, que conjuga cultura e política, ética e estética, sem jamais
ignorar questões de forma e desviando da armadilha de uma análise sociológica
rasa. Não à toa, Schwarz ganhou o epíteto de “maior crítico marxista de nosso
tempo” pelo teórico italiano Franco Moretti, que assina a introdução ao
volume. O
Essencial de Roberto Schwarz sai pelo selo Penguin/ Companhia
das Letras.
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Em seu primeiro livro inédito
depois de ganhar o prêmio Nobel de literatura, Bob Dylan reúne tudo o que
aprendeu sobre sua arte ao longo de décadas de carreira.
A filosofia da música moderna
oferece uma aula magistral sobre a arte e o ofício da composição. São mais de
sessenta ensaios focados em canções de outros artistas, desde Stephen Foster até
Elvis Costello, passando por Hank Williams e Nina Simone. Como fugir da
armadilha das rimas fáceis? Qual o impacto de uma única sílaba na letra de uma
música? Quais as relações do
bluegrass com o
heavy metal? Esses
são alguns dos tópicos analisados nos ensaios, escritos na prosa única de Bob
Dylan. São textos misteriosos, profundos, comoventes e, com frequência, cheios
de humor - assim, embora a música seja sempre o tema central, eles acabam sendo
também meditações sobre a condição humana. O livro inclui ainda mais de cem
imagens cuidadosamente selecionadas, além de uma série de textos menores e
independentes, escritos como devaneios oníricos que juntos formam uma espécie
de poema épico, adicionando mais uma camada ao tom transcendental da obra. Com
tradução de Bruna Beber e Julia Debasse, o livro sai pela Companhia das Letras.
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Um novo romance da portuguesa
Joana Bértholo chega aos leitores brasileiros.
Ao se ver sozinha, de repente,
diante de um mundo imenso, uma mulher decide se livrar de tudo o que não é
essencial. Sem afazeres e reduzindo suas necessidades materiais, agora ela se
dedica a contemplar a paisagem urbana que a cerca, ressignificando sua relação
com a natureza, que se infiltra pelos desvãos da cidade. A partir de então,
passa a perceber o que sempre escapou ao seu olhar apressado.
Natureza
urbana é o novo romance de Joana Bértholo no Brasil e sai pela editora
Dublinense.
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Um clássico absoluto que
oferece caminhos diversos de leitura e interpretação, da sátira pura à análise
política e à reflexão filosófica sobre a nossa existência.
Uma das grandes sátiras da literatura
de língua inglesa,
Viagens de Gulliver vai muito além do imaginário
criado sobre o explorador que se descobre gigante em meio aos diminutos
liliputianos. Parodiando os relatos de viagem em voga na época, Jonathan Swift
constrói uma narrativa especular e corrosiva que usa o sarcasmo de modo genial
para fazer uma crítica feroz à Inglaterra, à monarquia, ao progresso, à ciência
e ao olhar arrogante do colonizador. Como um etnógrafo aprendiz que esquadrinha
culturas consideradas primitivas, Gulliver enxerga nelas apenas a manifestação
do selvagem, do inferior, até perceber as contradições e desumanidades da
sociedade dita moderna, tão ou mais primitiva que as outras. Divertida, amarga
e irônica, a obra maior de Swift é um tratado ácido sobre a civilização humana,
suas relações e instituições marcadas pela hipocrisia, pelo preconceito e pela
ganância. A tradução de José Roberto O'Shea é publicada na coleção Clássicos
Zahar, edição anotada.
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REEDIÇÕES
Nova edição do
romance que valeu a José Eduardo Agualusa o prêmio Fernando Namora em 2013, a
colocação entre os finalistas do Man Booker International em 2016 e o
International Dublin Literary Award em 2017.
DICAS DE LEITURA
Na aquisição de qualquer um dos
livros pelos links ofertados neste boletim, você tem desconto e ainda ajuda a
manter o Letras.
1.
A invasão do povo do
espírito, de Juan Pablo Villalobos (Trad. Sérgio Molina, Companhia das
Letras, 224 p.) O escritor mexicano continua a marcar seu lugar entre os
melhores romancistas latino-americanos com uma história cujo enredo feito da
subversão dos clichês da literatura em curso segue e um homem e um grupo de amigos
de idades diversas por uma crise que mistura perda, espera e mistério numa sociedade
marcada por paranoias de extensões variadas.
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2.
As maçãs douradas, de Eudora
Welty (Trad. José Roberto O’Shea, Carambaia, 288 p.) Com este que sempre foi descrito
como a obra-prima da escritora estadunidense fecha-se uma lacuna no mercado
editorial brasileiro. O livro reúne sete contos marcados por personagens que
transitam por quatro décadas pela fictícia Morgana, no Mississipi, entre a
violência, a morte e os preconceitos de vária marca.
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3.
A leste do Éden, de John
Steinbeck (Trad. Roberto Muggiati, Record, 686 p.) O destino dos Trask e dos
Hamilton, duas famílias cujas respectivas gerações revivem impotentes a queda
de Adão e Eva e a rivalidade deletéria de Caim e Abel.
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VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
Recentemente o
Suplemento Pernambuco
publicou trechos da correspondência de Katherine Mansfield; trabalho e
comentário de Talissa Ancona Lopez que podem ser lidos
aqui.
BAÚ DE LETRAS
Quando dissemos que a obra de Juan
Pablo Villalobos é pródiga é também porque podemos destacar outros dois títulos
seus muito bons e já resenhados no
Letras: em 2019,
falamos aqui sobre
Festa
no covil; e dois anos depois,
aqui,
sobre
Ninguém precisa acreditar em mim.
DUAS PALAVRINHAS
O hábito de cobrar da narrativa que diga isso ou aquilo depende do fato
de se acreditar que, quando se narra, é possível dizer tudo, diferentemente do
que ocorre, por exemplo, com a poesia ou a pintura. Mas isso é apenas o sinal
de inadequação de uma cultura eu não sabe forjar para si os instrumentos
adequados para cada função. Com isso não pretendo defender a narrativa pura;
ao que é puro, prefiro sempre o que é contaminado e espúrio. Mas narrar é
narrar, e a narrativa, quando se empenha em contar, já tem sua ocupação, sua moral,
seu modo de incidir no mundo.
— Italo Calvino, Mundo escrito e mundo não escrito
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